sexta-feira, 30 de maio de 2008

Aos poucos

As tristezas viram saudades felizes,
Os medos se tranformam em forças para o amanhã,
Os choros ficam mais espaçados,
O sorriso volta no canto, nas cumplicidades das nossas besteiras familiares,
Os deboches renascem,
O peito vai ficando mais aliviado, a respiração mais leve,
As lembranças nos divertem, os sonhos florecem,
As incertezas não importam mais. O que importa são as esperanças de que aos poucos encontraremos o seu lugar no futuro das nossas vidas, na ausência do dia a dia, mas na certeza do seu constante estar ali, nos provendo, nos dando a honra de sua companhia constante.
Pode parecer bobagem minha, mas ontem na nossa primeira gargalhada depois de dias que pareceram anos, senti você feliz também rindo com a gente. Abençoando o provável sorriso voltando, aos poucos.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Velhos hábitos

Todos temos hábitos que nem percebemos. Hábitos, manias, “tics” nervosos, seja que nome damos, são coisas que muitas vezes fazemos na calada da noite, no silêncio da casa, trancados na varanda, dentro do armário, mas sempre escondido de todos.
Não adianta falar que não há nada no mundo que você não faça deste tipo que jamais confessaria ao padre ou ao seu companheiro, pois são coisas que você sabe que é errado, e continua fazendo.
Que atire a primeira pedra quem nunca pecou, quem nunca teve a mania de desencravar pêlo, espremer cravo, passar creme no pé por horas…
Aqui confesso a minha mania inconfessável, eu tenho mania de cutucar o pé com alicate de unha, pronto falei, pésimo hábito, pois não sei fazer direito, e sempre tiro bife, ainda mais daquele cantinho cheio de carninha fresca, me faz até suar, parar e não pensar em mais nada, mas tudo piora quando o alicate é novo.
Já cheguei ao cúmulo de deixar o alicate na casa da minha vizinha, de jogá-lo no lixo, de trancafiá-lo de mim mesma. Sou a tarada do alicate. Posso ficar dias, horas, semanas, meses, futucando os cantinhos da unha do pé. O maior problema é no dia seguinte em que sem conseguir andar, nem colocar sapato, mancando feito mula manca, resolvo trabalhar de havaianas prata, pois sou “in”, antenada na moda, fashion demais, porém neste dia infeliz tem uma reunião surpresa com a diretoria careta do falso mundo do show business. E para poupar olhares indiscretos…
- Alguém neste andar calça 35?

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Vira-casaca

Minha prima Mariana, era flamenguista. Frase estranha, né? Como alguém muda de time? E aos 24 anos?
- Mariana, te dou 100 reais para você virar fluminense. – disse um tio.
Mariana não hesitou, eu queria dizer que demorou horas pensando e pensando, mas não… - Aceito. O flamengo nunca me deu nada e para ser fluminense já saio no lucro. Disse Mariana feliz com sua nota de 100 reais.
Dias depois era dia de Maracanã, com seu namorado, flamenguista roxo. Lá foi Mariana para a torcida de sempre, com sua camisa vermelha e preta, muda, diferente. Algo mudou em Mariana e todos perceberam. Não torcia mais como antes, havia esquecido o hino.
Seu namorado indignado, percebeu algo diferente em sua companheira de tantos domingos no Maraca. E aos poucos foram se afastando. Não existia mais um elo forte entre eles.
Mariana se sentiu livre para torcer pelo seu novo time. Rasgou suas velhas coisas vermelhas e pretas, seus urubus, sua carteirinha…. E comprou tudo tricolor.
Foi estreiar seu novo time no Maracanã, contra o flamengo, era a prova de fogo, torcer contra, ou a favor, ah! Sei lá.
Fluminense perdeu de 3x0.
Mariana chegou para seu tio e quis devolver o dinheiro, não valia tanto sofrimento. Seu tio não aceitou desfazer o acordo. E Mariana continua a vida, em busca de um torcedor do fluminense que aceite seu passado obscuro.
Tadinha, espero que consiga, senão vai virar titia. Nenhum homem aceita tanta traição.

