quinta-feira, 21 de março de 2013

No busão

Nunca fui da turma do busão, fui criada cheia de mimos e cuidados, então andar de ônibus para mim era algo fora do meu dia a dia. Porém, esta semana fui fazer um curso em Recife e como agora moro numa vila e não tenho carro, quando vou para a cidade grande tenho que sobreviver ao famoso busão e segue aqui um guia prático de minhas análises da semana:
• ao entra no ônibus, dê bom dia, boa tarde ou boa noite, mesmo sabendo que não será correspondido e antes da catraca, repita a ação, mesmo sabendo que também não será correspondido, sorria;
• se tiver dinheiro trocado, dê, não economize suas moedas, pode ser a sua salvação contra o mal humor do cobrador;
• procure sentar perto de pessoas que pareçam ter bom papo, isto faz o tempo andar mais rápido;
• se não conseguir, procure um lugar longe do sol, lado esquerdo do ônibus antes do meio dia e direito depois (pelo menos na minha rota, pesquise a sua antes);
• se não tiver como sentar, nem pegue o ônibus, espere o próximo, pois nas curvas, nos buracos e inclusive nas freiadas sua coluna vai agrdecer;
• piranha. Tenha sempre uma, se o ônibus estiver cheio por você não ter obedecido a regra anterior seu cabelo pode ficar preso entre as pessoas e isso não é legal;
• procure novos caminhos e novas rotas, é sempre uma surpresa quando o caminho é novo;
• se pela janelinha ver algo interessante na rua, não desça. Lembre-se do lugar e vá outro dia sem compromisso, pois o próximo ônibus vai demorar 40 minutos pelo menos e você, que de longe achou que era uma blusinha incrível, de perto vai ver que ela tinha tecido que dá cecê;
• não caia na tentação de pegar um táxi. Pense na economia de 1 semana de táxi e gaste comprando um novo shortinho lindo na Farm;
• pessoas com celular, evite. A não ser que o papo pareça ser cheio de reviravoltas;
• desça do ônibus duas paradas antes da sua, isso vai fazer com que você chegue com uma carinha melhor no seu destino e ainda emagrece;
• faça amizades no ponto do ônibus. Lá você acaba tendo altas dicas de rotas, apesar de não usar nenhuma sugerida por medo de se perder, mas você fica sabendo que é possível ir além;
• se o motorista resolver não parar onde você gostaria, não adianta berrar, gritar nem ficar dizendo: "Desce, desce". Ele vai te ignorar até ele ter vontade de parar e pronto. Você perdeu sua parada, a sua bela voz e seu ar balsé vai para as cucuias;
• fone de ouvido. Não leve, não use, não, não e não. É tão antipático e é tão gostoso ouvir o barulho, você vai agradecer quando o silêncio voltar;
• livro é bem vindo se não quiser papear, mas não leia se o seu ônibus for aquele que tem uma sanfona no meio, eles pulam muito mais e você pode acabar enjoando ou ficando vesga;
• crianças por perto. Fuja. Por motivos óbvios;
• senhoras de idade. Fuja. Por motivos mais óbvios ainda;
• se você ver que no ônibus tem "aquela" turma de camisetas iguais saindo de uma escola. Fuja. Fuja. Fuja mesmo. E esta é a regra mais importante, pois eles fazem do ônibus uma extensão da hora do recreio. Voa papel, voa. Voa tapa na cabeça, voa. Voa empurrões, voa. E se algo te atingir ouvirá em alto e bom som: "Desculpa aí, tia!"
Aprendi ou não aprendi muito esta semana no curso?

