sábado, 31 de outubro de 2009

Eu odeio feriado

Sabe aquela pessoa chata do seu trabalho que diz: "Feriado só serve para acumular trabalho" ou ainda "Com tanta coisa para fazer, tinha que ter um feriado, droga" ou "Feriado é coisa de brasileiro para não trabalhar", eu sempre odiei estas pessoas, e o pior, elas existem, juro. Já ouvi coisas absurdas deste tipo que me faziam ficar com cara de coxinha, murchar minha alegria e fingir que também estava tão ocupada e preocupada (ah! até parece). Feriado é coisa sagrada para os legais trabalhadores (que não é mais o meu caso), só os chatos odeiam feriado, os chatos ou as pessoas mal amadas.
Pois bem, agora que moro em cidade de veraneio eu passei para o clube dos chatos e mal amados e isso me preocupa muito, feriado para mim virou pesadelo de verdade.
A praia fica suja, cheia, barulhenta, as casas vizinhas ficam lotadas de pessoas felizes demais que chegam na praia e fazem "Uhu!!!", ligam o som no máximo com a música mais cafona que existe e ficam até às 4 da manhã te acordando com risadas exageradas, gritinhos histéricos (aposto que acharam uma barata voadora*) e berros de "vira, vira, vira" seguidos do "tira, tira, tira".
Sem contar que no feriado fico sozinha em casa, pois meu marido trabalha feito louco (tá, são nos feriados que ele ganha dinheiro), então, coloco meu mp3 com músicas calmas, declaro mantras, ohmmmmmm, respiro 30 vezes e ainda assim continuo irritada.
Me diz, eu virei uma daquelas pessoas odiosas mesmo, ou é uma fase? E, dia15 de novembro não será feriado, né? OBA!!!

* nota da blogueira: barata voadora, tema para um outro post.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Velha infância

Hoje senti saudades de uma infância que não foi a minha, não morei em casa com pé de cajú, não tomei banho de esguicho, não ralei meu joelho caindo de árvores, não cuidei dos gatos de rua, não peguei perereca na mão para ver se era gelada, não tenho cicatrizes de pular muro, não cortei o rabo da lagartixa... Podia ficar aqui infinitamente contando coisas que senti falta na minha infância por morar sempre em grande cidade, na metrópole que nos anos 70 eram mais seguras, porém de pedras e concretos, com salões de festas e playgrounds.
Hoje fechando meu portão fiquei parada revivendo esta infância distante que não foi a minha. Três meninas passavam pela praça que tem em frente de casa, voltavam da escola com suas mochilas, rabos de cavalo e uniformes quando viram uma mangueira regando a grama, se olharam, largaram as mochilas e embaixo do sol de meio-dia se deliciaram ali, na água, nos esguichos rodando, corriam atrás dos jatos com seus uniformes e de novo pulavam para pegar mais água, empurravam uma a outra, rolavam na grama e se molhavam mais.
Fiquei ali parada por minutos que pareceram horas, pois lembrei da sensação de roupa molhada no corpo, quis ser criança, me juntar a elas, brincar de pega-pega, esconde-esconde, polícia-ladrão, queimada, molhar meu uniforme branco, revivendo algo que nunca vivi.
Quando acabou a brincadeira, elas pegaram as mochilas e retomaram o caminho de casa, com um sorriso lindo e encharcadas. Eu entrei em casa sorrindo. Sei que a mãe delas vai dar a maior bronca, brigar, esperniar, pois ela não vai entender como essa brincadeira foi importante para elas e para mim.

sábado, 24 de outubro de 2009

Vem Zézinho...


Numa segunda-feira ensolarada, 7 da manhã, calor de matar, resolvemos levar os 4 caninos para a praia. Que ideia feliz. Eu e Renato com Fuka, PTK, Zézinho e Tróia chegamos na praia, cantinho calmo e vazio. Soltamos as coleiras. Que alegria, olha como estão felizes, que coisas mais lindas, olha o Zézinho como está feliz, PTK mordendo as ondas, Fuka surfando e Tróia latindo.
- Renato, você não acha que o Zézinho está indo longe demais?
- Não, ele vai voltar.
- Jura? Onde ele está?
- Filho da ∆@&ƒ*#, corre ele está fugindo.
5 km depois...

