sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Caralho

Meu pai quando falava palavrão, na hora olhava para a minha mãe, que já estava com o famoso "olhar fulminante" em sua direção. Aí, ele, com aquele ar de menino falava:
- Não é caralho, caralho... Não é caralhão, é caralhinho, um caralhinho bem pequenininho. Minúsculo caralhinho. - E ria feito criança por ter dito 6 "caralhos" em uma só frase.
Bobo... Mas até deste diálogo bobo tenho saudades. Caralho.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Horário Nobre

Segunda-feira: na "Tela Quente" de casa, passa o filme "A espera de uma bolinha", por 2 horas, sem intervalo comercial, recheado de emoções e reviravoltas na trama, PTK e Zé se revezam entre coadjuvante e ator principal. A semana promete fortes aventuras e revelações dramáticas.

Terça-feira: o "Toma lá (a bolinha), dá cá (a bolinha)" está com epsódio inédito e hilário, com pulos, gafes, tombos e muito joga e pega, corre e baba.

Quarta-feira: dia de futebol. A bolinha se torna o centro das atenções (de novo), entro no vestiário durante o intervalo, e quando saio vejo que o gramado (também conhecido como minha cama) foi o centro de algo além de um simples bate-bola. Provavelmente um ringue de luta livre ou quem sabe um vale-tudo onde só não vale deixar o edredon na cama, nem os travesseiros no lugar.

Quinta-feira: a minha "grande família", não parece tão grande até a hora de deitar, pois a grandeza dela está no 1,60m da PTK (medida cuidadosamente tirada da ponta da orelha à ponta do rabo) e dos 5.523.354.355.368.365 pêlos de Zé. Ah! A bolinha também dorme com a gente, pois, algum integrante (Zé) da família, acha que ela, mesmo babada, merece descansar no meu travesseiro.

Sexta-feira: o "Globo Repórter" mostra um documentário inédito sobre 2 cães em seu habitat natural, a luta por uma ração importada, a água fresca tomada com todo cuidado para espalhar babas estratégicamente pingadas pela área de serviço inteira, o duelo por uma bolinha leva os cães à exaustão, o sacudir de pêlos após a casa ser varrida e a dura luta para ver qual dos pobres animais selvagens ganhará o lugar nobre dado sofá.

É, acho que o horário nobre da minha vida merece que a atração principal da semana, a ilustre bolinha, seja "perdida" dentro de algum armário por uns dias, pois "Zorra Total", "Altas Horas" e "Fantástico" eu não aguento. Pensando bem, alguém tem um armário que caibam 2 cães amorosos e 1 bolinha babada?

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Varanda Gourmet

Vocês já repararam que agora todos os lançamentos imobiliários do momento tem "varanda gourmet"? Quem inventou isso? E como funciona?
Como sou pobre e não sei cozinhar, imagino a cena assim:
- Mãe, faz um miojo? - grita o menininho.
E a mãe feliz por finalmente ter uma chance para utilizar o cantinho mais cobiçado do apartamento, vai para o quarto, se arruma, passa batom, afinal os prédios tem vista para as outras varandas, corre para a cozinha, pega o miojo, com todo glamour, vai até a "varanda gourmet", cozinha o miojo por 3 minutos, fazendo pose, de avental e tudo, volta para a cozinha, pega a louça chinesa (herança de família), volta para o miojo e serve o alimento feito com amor.
Como disse o Pinho em seu blog: Se eu colocar o George Foreman Grill na sacada, ela vira " varanda gourmet"?
Aliás normalmente, os apartamentos que tem esta varanda, os quartos são tão pequenos, que as pessoas poderiam morar nela, fazer um puxadinho para caber o forno de pizza ao lado da cama ou da TV de plasma de 97'' (tv que na minha casa eu nem teria o recuo necessário para ler as legendas).
E quando você acha que estes empreendimentos imobiliários estão sem novidade, aparece a nova coqueluche do momento que é a "garage band". Sabe aquele cantinho para a garotada tocar guitarra, criar uma banda no sonho de ser um astro do rock, incomodar os vizinhos e tals? Acabou, é, o sonho acabou, pois a "garage band" vem com hora marcada e à prova de som, sua banda amadora toca lá num cantinho que de garagem, só tem o nome.
Vendo tudo isso me faz refletir sobre o mundo que estamos, necessidades que criamos e nos prendemos nelas mesmas. Viramos escravos de necessidades desnecessárias.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

A vida devia ter trilha sonora dos Los Hermanos

"De onde vem a calma daquele cara?

Ele não sabe ser melhor, viu?"

Sempre que ouço Los Hermanos tenho vontade de fechar os olhos e criar na minha cabeça as personagens das histórias. Falta do que fazer?

"E quis ter os pés no chão
Tanto eu abri mão

Que hoje eu entendi

Sonho não se dá

É botão de flor

O sabor de fel
É de cortar."