Amigos...

O Pinho escreveu um lindo post sobre meu pai, eu amei. Tinha esquecido da história que ele foi garimpeiro.... rsrsrsr
http://blogdopinho.zip.net/
Obrigada pelo carinho...
beijos

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Pai,


Que dia nós tivemos, hein?
Começou ontem, quando fui te ver no hospital. Falei tanto e você só me olhava. Falei tudo o que nunca havia dito. Acho que foi a nossa despedida. O nosso olhar foi cúmplice da nossa tristeza.
Depois, veio o telefonema que nunca queríamos ter recebido. Eu e Dea, lá, sentadas na ante-sala da UTI perdidas. Não perdemos um pai. Perdemos um ídolo. Tentamos escolher tudo certinho, do jeito que gostaria. Mandamos chamar seus melhores amigos. Amigos que foram sua família de verdade durante estes 28 anos em São Paulo.
Mas, o pior, foi te ver lá, deitado com seu suspensório novo. Já sinto saudades do seu "oi amoreco" seguido do meu "oi paizão". Sinto saudades de te ver no seu cantinho de sempre, no seu computador, se exibindo no seu novo macintosh que nem sabia usar.
Mas tudo foi lindo hoje. Muitas, muitas pessoas. Todas dizendo o quanto a sua alegria de viver era nítida. Todos contando e repassando suas histórias, como você gostaria de ver, relembrando sua vida cheia de fantasias.
Um menino grande, um grande contador de histórias, um grande mestre, um grande engenheiro de minas... Cada um lembrando você de uma maneira.
Fomos para o crematório, como você queria, virar cinza.
Colocamos suas músicas preferidas na cerimônia, mas a que mais me lembrou você foi "Mais que nada". Me fez ver você lá em casa, saindo do banho e cantarolando ela. Você saía tão perfumado. Era a mesma música que você cantava quando roubava no buraco, quando cozinhava... Tão gostoso foi ouví-la e ver todos em silêncio. Ninguém precisava dizer mais nada. Só queríamos te ouvir mais uma vez.
Teremos agora um longo caminho pela frente sem você, sem a nossa maior alegria.
Só queria mesmo que você se lembrasse do que te falei no nosso último encontro. "Obrigada por ser meu pai. Você fez tudo certinho. E enquanto eu viver, sempre irei repassar suas histórias para frente. Pois todas elas foram reais na sua imaginação."
E como bem te conheço, você quis nos assustar, foi embora no mesmo dia que seu pai se foi e que seu avô também. Nada na sua vida foi comum, não seria na sua morte que seria.
Prometemos jogar as suas cinzas nos dois lugares que você mais amava: em uma pedreira e em uma praia. Assim você será para sempre o meu engenheiro de minas e meu menino bronzeado, pescador de histórias.
Por fim, fomos jantar. E alguém falou: "Aposto que agora ele está contando para alguém que aprendeu a nadar com seu cavalo aos 6 anos de idade".
Rimos muito. Choramos muito. Pois falta algo. Falta você.
Vai com São Benedito, meu pai Dito.
Beijos de sua
Corujinha

