sexta-feira, 20 de abril de 2012

Sobre Havaianas, saltos altos, trens e bicicletas (uma nordestina na cidade grande)

Aqui em São Paulo tenho andado de trem. Trem espanhol que anda pela marginal, duas estações me separam do meu trabalho. Vejo logo cedo moças de terninho e sandálias Havaianas para enfrentarem a caminhada e as longas esperas. Visual inusitado para a cidade grande, achei que chinelos só fossem usados na praia. Mas é melhor assumir que o salto machuca do que andar pelas ruas da Vila Olímpia feito patas com os pés ardendo e espremidos dentro dos saltos que perdem toda a graça. Dá vontade de parar a pessoa e dizer: "Posso dar um conselho? Use rasterinha."
Quem não sabe andar de salto não devia andar, sofrer, ou tentar dar uma de fina. É mais digno. Vejo muitas "patas" andando pela rua na hora do almoço e fico pensando será que elas não ensaiaram em casa antes?
Antes do primeiro salto todas deviam ensaiar um pouco em frente ao espelho, perguntar para a amiga, vizinha, mãe e mulher amiga se está tudo bem, se está bonitinha, andando com naturalidade. Vejo que 80% das moçoilas deviam enrar para a Socil (ainda existe Socil para ensinar as moças a andar, comer, sentar, descer escadas de saia...)?
A parte mais legal do trem é ver o bicicletário que fica na estação. Poxa que bacana ver que as pessoas em São Paulo estão andando de bicicleta, mas fico pensando no valor do seguro de vida destas pessoas que enfrentam o trânsito insano da cidade sem proteção alguma além de capacetes e cotoveleiras. Também fico pensando na suvaqueira que deve ser na sala desta pessoa que chega no trabalho já com um certo ar de banho vencido. Legal, porém nas longas distâncias da cidade, será que vale a pena?
Enquanto isso a carioca aqui, radicada em São Paulo com ares de Nordestina vai andando pela cidade. Nada me estressa, tudo me diverte. A cidade grande encanta, desencanta, o trem cheio me faz rir, as histórias que ouço me levam para outro mundo, paralelo do meu mundo real. As pessoas me perguntam: "Como é a sua vida lá?". Eu respondo: tranquila.
Sigo tranquila em São Paulo, torcendo para este mês passar devagar e eu poder absorver tudo que vejo. Vou flanando. Seguindo. Deixando no cantinho do meu coração a saudades de casa, porém respirando ares que me fazem bem, me fazem ver que existe vida, existe gente, existe tudo isso que um dia eu fiz parte.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

1 mês

Estou indo passar 1 mês em São Paulo, trabalhar no meu antigo trabalho. Três anos me separam do que era a minha vida antes. Antes eu não sabia o que era ser livre, não sabia o que era ter a casa cheia de gatos aprontando, nem sabia que importância o mar teria na minha vida, muito menos o que era estar sempre perto do meu amor.
Não sabia nada. Não sabia que existiam coisas que são mais importantes, coisas que nenhum dinheiro do mundo compra. Não sabia que ficar longe de casa fosse ser tão sofrido, longe dos meus animais, longe do meu Nêgo, longe do nosso dia a dia cheio de emoções... Ontem pulamos o muro para resgatar nossa Little que sumiu no mundo em busca de aventura, jogamos frescobol, ficamos cheios de areia de ficar no mar só curtindo a marolinha, almoçamos crepes, cuidamos da pata da Little, saimos com os cachorros para ver o mar com a maré alta, a lua, e é isto que fazemos sempre, nosso dia a dia é sempre assim, calmo, com horas e horas para a nossa grande família.
Mas ir para o passado em São Paulo vai ser bom, vai limpar aquela angustia que eu sentia quando estava nos últimos dias lá, foram dias horríveis, repletos de falsos sorrisos, choros contidos, medos, traumas. Rever pessoas queridas vai ser bom, rever velhos olhares vai ser péssimo, espero que nestes anos meu coração tenha se livrado dos pesos, creio estar mais leve, mais feliz, mais disposta a encarar de novo o mundo que não me pertence mais.
Sábado fiquei sentada no calçadão com minhas amigas queridas, vendo o movimento da rua, rindo dos preparativos da missa que quase incendiou a cidade, e esta pacata vidinha daqui aos poucos vai me encantando quando me permito não me cobrar tanto, quando permito não exigir muito de mim, e isto é um exercício diário. Não me sentir culpada por estar na praia às 4 da tarde alimentando meus vira-latas da rua, ou tomando um cafézinho repleto de risadas e conversas jogadas fora, ou ainda um vinho com um violãozinho na praça em plena segunda feira. A vida pode nos surpreender. A vida deve nos surpreender. Estou indo para meu antigo posto em São Paulo, por 1 mês. 1 mês com pessoas que amo muito por perto, 1 mês revendo amigos, 1 mês no meu antigo quarto florido. 1 mês, só 1 mês. Beijo 7 gatos, aperto 3 cachorros e meu Nêgo? Vontade de colocar ele na mala, mas ele não vai caber. Me espere mar que estou voltando em breve, esperem meus amores que mamãe já volta, espera meu Nêgo, que sua posinha já vem...