quarta-feira, 13 de março de 2013

Promessas de 2013

Este ano prometi apenas uma coisinha "não ranzizar com a vida". Acordei dia 1º de janeiro e disse para mim: "A partir de hoje nada vai me alterar, me tirar do foco, me deixar brava, nem vou ranzizar com as coisas pequenas". Estou há alguns dias cumprindo isso, duros e longos dias...
Na padaria:
- Moço, este pão é de agora? Tá fresquinho? Tá gostoso? Crocante?
- Tá sim. Quantos vai querer?
- 6.
Chego em casa e o pão é aquele pão que só quem mora em Porto de Galinhas sabe, é horrível, murcho, sem gosto. Respiro, como e não reclamo. Ufa, foi um teste leve, me mantenho na promessa, ilesa.
No telefone recebendo ligação do banco para me vender um plano de previdência:
- Não, eu não quero. Obrigada. Aliás eu já disse isso da primeira vez que vocês me ligaram em 2012 ainda, mas tudo bem, viu? Quero não, obrigada.
- Mas já explicaram o que é este serviço?
- Já sim. É um plano de previdência.
- Não. É um plano de juntar dinheiro que ainda recebe bônus todo mês e em 30 anos você tem uma aposentadoria segura, bla, bla, bla...
- Não, obrigada.
10 minutos depois...
- Não, Sr. Banco, não quero.
- Mas não é um plano de previdência, é um plano de juntar dinheiro que ainda recebe bônus todo mês e em 30 anos você tem uma aposentadoria segura, bla, bla, bla...
- Meu Senhor. Hoje é dia 3 de janeiro e prometi não ranzizar faz 2 dias. O senhor vai fazer eu descumprir minha promessa e brigar com o senhor. Já disse que não, mas muito obrigada.
2 horas depois...
- Não. Eu não quero, seja lá o nome que vocês dão para este serviço. Não, obrigada.
38 dias depois...
- Fala sério? Que parte do me tirem do mailling, parem de me ligar, não encham meu saco, vocês não entenderam? Moça. Eu jurei não me estressar este ano, mas não abusa, por favor.
Hoje em dia... Já decorei o número do banco e não atendo mais as ligações. Ufa parte 2, mais uma vez ilesa, juro que reclamei muito menos do que deveria.
Mas hoje algo me tirou do sério e vocês, amigas, leitoras, queridas confidentes vão entender.
Eu assino um site de horóscopo que me atualiza quase que diariamente com as mudanças do meu mapa astral, ok, como alguém se estressa com o horóscopo? Mas acontece que ele chegou assim: Alerta Vermelho, cuidados redobrados, tome muito cuidado com Marte na casa 7 e a lua na casa 8, não saia de casa, não fale com amigos, não feche negócios, cuide da saúde especialmente nos dias...
Fim do texto! Como assim fim do texto? Que dias? Como vou saber que dia eu tenho que me manter em casa, linda e intacta. Quem pode me salvar? Como vou ficar sabendo o final do texto? Que cara de pau deste site, depois eu ranzinzo e vão dizer que eu não tive força de vontade em manter a minha promessa.
Mando um email para o site: Senhor site, bla, bla, bla, socorro, me digam quais dias devo ficar em alerta máximo.
Resposta do site após 1 semana: Sentimos muito, porém nossas previsões astrológicas são pessoais e intranferíveis, não temos como refazer seu horóscopo daquele dia, peço que continue contando conosco e desculpe nossa falha.
Eu podia ter morrido, brigado com os amigos, falido, ter sido atropelada, pego uma doença grave e jamais vou saber os dias que eu estava correndo este perigo. É ou não é motivo para descumprir a promessa e ranzizar? Ufa parte 3. Estou a zero dias sem ranzizar. Agora vai 1, 2, 3 e valendo...

segunda-feira, 11 de março de 2013

Brincadeira de criança

Nesta atual busca pelo que fazer no que eu chamos de 2º tempo da minha vida, tentei me lembrar do que eu gostava de brincar quando era criança, forcei minha memória quase "amnésica" e me lembrei do meu "escritórinho" da casa da tia Helena, lá era o cantinho oficial das brincadeiras, na verdade é um corredor secundário que liga o escritório de verdade, na época coberto de livros de Direito e de Medicina, para os quartos passando por trás dos banheiros. Ele é cheio de janelas com vista para os fundos de outros prédios com um grande pátio no meio.
Ele era todo bonitinho e meio esquecido do resto sempre movimentado da casa, o que me deixava sozinha por horas e horas. Achando lá no fundico da minha memória o lugar das brincadeiras, veio com ele o cheiro de massinha colorida misturada com cheiro de livros velhos, sabonete, frascos de perfumes vazios e todos os demais cheiros que viravam brincadeiras.
A minha preferida era de professora, arrumava todos as bonecas e ensinava algo para elas, provavelmente contava uma história de Monteiro Lobato, pois neste "escritórinho" ficavam os livros infantis. Li neste cantinho mágico todas os livros da série "Inspetora" e seu grupo de "detetives adolescentes" o nome do grupo era algo com uma coruja de papelão, não lembro ao certo. Eram livros incríveis que me fazia agradecer estar neste cantinho esquecido da casa.
Brincava também de secretária de consultório, onde eu tinha um fichário azul com várias fichas, cada uma de uma pessoa "famosa" Joaquim Nabuco, Santos Dumond, Princesa Isabel... que para mim eram clientes imaginários, com horas agendadas.
Gostava também de ser dona da doceria mais criativa de Copacabana. Meus doces de massinha faziam sucesso, eram muito bem produzidos, com variedades de formas e cores de acordo com os sabores. Cliente imaginário chegava na minha doceria e eu já ia informando os sabores "Tem este de nata com chocolate, este de morango com chantily, este de creme com granulado... Quer provar? Quer levar? Quantas gramas?"
Adorava brincar também de mocinha do banheiro, aquelas de rodoviária, que quando alguém entra distribui o papel higiênico normalmente insuficiente para um mísero xixizinho, pois bem, ninguém fazia suas necessidades sem a minha autorização na casa. Era uma brincadeira que me deixava muito tempo ociosa, por isso nos momentos de ócio, oferecia água para as pessoas assim elas teriam vontade de fazer a próxima visita ao meu banheiro mais cedo.
Mas hoje, passados uns, cof, cof, hum, hum, 30 anos destas brincadeiras, me vejo olhando para outras janelas, não tão mágicas e nem tão cheias de vida. Me vejo olhando por janelas imaginárias que me fazem questionar o mundo que mudou sem me perguntar se eu queria que ele mudasse, me questiono se todas estas histórias foram reais ou mais uma parte da farta imaginação de uma criança que lia muitas histórias e as vivia como podia.