quinta-feira, 2 de junho de 2011

Rico, te amo Tota

Tota sou eu, em um apelido que não pegou nunca, eu mesma me dei, mas nunca ninguém me chamou assim. Rico, te amo Tota esteve pixado em frente da casa da minha mãe, no muro ao lado da padaria, onde hoje é uma banca de jornal, pixado com tinta azul, por anos e anos, anos e anos e mais anos, anos que duraram este "amor".
É bom ser jovem e ociosa, né? Lá pelos meus 13, 14 anos estava na rua com meu cachorro Sunset quando passa um menino lindo, uns 4 ou 5 anos mais velho que eu, loiro, olhos azuis, alto, talvez ele tenha me olhado e por isso desencadeou a obsessãozinha (ok, até então obsessãozinha) e não lembro bem porque, mas estava lá na rua sem fazer nada, mocinho loiro passando e lá fui eu seguindo o tal pela rua até descobrir a casa que ele morava.
Depois disso a vida foi mais fácil, a lista telefônica me deu seu número (fixo, celular nem existia), sobrenome, nome do pai...
Liguei. Alô, quem fala? Se era mulher eu desligava (não existia bina), se era homem com voz de moço eu perguntava, descobri 2 nomes, Pedro e Rico, mas não sei porque me encantei pelo nome Rico, tão Copacabana "His name was rico, He wore a diamond..."
Nesta mesma semana ele foi na farmácia pedir um termômetro e berrou para a mãe "Estou com febre" e eu que vivia na janela feito uma "maluquinha" (por enquanto apenas maluquinha) ouvi e desci correndo para comprar o termômetro usado por ele, pensando bem agora com os trinta e tantos anos que me cabem, que coisa mais nojenta, esteve no suvaco dele aquele vidrinho com mercúrio. Mas era só o começo.
Estipulei que dia 15 de março era o nosso aniversário de algo, não era namoro, pois ele não me amava, não era paixão, pois ele não era apaixonado por mim, não era nada na verdade, pois ele nem me conhecia. Mas todo dia 15 passei a procurá-lo. Primeiro contato me apresentei como uma apaixonada por ele, por telefone, foi bem fácil, até ele querer me conhecer pessoalmente e eu praticamente enfartar.
A partir daí resolvi investir naquele amor e fazer da minha vida ociosa algo muito útil e passei a persegui-lo profissionalmente.
Todos os dias eu saía da escola e ia até a casa dele esperá-lo sair ou chegar. Passei a ser íntima de todos naquela casa, revirava o lixo, colava suas bitucas de cigarro na minha agenda que relendo para escrever esta história senti um cheiro meio ruim.
Mas dia 15 eu me superava, mandava cartas, flores, chocolates, telefonava e dizia em alto e bom som "1 mês que te amo", "1 ano que te amo", "1 ano e 3 meses que te amo", "3 anos e 7 meses que te amo", (estão achando muito?), "4 anos e 5 meses que te amo", "5 anos que te amo", "5 anos e 3 meses que te amo", "6 anos e 11 meses que te amo", (cansaram?), "7 anos que te amo", "7 anos e 9 meses que te amo", "8 anos que te amo".
O ano era 1996, eu já estava formada, namorei uns mocinhos neste meio tempo, ele ficou meio careca, já tinha uns 26 anos e eu uns 21 anos. Ele morou na França, e mesmo assim recebia cartinhas religiosasamente datadas (o coitado me deu o endereço).
Ele noivou e desnoivou, me ligou algumas vezes, agradeceu outras pela minha insistência, mas acho que por dó quando completou 8 anos ele resolveu acabar com aquela história, afinal, com a idade isso podia se agravar, virar algo mais psicótico ainda e me convidou para sair.
Quando minha mãe chegou e disse: "Renata, o Rico no telefone" Eu cortei meu dedo, pois estava no meio de um trabalho de kirigami que fazia na época, chupando o sangue que jorrava e falando ao telefone, sentada no chão, pois as pernas desabaram, só pude dizer "Sim, te espero, ok. beijo" e nesta noite fomos ao cinema, jantamos, conversamos de verdade pela primeira vez. Mas eu precisava pensar e fazer este encontro se prolongar "esqueci" no carro dele minha agenda eletônica (é, a modernidade estava chegando) para no dia seguinte ele me ligar dizendo que encontrou a agenda ou eu ter uma desculpa para ligar.
PAUSA: Jogada de mestre, hein meninas? FIM DA PAUSA
Ele ligou, não para falar da agenda, aliás ele nem viu, mandou lavar o carro e nunca mais foi vista, mas isso nem interessava, tinha que fingir que perdi a agenda em outro lugar então... o que importava é que ele ligou para me ver de novo e de novo, e de novo, e de novo, visitei a casa dele, conheci a mãe, veio em casa, isso tudo em 11 dias, estava achando tudo muito rápido, muito apressado ele, poxa, 8 anos depois e "BUM" me pede em namoro? Pedir em namoro já é sinal de algo errado existia com ele. E depois de 8 anos e 11 dias de amor esta história acabou com um singelo: Rico, precisamos ir mais devagar e não sei se é isso realmente que eu quero, te ligo, tá?