segunda-feira, 26 de março de 2012

Nem toda feiticeira é corcunda, mas todas nós somos Scarlett O'hara



Quantas vezes já declarei meu amor por Scarlett? Milhares. Mas é um amor simples de explicar.
Quem nunca resolveu que amava alguém apenas quando foi abandonada?
Quem nunca soube ser doce e forte ao mesmo tempo nas diversas etapas da vida?
Quem nunca precisou repor as energias em casa com a família por perto?
Quem nunca amou por anos um bobolhão só porque este bobolhão não estava disponível?
Quem nunca teve que ser forte e ir em frente depois de um tombo sem olhar para trás?
Scarlett é uma visão de mulher dos anos 30, apesar do filme se passar em 1800 e pouco, mas é tão atual que assusta. Me assusta ver "E o vento levou..." e a cada vez me apaixonar mais por ela.
Sua visão otimista do mundo mesmo diante da fome e da guerra é a mesma visão que temos que ter hoje para enfrentar os desfaios, óbvio que não vou sair por aí fazendo vestidos de cortina e me casar com o pretendente da minha irmã para salvar minha fazenda, mas vou sim me montar no salto e como diria meu marido "passar um batom e estar pronta para dominar o mundo", pois somos assim, vaidosas e cheias de auto confiança compradas na liquidação do lápis vermelho. Nada como um vestido novo, mesmo que de cortina ou de uma liquidação de loja boa para melhorar nosso astral. Ainda somos assim.
Ainda levamos o maior fora do amado e no dia seguinte enxugamos as lágrimas damos um pulinho na casa da mãe para repor as energias e adicionamos o dito cujo no Facebook, ou no meu tempo no msn ou no icq, para achar uma maneira de reconquistá-lo. Nada como um dia depois do outro.
Já fui por anos apaixonada pelo meu Ashley. Todas fomos.
Já precisei salvar minha conta bancária da bancarrota usando aquele vestido da liquidação de loja bacana e indo ver o gerente simpático.
Já, já sim, lavourei, ops, varri a casa por horas e na hora H minhas mãos estavam cheias de calos e é uma pena que não usemos mais luvas e coloquei a culpa na musculação.
Já sim fui naquela entrevista de emprego com a cara amassada e as unhas roídas de desespero, mas um bom perfume levanta o astral e uma boa risada disfarça as imperfeições que carregamos.
Todas somos Scarlett, mesmo sem perceber e em diversas situações. E quanto a feiticeira do título, também um pouco... Bem pouco...

segunda-feira, 19 de março de 2012

Ata-me


Este foi o primeiro filme que vi do Almadóvar e foi aos 15 anos. Adolescente indo ao cinema pela primeira vez com um novo namoradinho.
Não é um post sobre filmes, muito menos sobre Almadóvar e sim sobre o namoradinho em questão e o quanto morri de vergonha vendo o filme.
Certa vez em uma prova de matemática o professor faltou e um outro foi escalado para olhar os alunos. Era um moreninho simpático e novo para os padrões da escola. Devia ter seus 26 anos, no máximo. Ficou meio que me olhando, me ajudou com algumas questões da prova. Na verdade até me deu as respostas. Simpático, pensei. Meses depois ele passou a me dar aula de física. Eu estava no 2º colegial, talvez.
No final do ano, para variar, estava toda encrencada com as minhas notas, principalmente nas matérias de exatas. (exatas? ainda se fala isso?). E tive a grande ideia de chamá-lo para me dar aulas particulares depois da escola.
Ficávamos na sala da casa dos meus pais, na grande mesa de jantar estudando. Aprendi muitas coisas... Tantas que passei de ano.
Certo dia ele chegou logo após minha aula de violão, para mais uma dura tarefa de me fazer entender física. Viu meu violão. E resolveu me tocar uma música. Ainda hoje lembro a letra: "Era só uma menina e eu pagando pelos erros, que eu nem sei se cometi, ohohoh". Era início dos anos 90, ainda era moda ouvir Paralamas.
Que mestre. Isto era música para me tocar? Queria dizer tudo. Eu era só uma menina. Se ele iria pagar pelos erros ou chegar a cometê-los, queria descobrir.
Na hora constrangedora do pagamento e do adeus na porta de casa, ele me beijou e me chamou para ir ao cinema.
Nada melhor para uma menina de 15 anos que um professor de física, novinho, charmoso, carioca, que tocava violão. Eu estava no céu. Como ele era espertinho, marcou em um cinema longe do Morumbi, afinal, seria fácil encontrar algum aluno pelo shopping da região, então fomos ao Eldorado.
Acrescente até aqui, professor, mais velho e namoro proibido às escondidas. Era o céus com certeza.
Ele quem escolheu o filme, eu teria na época optado por algo entre Uma Linda Mulher e Darty Dancing. Nunca havia ouvido falar de Almadóvar, mas aos 15, o cinema era só um pretexto para ficar no escurinho, de mãos dadas e dando uns beijinhos. Será que as meninas de hoje são tão ingênuas quanto eu era?
Bem, em determinadas cenas do filme fiquei chocada, encabulada, sem graça. Ainda mais quando não se está preparada para ver algo tão adulto.
Depois do dia do cinema, as aulas continuaram eu o via na escola e não falava nada além do "oi" desengonçado, e quando terminava a aula ele passava no meu prédio para conversar comigo. Era um namoradinho legal. Educado. Não foi nada além disso, afinal ele corria o risco de perder o emprego e eu a cabeça. Ah! Se meus pais soubessem era bem provável que iriam na escola denunciar. Não, eles não iriam, mas iriam me dar a maior bronca. Com certeza.
As férias chegaram, trocamos telefones cariocas, ele também passava as férias no Rio. E um dia ele me ligou e fomos tomar sorvete no Leblon. Depois deste dia, nunca mais o vi. Foi transferido para outra unidade do colégio. E eu? Lembrei dele só hoje vendo Ata-me na TV.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Corridas. Militares. Quinta dançante.