PS. foto Benedicto Hadad Cintra

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Se eu soubesse

Se eu soubesse rezar, pedia para que cada história sua fosse repetida, pedia para que cada domingo voltasse e riríamos de novo de tudo, comeríamos as suas especialidades culinárias, jogaríamos buraco, e você, como sempre, roubaria e ganharia, pedia para voltar a ser criança e que hoje fosse o dia de pescar na Barra da tijuca.
Pediria que o mundo parasse anos atrás, eu nunca iria crescer e você nunca envelhecer.
Hoje tenho medo dos telefonemas que não foram dados e dos cafunes não recebidos, das promessas não cumpridas e do vazio que não quero sentir.
Se eu soubesse rezar, pediria para alguém te manter eterno, não só nas lembranças. Pediria para o mundo girar ao contrário para voltarmos para o dia em que nos conhecemos, o dia do meu nascimento, aposto que você estava feliz.
Se eu soubesse rezar, faria uma prece bem forte, pediria para meu mundo não minguar e minha fonte nunca apagar. Pediria para este tempo passar, o futuro chegar e tudo se resolver, com você perto da gente, da sua família por quem tanto você fez e que tanto te quer bem.
Pediria para o verdadeiro Big Fish não ser pescado nem levado pela correnteza, imploraria por mais alguns anos com ele por perto.
Mas sem saber rezar só me resta acreditar, confiar, e esperar que meu pai volte para a casa logo, ele não gosta de hospitais, de UTIs e de coisas frias. Ele gosta de histórias fantásticas envolvendo lutas com sucuris e implosões sub-aquáticas.
Mas, se eu soubesse rezar…

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Faça você mesmo por R$ 14,90

Com o passar dos trinta, o cabelo vai (han, han, cof, cof) embranquecendo, inevitavelmente, e existe coisa mais safada que cabelo branco?
Ele nasce grosso, rebelde, espetado, na frente, reluzente. Ele não se contenta em nascer e ficar lá, na dele… Não! Ele quer aparecer, se sobressair, se destacar, se exibir.
E pintar o cabelo, todo mês, haja paciência. Você vai no salão na hora marcada, espera meia hora, sofre, vem alguma pessoa te dar uma CARAS de 2007 para ler, onde provavelmente, a Suzana Vieira estará na capa, servem café ruim, água quente, te deixam ali, sendo humilhada com um avental feio, passam a tinta, te deixam com o cabelo espetado, a raíz cheia de tinta, ninguém fica bonita assim. E ainda te cobram uns 90 reais por este sofrimento. Isso se você não fizer escova, unha, depilação… Nestas horas para passar o tempo tudo é válido.
E de 2 meses para cá me deu preguiça de ir no salão para tal função, aliás preguiça e pobreza. Mas os cabelos (han, han, cof, cof) brancos, não param de vir, nascer, crescer e se reproduzir.
Então tive a brilhante idéia de fazer sozinha em casa:
Pinte seu próprio cabelo por R$14,90. Me pareceu uma idéia brilhante. E vou ensinar passo-a-passo.
• Compre a tinta em qualquer farmácia, eu uso a número 6.
• Chegue em casa e passe o creme antes da tintura…. Isso, assim…
• Depois faça a misturinha e comece a aplicar na raíz.
• Espera 25 minutos e aplique o resto do produto em todo o cabelo.
• Espere mais 10 minutos e lave.
• Agora tire a sua camiseta nova e linda da Zara, pela cabeça ainda com a tinta no cabelo, pois como boa anta, você não pensou nisso antes.
• Isso, manchou a camiseta. (- R$ 49,00)
• Agora toma banho para tirar a tinta.
• Passe a fase 3 no cabelo que é um condicionador que vem com a tinta.
• Lave bem, bem mesmo.
• Ah! Não olhe para o chão, você manchou provavelmente todo o box com a tinta, lave tudo, esfregue o box, pois se secar a tinta, o número 6 da L’oreal fará parte da sua vida para sempre.
• Detalhe, se você esqueceu de tirar a calcinha antes de molhar o cabelo e aquela tinta toda escorreu por ela. (- R$ 25,00)
• Isso, agora seque seu cabelo com a sua toalha linda branca com rendinhas, pois jeitosa do jeito que você é, nem teve paciência de tirar todo o produto do cabelo. (- R$70,00)

Conclusão: acho que minha irmã está certa em não pintar os cabelos, vou parar de chamá-la de Maria Bethânia e parar de implicar. Prometo também parar de chamar minha mãe de Dona Canô, afinal ela terá duas Marias Bethânias daqui por diante. E vivam os (han, han, cof, cof) cabelos brancos.
Pelo menos ainda estão na cabeça, né?