Não. Queria ser uma destas personagens. Misturo suas estrofes e vejo que de qualquer maneira elas fazem sentido. Para mim.

"Nunca acreditei na ilusão de ter você pra mim.

Me atormenta a previsão do nosso destino."

Onde a música me toca, a poesia deles me comove.

"Pois vá embora, por favor

Que não demora pra essa dor... sangrar"

Nunca fui fã de ninguém, nunca ouvi Menudo, nem sabia suas danças, por isso me intriga, agora que passei dos 30, me ver assim, apaixonada, simplesmente.

"Eu quero paz

Quero dançar com outro par pra variar, amor"

Virar fã, me fez ver que depois dos 30, a gente pode criar novos amores, novos hábitos e novas habilidades.

"Eu não sei por onde foi

Só resta eu me entregar

Cansei de procurar

O pouco que sobrou

Eu tinha algum amor

Eu era bem melhor

Mas tudo deu um nó

E a vida se perdeu

Se existe Deus em agonia

Manda essa cavalaria

Que hoje a fé

Me abandonou"

Depois dos 30, aprendi também que posso escrever além de desenhar, que posso ter tempo para amar, para viver, para trabalhar, para ser esposa, filha, ser mãe (dos meus cães), ser irmã, sem nada anular nada. Aprendi que a vida tem que ser leve e que a vida seria mais feliz se tivesse uma trilha sonora.
E com certeza a minha seria:
"Deixa eu brincar de ser feliz,

Deixa eu pintar o meu nariz"

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Eu tenho medo do "Casual day"

Toda sexta-feira devia se chamar "dia do medo". Pois sabe aquele diretor gordinho que você passa a semana inteira respeitando, na sexta ele vem de camisa pólo com listras horizontais (que destaca ainda mais a falta de boa forma), verde, laranja com detalhes em pink, calça semi bag desbotada e tênis de corrida prateado.
A mocinha do jurídico que trabalha de tailler básico a semana toda, na sexta, Ah! Meu Deus! Vem trabalhar de blusinha regata justa (justa), barriguinha de fora, sutiã aparecendo, calça justa (justa) e chinelinho hype, o que a torna a sensação dos fora de forma de camisa pólo com listras horizontais e, neste dia, almoçam juntos se achando pessoas camufladas na multidão da cafonice, amarradas, presas nos próprios modelitos impróprios para nossos olhos até então sãos.
Fico pensando o que se passa na escolha da roupa de sexta-feira. O despertador toca, a pessoa acorda, e diz: "Oba, hoje eu posso vestir o que eu quiser e bem entender". E o pior é que veste mesmo.
Queria deixar registardo que "Casual day" não precisa ser seguido ao pé da letra, dia casual, não significa dia no salve-se quem puder, nem dia do vista o que der na telha, muito menos o dia do vestir "a roupa" para conquistar o diretor gordinho de camisa pólo com listras horizontais verde com laranja. Combinado?

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Aos 89, ops aos 90 - parte 2

Lembram da história da tia Alice? Pois bem, ela se casará de noiva, na igreja em abril. No seu aniversário de 90. Tá bom? Ou quer mais? Alguém aí vai desistir de ser feliz? Alguém vai dizer que depois dos "enta" é impossível achar seu príncipe encantado? Alguém? Alguém?

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O Gaúcho

Um dia, eu, minha irmã e minha mãe passeando pela Santa Clara, 33 (um edifício cheio de boutiques em Copacabana), achamos uma lojinha: Canto do Gaúcho.
Vendia umas bolsas de palha, tinha a bandeira do Rio Grande do Sul, mas estava vazia, ninguém para nos atender quando entra um homem com bombacha e chimarrão na mão falando:
- Bah, Tchê, bem vindos ao Canto do Gaúcho.
Olhamos para o homem paralisadas e só com olhar nós 3 não conseguimos conter a risada.
Era meu tio, que de gaúcho nunca teve nada.
Minha mãe tentando disfarçar, pergunta:
- Mas desde quando você é gaúcho? Nossa, verdade? Não sabia…
- Bah, Tchê, sempre fui gaúcho, tu não sabias? Bah, Tchê!
E a gente tentando conter o riso enquanto a minha mãe se aprofundava no mundo do gaúcho.
Imaginei ele lá, na lojinha dele se fazendo de gaúcho por anos e anos, interpretando um papel para vender seus produtos e torcendo para que parentes debochados como nós, nunca passássemos por lá para desmascará-lo. Saimos de lá sem entender muito bem a história e ao mesmo tempo descobrimos que ele foi empresário do Roberto Carlos. Han?