O que uma coisa tem a ver com outra? Vou tentar explicar.
Sempre gostei de correr, tentei diversas vezes, mas nunca tive disciplina, está é a milésima vez que tento começar a rotina, afinal estou em Recife para meu gato Ozzy se recuperar melhor, se fortalecer com a mamãe por perto e o calçadão daqui é incrível, com muitas sombras, vista perfeita e um ipod cheio de coisas boas é impossível não se animar e começar uma corridinha aqui e outra ali entre um remédio e outro felino para espantar o ócio.
Hoje fui na direção de Piedade, passei por diversos prédios de militares, cada prédio lindo e os "porteiros" são uniformizados com aquela camuflagem que não faz tanto sentido dentro de uma guarita beira mar, mas uniforme é uniforme e isto encanta 100% das mulheres. Confesso que gostei. Gosto de ver os militares. E corrida, calçadão e militar me remetem ao Rio e minha infância, nasci na ditadura. Me lembrei do meu tio Antônio, ele não era militar, mas me levava ao calçadão, ele fazia marcha atlética, acho muito fofa esta modalidade, mas nunca ousei tentar, parece meio difícil e ridícula ao mesmo tempo.
Hoje fui no final do dia aproveitar o pôr do sol e lá estavam eles, os militares correndo pela areia com suas cantigas: 1, 2, 3 vou correr e vocês, 4, 5 ,6 bla bla bla bla bla, ou algo parecido, sei que resolvi parar a tal corrida e apreciar a ligação direta que aquela cena me remetia à infância. Sentei e pedi uma água. Começou a tocar Wilson Simonal, mais ditadura e infância que isto impossível, mas eis que passou um senhor fazendo a tal marcha atlética e senti até o cheirinho que aquilo me remetia, um ar nostálgico, um colorido diferente, uma saudade enorme de parar e lembrar com carinho tanta coisa e gente boa que a vida me deu.
A vida me deu por pouco tempo, na infância, este tio Antônio que fazia a marcha atlética, ele era incrível comigo. Me mimava horrores. Me ensinou muito apesar de ter morrido quando eu tinha apenas 5 anos. Morreu vendo o Papa João Paulo II, no Maracanã. Foi triste.
E o que tudo isto tem a ver com a quinta dançante? Nada. Absolutamente nada. Mas passei correndo pelo clube da Aeronáutica de Recife e soube que vai ter a Quinta dançante hoje às 17hs. No cartaz dizia que era "Para dançar como antigamente". E me deixou meio confusa. Quem sai para dançar na quinta dançante que se dança como antigamente às 17hs? Quem? Só os militares. Só eles mesmo. Ê vida boa, hein?

