
Meu pai sempre disse que quando chegasse aos 70 anos viraria terrorista. Pois é, chegou o dia… Terrorista não, mas acho que ele vai virar uma espécie de 007 com Magaiver mesclada com Tio Barnabé.
Sempre dizemos que existem três pessoas no mundo que sabem de tudo, a primeira é o Jô, a segunda o Ronnie Von e o terceiro, é meu pai. O que você perguntar ele sabe, o que você contar ele já viveu, o que você imaginar, ele já imaginou.
Dono de uma criatividade ímpar, tomou seu primeiro porre colocando cachaça com uma seringa nas mangas e as chupava “batizadas”, aprendeu a nadar com seu cavalo aos 6 anos de idade. Teve três mães, mas se diz filho de chocadeira, “se criou sozinho no mundo”. Uma de suas mães queria que ele concorresse ao homem mais bonito do Rio de Janeiro, mas como ele mesmo diz: “Homem que é homem não come mel, come abelha”. Não concorreu. Era um sósia do Omar Sharif com seus traços árabes, neto de libanesa, aprendeu a fumar com sua avó. Com ela, aprendeu também a ler a borra do café. Sempre que tomamos um café turco ele ainda insiste na leitura.
Teve uma época que se comunicava com seres de outros planetas e em outra, tentava pescar. Já leu cartas (tarô) para os amigos, mas a última moda foi construir uma fonte de água com pedras e uma casa de passarinho de vidro, nenhuma delas deu muito certo.
Teve duas filhas, mas queria ter o seu filho homem, macho, árabe, por isso nos dava de presente escavadeiras, empilhadeiras, tratores de brinquedo; nos ensinava a fazer rádio AM e me deu minha primeira e única vara de pescar.
Famoso contador de histórias sempre cativou a todos com suas histórias de personagens que jamais conhecemos, eternas histórias do tempo de faculdade em Ouro Preto, onde roubava galinhas criando um caminho de migalhas de pão até a sua República (República Purgatório, fundada por ele nos anos 60). Histórias do Pinduca, da Miss Paraíba, da Florinda Bolkan, histórias de seu pai com seu cavalo adestrado… Personagens que com os anos foram se tornando nossos amigos imaginários, se todos eles existiram, não sei ainda.
Por isso ele é o Big Fish ou Macarrão, o figurão, como alguns amigos o chamavam, uma figura impossível de ser esquecida ou de passar despercebida, com uma capacidade imensa de fazer amigos e seguidores, cativa a todos pelo seu dom de contar histórias e de encantar com suas fantasias baseadas em fatos reais.
Ainda sonha em criar caranguejeiras adestradas e em ter seu barco e viver velejando.
Outro dia, estávamos almoçando e pensamos em qual seria a música tema de nossas vidas, sem pensar muito ele encontrou a sua trilha sonora:
- A minha eu já sei, é aquela “Ele é o bom, é o bom, é o bom…” Modéstia bem à parte (dele)… Parabéns pai, pelos 70 anos de vida e que novos sonhos venham. Se quiser ser terrorista mesmo, sinta-se à vontade para tal. Como o nosso eterno homem bomba, você merece fazer dos próximos anos o que quiser, mas repense sobre as caranguejeiras...
PS. Big Fish é um filme com direção de Tim Burton, a história do filme é centrada num homem chamado Edward Bloom (Finney), cuja história é contada a partir do ponto de vista de seu filho, William (Crudup). O garoto pouco sabe sobre a verdadeira vida de seu pai, mas, usando a imaginação, ele começa a montar o quebra-cabeças preenchendo os vazios entre fatos reais e histórias fantásticas de proporções épicas que foram contadas para ele.