quarta-feira, 26 de março de 2008

As cinzas do vovô (parte 1)

Na vida temos que conhecer todo tipo de gente: algumas mais interessantes que rendem horas de risada, outras meio nostálgicas e outras ainda meio desajeitadas, mas quando todas elas se resumem em uma, aí você pode parar de procurar um melhor amigo. E foi assim que eu fiz quando conheci o Kiko, por volta de 1987.
Outro dia ele me liga:
- Rê, tive uma idéia genial.
- Lá vem... Conta Kiko.
- Minha mãe me deu um pote cheio de cinzas de incensos para a minha casa nova e eu vou dar uma festa de inauguração.
- Han, o que uma coisa tem a ver com a outra?
- Simples Rê, vou colocar uma etiqueta no pote de cinzas escrito "cinzas do vovô" e a festa vai girar em torno disso, só que preciso de você.
- (risos) (muitos risos) Pra que você precisa de mim?
- Simples, só você vai saber que as cinzas não são do vovô, mas vai conversar com ele, falar oi para o vaso, rir de algo como se lembrasse dele contando uma história...
- Quer dizer eu serei a louca da festa?
- Não, você será a intriga do pote de cinzas. Como minha amiga mais antiga, ninguém vai desconfiar se você foi ou não íntima do meu avô, se quiser pode até chorar, ou tocar nas cinzas, seria incrível.
- Ah! Kiko, vamos enganar seus amigos? Depois vão me achar maluca, ah! Sei lá.
- Topa, Rê, eles nunca vão saber que não são as cinzas do vovô de verdade.
- (risos) (muitos risos) Como eu chamava seu avô?

quarta-feira, 19 de março de 2008

O verdadeiro Big Fish


Meu pai sempre disse que quando chegasse aos 70 anos viraria terrorista. Pois é, chegou o dia… Terrorista não, mas acho que ele vai virar uma espécie de 007 com Magaiver mesclada com Tio Barnabé.
Sempre dizemos que existem três pessoas no mundo que sabem de tudo, a primeira é o Jô, a segunda o Ronnie Von e o terceiro, é meu pai. O que você perguntar ele sabe, o que você contar ele já viveu, o que você imaginar, ele já imaginou.
Dono de uma criatividade ímpar, tomou seu primeiro porre colocando cachaça com uma seringa nas mangas e as chupava “batizadas”, aprendeu a nadar com seu cavalo aos 6 anos de idade. Teve três mães, mas se diz filho de chocadeira, “se criou sozinho no mundo”. Uma de suas mães queria que ele concorresse ao homem mais bonito do Rio de Janeiro, mas como ele mesmo diz: “Homem que é homem não come mel, come abelha”. Não concorreu. Era um sósia do Omar Sharif com seus traços árabes, neto de libanesa, aprendeu a fumar com sua avó. Com ela, aprendeu também a ler a borra do café. Sempre que tomamos um café turco ele ainda insiste na leitura.
Teve uma época que se comunicava com seres de outros planetas e em outra, tentava pescar. Já leu cartas (tarô) para os amigos, mas a última moda foi construir uma fonte de água com pedras e uma casa de passarinho de vidro, nenhuma delas deu muito certo.
Teve duas filhas, mas queria ter o seu filho homem, macho, árabe, por isso nos dava de presente escavadeiras, empilhadeiras, tratores de brinquedo; nos ensinava a fazer rádio AM e me deu minha primeira e única vara de pescar.
Famoso contador de histórias sempre cativou a todos com suas histórias de personagens que jamais conhecemos, eternas histórias do tempo de faculdade em Ouro Preto, onde roubava galinhas criando um caminho de migalhas de pão até a sua República (República Purgatório, fundada por ele nos anos 60). Histórias do Pinduca, da Miss Paraíba, da Florinda Bolkan, histórias de seu pai com seu cavalo adestrado… Personagens que com os anos foram se tornando nossos amigos imaginários, se todos eles existiram, não sei ainda.
Por isso ele é o Big Fish ou Macarrão, o figurão, como alguns amigos o chamavam, uma figura impossível de ser esquecida ou de passar despercebida, com uma capacidade imensa de fazer amigos e seguidores, cativa a todos pelo seu dom de contar histórias e de encantar com suas fantasias baseadas em fatos reais.
Ainda sonha em criar caranguejeiras adestradas e em ter seu barco e viver velejando.
Outro dia, estávamos almoçando e pensamos em qual seria a música tema de nossas vidas, sem pensar muito ele encontrou a sua trilha sonora:
- A minha eu já sei, é aquela “Ele é o bom, é o bom, é o bom…” Modéstia bem à parte (dele)… Parabéns pai, pelos 70 anos de vida e que novos sonhos venham. Se quiser ser terrorista mesmo, sinta-se à vontade para tal. Como o nosso eterno homem bomba, você merece fazer dos próximos anos o que quiser, mas repense sobre as caranguejeiras...