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Inspiração

Preciso me inspirar
Inspira-expira
Respirar
Acordar para a verdade
Realidade distorcida de uma
Incurável otimista e pessimista ao extremo
Vivendo nos extremos
Do riso às lágrimas
Do fundo ao raso
Mas nem no fundo
Nem no raso
Achei a inspira ação para inspirar e expirar

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Toda rotina tem sua beleza

Vendo a propaganda da Natura, que fala "toda rotina tem sua beleza", pensei na minha rotina, e não vi nada de poesia ou beleza, como na propaganda...
Acordo, tomo café, banho, alimento meus cães, me arrumo, vejo Ana Maria Braga, anoto receitas que nunca farei, pois não tenho fogão, desço com meus lindos peludos e caminho em torno de 30 minutos com eles, vou na pracinha, onde tem uma muretinha que a PTK adora que eu suba nela para ela me pegar, brincadeira boba, que me faz chegar em casa com a língua no pescoço, me arrumo, pego o carro, meu controle da garagem não funciona e o porteiro nunca me vê, perco uns 3 minutos ali, buzinando, chorando, gritando. Trânsito, vou trabalhar, chego no trabalho e começa o ritual "pirar o sistema", passa crachá, abre porta, catraca, corre, bom dia e sento.
Respiro fundo e começa o dia rentável e pouco útil para a minha vida real. Às 19h quando saio, minha vida volta ao ponto onde parou. Respiro de novo, encaro o trânsito, horas depois chego em casa, recebo a minha festa particular canina... Desço com eles, pracinha, subo na mureta, desço, língua no pescoço. Subo, boa noite. Jantar para os peludos, varro a casa, arrumo tudo, lavo louça, faço café para os porteiros, banho, lavo cabelo, seco, leio um livro, vejo novela, jogo bolinha, pego bolinha, jogo bolinha, pego bolinha...
Cadê a beleza da minha rotina?

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Cumpadre


Era assim que eu chamava ele. Ele me chamava de cumadre. Toda segunda durante 1 ano da minha vida, lá estava ele na agência onde eu trabalhava, me recheando de idéias, humor, inspiração e, principalmente, suspiros.
Obrigada "Seu" Ítalo por me fazer tentar ser publicitária, obrigada por no meio de sua noite de autógrafos parar tudo quando me viu e vir todo contente me mostrar sua nova gata vira-lata, obrigada por acreditar no meu talento, por me ensinar e me motivar.
Nestes 84 anos vividos, deixou muitos briefings, story boards, slogans e corações seguidores da sua história e garra.
Sinto nunca ter me despedido, nem nunca ter te dito o quanto te conhecer fez a diferença na minha vida.
Obrigada e até a próxima campanha.

Foto: divulgação

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Um certo Zé

Meu amor se chama Zé, Zézinho, um Zé qualquer, quando o nome foi dado. Um Zé Ninguém ele era. Sem lar, sem saber o que era receber, nunca teve isso, nem nunca sonhou que a vida podia ser outra que a que lhe foi imposta. Uma vida na rua, na luta, na sarjeta.
Ah! Zé. Confesso que te recebi sem braços abertos, olhando torto e pensativa, na dúvida, se mais um amor caberia na minha vida. Será? Mas no mesmo dia seu jeito de cão-gato com seus barulhinhos esquisitos, seu ronronar estranho de olhos cor de mel. Me conquistou. "E agora José? O que faremos?"
Faremos? Nada. Arranjei um lar para você e na hora meu coração ficou pequeno. Como posso te dar? Será que meu Zé Ninguém será o Zé de mais alguém?
Neste ano juntos, vi você sair correndo pela rua, arrebentar 2 coleiras, brigar com todos os cachorros. Me defendeu do mundo. De todo mal que estava ao seu alcance. É o lider incontestável da fuzarca. O mais animado. Que sempre topa a brincadeira, seja ela qual for. O meu Zé que me espera tomar banho com o focinho grudado no box e passa o dia na janela, cuidando, atento à vida alheia.
O meu obrigada, é especial. Pois como um legítimo filho de São Francisco, meu José Francisco faz aniversário em 4 de outubro. 4 anos, talvez. Mais isso são números humanos, que nada significam diante da sua grandeza canina... Em sua homenagem segue a sua oração, a mais bonita que já li.

Oração de São Francisco
Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz. 

Onde houver ódio, que eu leve o amor; 

Onde houver ofensa, que eu leve o perdão; 

Onde houver discórdia, que eu leve a união; 

Onde houver dúvida, que eu leve a fé; 

Onde houver erro, que eu leve a verdade; 

Onde houver desespero, que eu leve a esperança; 

Onde houver tristeza, que eu leve a alegria; 

Onde houver trevas, que eu leve a luz. 

Ó Mestre, Fazei que eu procure mais consolar, que ser consolado; 

compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado. 

Pois, é dando que se recebe,
é perdoando que se é perdoado,
e é morrendo que se vive para a vida eterna.