
O conheci numa tarde ou seria noite? Estava sol, mas acho que chovia. Eu vestia uma regatinha rosa ou um casaco lilás. Tá, alguns detalhes deste dia me fugiram. Sei o ano. Ah! Isso eu bem sei, era ano 2000. Início de uma nova era. Sei também que estava escuro. Bem escuro. Existiam cadeiras e eram confortáveis. Sim, eu estava sentada, disso eu tenho certeza. Tinha barulhinho de pipoca meu ou de outrem, cochichos ao longe e beijos estalados por perto, causando certa inveja, confesso.
A tela era grande, o filme violento. Amores Brutos. Ele uns 22, eu uns 26. Suspirei. Não acreditei. O amor existe. Ele existe. Sim. Sim. Eu aceito. Por sorte existiam cenas (han, han, cof, cof) calientes, onde pude ver que ele era mais que um rosto bonito.
Daí por diante, nossa vida mudou para sempre. Tive que esperar 2 anos para revê-lo, fiquei tensa, para saber se ele ainda se lembraria de mim. Dei um tchau discreto quando sentei no nosso lugar secreto e tenho certeza que ele me viu no escuro, lá, sentada, babando e por vezes suspirando.
E assim, nosso amor continuou, de filme em filme, de escurinho em escurinho, pipoca em pipoca, suspiro, ah! Suspiro. Às vezes o via com um corte de cabelo estranho, outras vezes como um travesti, um padre, um revolucionário, os encontros continuaram e nosso amor só aumentou.
Aluguei esta semana “Ensaio sobre a cegueira”, todos diziam que eu ia passar a odiá-lo depois de ver este filme e sabe que não? Sabe que me deu uma vontade incrível de pagar de forma diferente pela minha comida? Sim. Acho digno.
Mas agora fiquei cansada de tanto amor sem realidade. Sem nunca saber qual Gael era real. E só uma coisa passou a importar neste mundo: treinar direitinho a frase que direi quando te encontrar.
- Mi casa ou su casa?