PS. Big Fish é um filme com direção de Tim Burton, a história do filme é centrada num homem chamado Edward Bloom (Finney), cuja história é contada a partir do ponto de vista de seu filho, William (Crudup). O garoto pouco sabe sobre a verdadeira vida de seu pai, mas, usando a imaginação, ele começa a montar o quebra-cabeças preenchendo os vazios entre fatos reais e histórias fantásticas de proporções épicas que foram contadas para ele.

segunda-feira, 17 de março de 2008

528 horas por ano

Sexta-feira, São Paulo, 19:30, 20:00, 20:10, 21:00, 21:30… É muito tempo para ficar parada dentro de um carro, 2 horas por dia, e em dias caóticos, isso piora.
Comecei a pensar em como aproveitar este tempo… Além dos óbvios: ouvir música, ligar para os amigos, pensar na vida, paquerar o gatinho do carro ao lado, ver a paisagem com olhar de tartaruga, chorar sozinha, me descabelar, ficar apertada para fazer xixi, colocar mentalmente os diálogos em dia…
Pensei que podia aproveitar este tempo para fazer exercícios, limitados, mas exercícios essenciais como contrair o abdômem, os glúteos e a batata da perna.
Assim fiquei por um bom tempo, contrai abdômem, contrai batata da perna, encaixa quadril, respira, de novo… 2 horas assim por dia, achei que pudesse me fazer ter um abdômem, glúteos e pernas perfeitas, sem contar que iria criar o meu próprio DVD com dicas de ginásticas incríveis para otimizar o tempo de trânsito e transformá-lo em algo útil. A academia Curves ia falir com seus 30 minutos por dia… aha! Faça 2 horas de ginástica sem sair do carro!
Mas o resultado foi: mais vontade de fazer xixi de tanto contrair o abdômem, e um sábado totalmente dolorida, minha perna ficou toda adormecida e meu bumbum bem desconfortável.
Acho que o que deu errado foi a falta de alongamento antes e depois dos exercícios que tentarei inserir ainda hoje.
Depois informo os novos resultados da busca por um corpo perfeito aproveitando as 528 horas por ano parada no trânsito.

quinta-feira, 6 de março de 2008

The sound of music

Tá bom, confesso. Eu tenho o DVD da Noviça Rebelde. E tá bom confesso de novo. Vejo sempre. Vejo tanto que descobri que no fundo, no fundo, eu queria o Capitão Von Trapp para mim.
O cara tinha 7 filhos, isso não é legal, mas são crianças adoráveis. Tá, elas cantam demais. Mas o capitão… ah! O capitão, canta também, maravilhosamente bem, e ele tem princípios, é charmoso, encantador, e mora na Áustria, perto das montanhas, numa casa com um lago particular. Ele canta Edelweiss, Edelweiss… Me dá vontade de chorar.
E acho que é este o segredo deste filme, a mensagem que ele passa para gerações e gerações de mulheres, nos fazendo acreditar que o capitão Von Trapp existe.