... achamos Zézinho em Maracaípe brincando com outros "amigos" que encontrou pelo caminho, eu aos prantos, Renato exausto, PTK mancando, Fuka saltitante e Tróia deitando.
Já sei quem não será convidado para a próxima praia, numa segunda-feira ensolarada, às 7 da manhã.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Daqui para o final do ano...

Na região daqui existe apenas um marceneiro, o Joãozinho. E este Joãozinho que sabe viver, descobri isso e passei a adotá-lo como meu ídolo de infância.
Renato precisa urgente que ele conserte umas janelas para a pousada e liga:
- Joãozinho, e minhas coisas?
- Sabe como é Seu Renato, estava com pouco trabalho e dispensei o pessoal.
- Mas e o meu trabalho?
- Não se estresse que estou fazendo. Daqui para o final do ano está tudo pronto.
- Mas quando você vem aqui? Estou há 3 meses esperando.
- Daqui para o final do ano. Ó, já estamos em outubro, até dezembro se tudo não apertar eu apareço.
- Mas já está pronto? Eu vou pegar.
- Olhe Seu Renato, pronto, pronto, não está, já cortei as madeiras só falta juntar, visse? Mas não se aperreie, até o ano novo está aí.
E assim Joãozinho vive feliz. Daqui para o final do ano tudo se ajeita. E ele fala isso como se estivéssemos no meio de dezembro, e vi, que este stress e esta maneira de ver as coisas com os olhos e a correria de São Paulo é o que faz com que sejamos menos felizes.
Minha irmã me ligou chateada, pois o negócio dela deu uma parada, e eu agora sábia da filosofia Joanesca digo:
- Mas Dea, sigo agora meu guru, o Joãozinho marceneiro, daqui para o final do ano tudo se acerta.
Para que a pressa? O quarto está parado sem janela, sem poder hospedar ninguém, mas para que se estressar? Daqui para o final do ano, tudo tem jeito.
Sei que até o final do ano ele não vai aparecer e aí mudo meu lema junto com ele, "Daqui até o carnaval, tudo tem jeito"...

domingo, 18 de outubro de 2009

Alien, o rebelde

Desde que cheguei aqui em Porto de Galinhas para morar, percebi uma coisa estranha acontecendo comigo. Algo que não devia começou a se rebelar de maneira descomunal, de modo que preciso agora chamá-lo por um nome próprio, como se ele resolvesse ter vida fora de mim, vida paralela, vida independente.
Tudo começou no primeiro dia de praia, ele saiu do meu controle ali, naquele instante, e de lá para cá, cada dia de praia tem se tornado algo que exige muito de mim para educá-lo.
Ele quer ficar livre, solto, da maneira que o vento permitir, ir sentindo as ondas (e que ondas), ele quer mostrar que está ali e que manda no pedaço.
Mas eu me prometi não mais tentar domá-lo de forma tão violenta, com corretivos, ajoelhar no milho, passar ferro, formol, chapa, secador...
É, meu cabelo anda com algo estranho de rebeldia em excesso, querendo ir para Woodstock, fazer parte do movimento Black Power, ser do fã-clube da Vanessa da Matta ou do Wilson Simoninha e a cada dia vejo que o nosso fim será um só, ou ele ou eu sobreviveremos a este ataque.
Que vença o melhor.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Oxê, quanté?

