domingo, 28 de março de 2010

Eu não queria ser um animal nordestino

Um homem e seu cavalo param em um bar, pendura a conta, o dono do bar não gosta, afinal o homem do cavalo fica devendo R$ 12,30, tudo isso, R$ 12,30! O dono do bar então como vingança, enfia um pedaço de pau pelo ânus do cavalo do homem que não tinha R$ 12,30 e deixa lá, o cavalo agonizando de dor até a morte, o dono do bar deve ter dormido tranquilo naquela noite, pois se sentiu vingado, sentiu que recebeu de volta seus R$ 12,30.
Minha vizinha criou um cachorro por 13 anos, um dia ela me chama: "Renata, acho que minha cachorra vai morrer, foi para a beira da piscina e está sofrendo" Eu mais que prontamente me ofereci para chamar a veterinária, ou levá-la lá, mas ouço "Nada, já gastei muito com ela, deixa ela morrer", uma semana depois eu ainda indignada pergunto pela cachorra e ouço "Continua lá, deitada". Nada foi feito, pois gastar com uma cachorra velha que viveu 13 anos em uma família seria quase que um pecado, e o pecado não seria deixar a cachorra sem nenhum consolo? Conforto? Amor?
Certo dia meu marido achou um cachorro na rua muito doente, pegou o coitado e levou ao veterinário, ele só queria que a veterinária desse uma injeção para ele morrer em paz, a veterinária olha para o meu marido carregando um cachorro visivelmente doente e diz "Sai daqui com este cachorro doente, ele vai contaminar meu consultório" Que juramento fazem os veterinários mesmo?
E sabe o que é irônico disso tudo? Que a cidade tem São Francisco espalhado por todas as lojas e casas. Na casa da vizinha tem um bem grande, lindo, de barro, deve ter custado mais caro do que uma consulta veterinária.
Ufa, fica aqui minha revolta e só um último pensamento: será que um dia vamos aprender com os animais como viver em sociedade? Será que vamos aprender a dar amor e receber sem pedir nada em troca? Será que nós os "seres racionais" somos mesmo racionais?

sexta-feira, 19 de março de 2010

A última vez


É, hoje você faria 72 anos. Lembro do seu aniversário de 70, fingimos que não seria nada demais, apenas um almoço no shopping, você acreditou, te dei a trilogia dos Piratas do Caribe, você olhou torto e trocou pelo Lost no mesmo dia. No dia seguinte fizemos sua festa surpresa, que surpresa para você. Acreditava que ia pagar almoço para todos no Rubayat, vieram muitos amigos, foi especial.
Veio o tio Paulinho do Rio, Clarinha te deu um livro de extra-terrestres que você ia adorar ler, Americo chegou cedo com a esposa, veio aquele homem de nome e sobrenome, você ficou todo orgulhoso, a família toda do Rio e a gente de casa. Você estava tão feliz. Lembro da roupa que usou, uma camisa listrada azul, lembro da roupa que usei, um vestido cinza, a sua cara de susto com a festa e se para você homem não chora, você choraria, eu quase chorei, mas eu sou manteiga derretida, choro por tudo. Era sábado de Aleluia. Aleluia. Eram seus 70 anos, e quem diaria que o último aniversário seu com a gente.
Sou muito esquecida, mas lembro de cada dia que se passou depois disso. Lembro do último presente que você me deu, um bichinho de pelúcia, feio que só ele, que ganhou de brinde no mercado. A cachorrada destruiu ele, e mesmo assim eu guardei com tanto carinho, por tanto tempo como se fosse uma jóia. Ah! E nosso último almoço juntos? Você fez um robalo, o melhor robalo que já comi, tavez eu nunca mais coma outro, pois o gosto daquele está ainda na minha memória.
A última vez que te vi acordado, no hospital, você na UTI, se recusava a deitar na cama, "quem deita na cama morre", você dizia, te ajudei a tomar sopa, fiquei zoando sua camisola florida, quando fui embora olhei para trás, me deu vontade de voltar correndo e te dizer que te amo, mas você estava com dificuldade para respirar e fui embora. Nossa última troca de olhar foi assim, sem saber se ela seria tchau, até logo, adeus, até breve, nunca saberiamos.
E hoje no seu aniversário, penso em quantos últimos momentos vivemos na vida sem saber que são últimos, sem saber que jamais viveremos aquela situação com aquela alegria, com aquela paz de saber que tudo está onde devia estar, no seu devido lugar, tudo está como conhecemos, como a vida devia ser, sem perdas.
Depois que você se foi, não sei mais como a vida deveria caminhar, que rumo ela deveria tomar, que bifurcação pegar, só sei que caminho, tento caminhar com as últimas lembranças suas.

domingo, 7 de março de 2010

Um amor de verão

Ah! Com o verão acabando me lembro de como era triste esta época do ano, começava a contagem regressiva para as aulas e a vida real. Significava ir embora para São Paulo e deixar lá no Rio minha amiga Lanica, minha tia Helena, minhas primas e um amor ou outro de um verão sempre inesquecível.
Foram amores gostosos intensos, ingênuos, que deixavam uma saudades tão grande que na época de adolescente parecia que nunca mais eu ia me recuperar de tal perda. Parecia que o destino me odiava e o mundo conspirava para eu ser para sempre infeliz. "Ó adeus meu amor de verão". "Trocaremos cartas", "Confidências", "Telefonemas", "Suspiros"...
Que delícia o drama de ser adolescente. Me lembro de um "amor" que eu conheci na Sumol, uma casa de sucos na Figueredo Magalhães com a Barata Ribeiro, trocamos olhares, nenhuma palavra, mas o destino fez com que na mesma noite numa boite (é era boite e não balada, pelo menos não sou do tempo da Discoteca, ufa) estivéssemos lá. Eu atrás dele no balcão pedindo uma água, provavelmente, quando ele se vira com sua cerveja e despeja tudo no meu vestido. Ao invés de desculpas ele me disse "Você, (suspiro) você estava na Sumol hoje." Estava, estava sim (sorriso). Pronto bastou esta coincidência da vida para eu ter certeza no auge dos meus 15 anos que era para todo sempre. Hoje o nome dele? Hum... não me lembro. Foi um verão inteiro de tantas juras, tantas trocas, tantos banhos de praia a noite, mas não lembro mais o nome. Assim como no verão seguinte eu iria conhecer o loiro do jiu-jitsu que morava na Nascimento Silva, tão poético morar na rua que morou Tom Jobim, ele chorou muito quando fui embora, lembro que ele era meio estranho, adivinhava minhas peças no jogo de dominó e guardava as unhas que cortava para queimá-las depois.
No outro verão foi a vez do cigano surdo-mudo que rendeu um post só para ele, depois provavelmente o mocinho que queria fazer exército. Ah! E teve também o futuro cirurgião plástico que partiu meu coração.
Era tão bom quando chegava o verão e esperar para ver que novo amor, no para sempre adolescente, eu conheceria, o que o calor de 40º das praias cariocas iriam me reservar...
Ah! Sabem que mesmo passando dos trinta, sinto falta do tempo em que verão significava mais, muito mais, muito além de dias sem escola e sem horários. Significavam dias felizes para me apaixonar e viver.