domingo, 11 de março de 2012

Pela janela



Estou passando uns dias em Recife e percebi o que mais me encanta na cidade grande são as janelas.
Gosto da minha casa com janelas amarelas, mas dela não vejo nada, nem ninguém. Na cidade grande é diferente, vejo vidas em quadradinhos, como uma história em quadrinhos ao vivo.
Pode ser resquícios dos tempos de Copacabana na casa da minha tia Helena, onde olhar pela janela era estar perto dela. Ela me contava as novidades das vidas que ela via, me mantinha atualizada dos acontecimentos que eu perdia por morar em São Paulo, ríamos juntas da velha pelada, e lá ficávamos, pois o vento vinha gostoso, o barulho da rua era reconfortante.
Daqui, vejo um casal vendo TV, agarradinhos no sofá, tão gostoso, fico imaginando o que eles estarão assistindo. Em outra janela vejo uma senhora em uma cadeira de balanço, na varanda dela tem muitos pássaros na gaiola, deve ter um barulhinho bom de lá, mesmo sendo contra prender pássaros fiquei imaginando que delícia deve estar ali, com a brisa do mar e o barulhinho bom. Vejo também um moço se trocando, deve estar indo para uma balada numa hora dessas, colocando calça jeans neste calor e pela quantidade de camisas que trocou, deve ter mocinha na parada.
Percebo que a TV está ligada em 80% das janelas, elas são a nova maneira de satisfazer o voyeurismo.
Na janela, me lembrei de um amigo que era meu vizinho dos tempos de adolescente, tínhamos nossos horários, nos cumprimentávamos, acenávamos, até berrávamos um para o outro: "Oooooooiiiiii" e as vezes ficávamos pelo telefone horas nos vendo pela janela e conversando, era o skype dos anos 80. Pela janela conhecia a casa dele, o quarto dele e ele ao meu, às vezes mostrávamos algo específico da casa. Certa vez ele até me ajudou a escolher a roupa para sair. Era divertido.
Gosto de ver vidas acontecendo, porém ficamos cada vez mais presos à janelas digitais dos computadores e seus encantos, nas TVs e seus 200 canais e quando olhamos para fora, vejo vida real, acontecendo. Pela janela me sinto vivendo. Me sinto normal.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Projeto: Sai uruca!



Vou te contar, viu? Colocaram um pé de porco enterrado no meu quintal, só pode ser. Neste último ano só coisa ruim tem me acontecido, minha vontade é sair gritando, berrando, feito louca varrida descontrolada para ver se algo muda.
Em exato um ano fechei minha loja e me enfiei em sociedades que de nada me valeram. Uma loja que só abria nos dias que eu trabalhava, a outra era uma doida varrida que empacotou minhas coisas e desfez a sociedade pois achou que eu achava algo que eu nem sabia o que era (papo de gente doida, abstrai), depois fui para a melhor e mais bem localizada loja de Porto com minhas bolsinhas e a loja vive fechada pois as funcionárias acham que venda é por telepatia. Fiz uma linha de bolsas mais baratinhas para vender na feirinha na barraca de uma "amiga", nunca vi a cor do dinheiro de nenhuma e todas foram vendidas. Bem não pára por aí...
Perdi meu amigo Eric, e até hoje nem temos laudo de IML, advogado, culpado, causa, consequência, indício ou qualquer coisa que valha para acalmar meu coração.
Perdi minha Biscoitinha querida numa bagunça que ela aprontou, indo dar um rolê pelo mundo bem no dia que eu não estava em casa, resultado: encontrou Zézinho pelo caminho dela, e na guerra ele venceu. Está achando que desgraça pouca é bobagem?
Tenho um gato, o Ozzy Osbourne, com uma doença chamada PIF (peritonite infecciosa felina), ele é um gato que sofreu muito, coitado, quando fui levá-lo para castrar a caixinha de transporte arrebentou e no susto ele fugiu, mas não deixei de procurá-lo. Por 8 meses ele viveu na rua até que um belo dia uma protetora de animais de rua achou ele para mim. Foi uma alegria tê-lo de volta. Para comemorar fui bem legal com São Francisco e adotei mais um gatinho, o Lampião. Ah! É. Eu sou uma pessoa legal, não sou? Chegando em casa levei Ozzy no veterinário que me disse: "Ele está ótimo, só com umas perebinhas, nem vou cobrar a consulta, pode ir para casa com ele". Eu fui. Coloquei ele com meus gatos sadios e gordos. Nestes últimos 3 meses ele não ganhou peso, estava meio tristonho, levei de novo na veterinária, só que desta vez em Recife para fazer exames. "Só um probleminha renal, antibiótico". Um mês de antibiótico e nada. Refaço os exames. "Só uma anemia, 15 dias de antibiótico". Nada. Agora descubro que ele tem esta doença aí, PIF, que é uma linda doença que contamina todos os gatos através de uma bactéria que se passa facilmente de um para outro e outro. Em resumo: terei de fazer exames nos meus 7 gatos que restam em casa, pois Ozzy já está internado sem data para voltar e sem muitas chances de sobreviver, e se estes exames derem positivo... não quero nem completar a frase, pois segundo minha veterinária ela é 100% fatal e contagiosa. Tá com peninha de mim? Calma!
Fui indicada para uma vaga em Recife para ser diretora de arte. Opa, tudo o que eu queria.
- Alô, oi, sou amiga dela, é, para a vaga de direção de arte, é, mandei o curriculo, mandei portfolio, sim. E aí?
- Quantos anos você tem?
- 37 respondo jovialmente.
Preciso completar o que aconteceu? Preciso? Mesmo?
Enfim. Acho que só me resta colocar a dentadura no copo, vestir meu penhoar, minhas pantufas e sair por aí falando sozinha, babando e lembrando como eram bons os tempos que eu era jovem, tinha uma máquina de costura que fazia coisas lindas, era feliz e cheia de gatos.
Sai de mim uruca! Vai procurar um novo alguém para azucrinar, vai?