Semana passada fui para Recife passear com uma amiga no Mercado São José, eu com meu jeitinho carioca paulista de ser:
- Oi, por favor, quanto custa isto aqui?
- 25 reais. Respondeu o vendedor da barraquinha com sorriso de orelha a orelha.
Minha amiga me olhou e disse "Não custa nem 10 reais, pergunta com sotaque" e me ensinou a falar direitinho:
- Oxê, quanté? - Mas tem que falar bem rápido.
E para confundir o vendedor pergunta rapidinho o preço de outras coisas:
- E esse? E esse? Este aqui? Oxê. Apontando para todos os lados.
Esta dica preciosa tem sido aplicada em tudo desde então, na praia, na tapioca, nas lojinhas, pagar mais caro por causa do sotaque, oxê, nunca mais.

domingo, 11 de outubro de 2009

Ele sabe, ela desconfia (um conto)

Ela ouvia sim, eu caso, ele dizia não, vamos dar um tempo, ela ouvia os sinos, ele as sirenes, ela acreditava nas meias verdades dele e ele nas meias mentiras dela, e nunca saberiam quais seriam as verdadeiras, quais eram as corretas e certas para se seguir.
Ela com mais de trinta, ele também, ela pintava seus fios brancos, ele deixava todos ali a mostra, afinal era seu charme, passava um ar de confiança. Ela nunca quis contradizê-lo, ele sempre discordava dela.
Num mundo de opostos a vida continua, entre uma acomodação daqui, uma mentira dali, uma incerteza sempre a batucar, pois em que mundo ela e ele se completariam como nos contos de fadas.
Fadas? Elas não existem - ele berrava com ela.
Han, han - ela aceitava para não discutir.
Mas o sonho existe em algum canto das diferenças. Ela sempre se perguntou o que aconteceria depois do sim, do felizes para sempre, porque as histórias não continuam, não mostram os filhos nascendo, os cachorros ficando velhos, o amor amornando. Depois do sim acaba a vida?
Ela sempre via "E o vento levou..." na esperança dela construir seu próprio final onde Scarlett acha uma maneira de ter Rett Butler de volta, já que "Tomorrow is another day".
Ele, achava que era tempo demais para perder vendo este filme, afinal em 4 horas se pega um avião e voa até muito longe. O cálculo de horas para ele era diferente também do cálculo de tempo dela.
Ela ria de si, ele ria dela. Ela ouvia os conselhos da sogra, ele odiava sua mãe. Ela aceitava tudo pois depois dos trinta, pode ser a última chance de se ter uma família.
Triste - ele pensava.
Determinação - ela retrucava.
Assim o medo da mulher balzaca entregue ao relento de uma vida solitária, enquanto ele poderia procriar até muito mais tarde, aliás quanto mais tarde e melhor sucedido, melhor seria seu passe. Ela os anos não ajudavam. Menopausa uma palavra não tão distante, infertilidade também, morrer sozinha dava arrepios.
Enfrentar, aceitar, se calar. Se rebelar, enrraivecer, crise choro, pânico. Postura reta, carro esporte, jogar squash. Quãos absurdos podem ser os desejos dele e dela. Lá de perto alguém via e tentava dar conselhos, mas o melhor conselho é que o dia passa, o tempo voa, e tudo na vida tem fim. O fim? Só ele que descordava e ela que concordava, era enfrentar uma nova vida. Outra vida. Que vida? Só ele poderia saber. Ela imaginava. Ele estava meio calvo em cima, em poucos anos seria careca. Ela uma lipo e uma andada no parque.
Planos feitos tchau sem sofrimentos, nenhuma dor dura para sempre.
Ela descobriu diversos talentos, ele que a calvice era inevitável e que sentia uma barriga apertando sua cintura. Ela aceitou a idade, ele se escondia dela. Ela ouviu sirenes, ele sinos. Era tarde. Era bem tarde. Tarde demais para se lembrar dos motivos, das meias verdades, dos contos de fada. Era hora do destino aparecer e cuspir na sua cara "Você não tem mais 20 anos, moço" e ela ouvia o destino dizer "Melhor a cada dia".
Dia, tempo, horas, ela tinha de sobra, sem preparar o banho especial das quintas-feiras dele, nem engomar suas camisas, tempo, era algo que lhe sobrava agora com salão, depilação, caminhadas, yoga, reunião da Tapeware. Qualquer lugar é lugar, qualquer sorriso é simpático. Ele? bem, esquece, não vale a pena lembrar.