sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

"Mas é Carnaval, não me diga mais quem é você"


Sempre que chega fevereiro eu falo "Adoro carnaval", gosto mesmo, de verdade.
Quando mais nova gostava do Carnaval para dançar nos clubes de Araruama com minha amiga Lanica, nos divertíamos tanto e beijávamos tão pouco, pois acho que ficar toda suada, grudenta e com cabelo seboso, não devia ser muito sexy. Mas íamos para dançar mesmo, sabíamos todos os Sambas Enredo das Escolas de Samba, torcíamos e nos deliciávamos com o Carnaval de verdade.
Para mim foram os melhores da minha vida. Éram 4 dias sem mais nada para fazer a não ser dançar, rir, dormir até tarde, tomar sol e acordar para se arrumar para mais um dia de folia.
Sempre éramos nós 4, Lanica, eu, Rê e Dani, mas sempre chegavam agregadas na casa que nos faziam morrer de ciúmes, eram umas meninas dos shorts curtos e dos cabelos lisos e uma nerd que explicava a teoria da cadência do samba no meio do baile. Fugíamos delas. Deixávamos elas no quarto de baixo e ficávamos no andar de cima nos deliciando com a nossa folia e as nossa cumplicidade de tantos Carnavais.
As histórias começavam em um ano, passavam para outro e outro... são histórias que nunca tiveram fim. Nos víamos só no verão, eu morava em São Paulo e durante o ano trocávamos cartas (ai, que delícia receber e escrever uma carta...).
Não bebíamos nada a não ser água. Não fumávamos, não cheirávamos lança perfume, não passávamos protetor solar, mas passávamos água oxigenada nos cabelos. Não sabíamos se seria o último carnaval juntas, mas dançávamos como se fosse. Tínhamos nossas supertições de sandálias da sorte, shorts da moda, blusas segura cecê.
Trocávamos roupas, mudávamos a marquinha do biquini, pois a soneca de dia era na praia e o bate papo no mar de Iguaba, aquele mar sem onda e salgado até dizer chega, que só de entrar doura tudo até o couro cabeludo que sofria, este sofria, pois para ser loira naquela época era muita determinação.
Época boa. Muito boa. Se eu pudesse voltar para algum momento da minha vida seria para um destes Carnavais, com queijo escondido na gaveta, pentes com cheiro de rosas eram moda, sardas que me acompanham até hoje, calcinhas no ventilador de teto e a amizade? Esta nunca mais vai morrer, pois o que vivemos foi muito mais que muitas amigas que se veem todos os dias. Vivemos o nosso Carnaval de samba desengonçado e risada garantida. Para este ano já fiz minha fantasia e fico aqui, contando os dias para sair com ela por aí. Longe de Araruama, mas sempre com as minhas amigas de folia no coração.

Título o Chico Buarque me emprestou...

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Fragmentos

- Então você acha que pode entregar em casa? Preciso no domingo às...
- Ele me disse para não ligar mais pois estava atrapalhando a vida dele, ele me amava muito, mas…
- Coloca 2 colheres de sopa de creme de leite e mistura até ficar no ponto, depois...
- Não mãe, não dá, ela nem era tudo isso...
- Vamos sim, me liga para marcar o horário, vou estar usando...
- Ah! Não acredito. Não, me conta mais, peraí que vou entrar no elevador, já te ligo...
- Mas depois da separação ele virou o cão, fez cada coisa com ela, outro dia...

Fico tão curiosa com os fragmentos de vida que ouço no elevador, andando na rua, na praia, na fila da padaria, fico imaginando como cada história termina, como cada amor foi superado, cada fragmento poderia dar um filme. Adoro conversa alheia.