Sabe o que eu mais sinto falta hoje no meu mundo? É ser a bam bam bam. Meu pai falaria assim… Eu era a bam bam bam para ele.
A melhor designer do mundo, a mais cuca fresca, a mais solidária aos cães de rua, a mais esperta em macintosh… E por aí iam meus múltiplos talentos que ele via.
Certa vez de uma maneira estranha ele fez parecer que um momento horrível da minha vida, fosse na verdade algo muito legal, fazia de tudo para eu não me sentir nunca menos que a melhor do mundo em algo.
E foi assim que eu vivi até o ano passado. Acreditando que eu era a bam bam bam. Eu e a minha irmã, afinal o que eu não era, ela era: a mais inteligente, a mais bonita, a com os melhores empregos…
Aqui no blog quando ele lia sobre qualquer coisa, contava para todo mundo e dizia que eu era a melhor escritora do mundo todo.
Já fui tantas vezes a melhor em algo, que é difícil encarar o mundo real sem o filtro que meu pai me mostrava, filtro que só ele via através do seu olhar único.
Dia 21 ele faria aniversário, lembrei que 1 ano antes estávamos eufóricas com a festa surpresa pelos
70 anos dele, lembrei que ele ficou todo tristinho quando em pleno aniversário almoçamos no shopping, na praça de alimentação, e sem bolo, sem festa. Eram 70 anos, ele devia ter pensado… Mas no dia seguinte reunimos todos os amigos dele, a família, uma festona. Ele chorou, mas fingiu que não, afinal: “homem que é homem não come mel, come abelha”.
Sábado agora, no dia em que faria seus 71 anos, comemos bolo de fubá, fomos na igreja. Seria estranho cantar parabéns para ele. Apenas conversamos.
E de outra maneira estranha voltei a me sentir a bam bam bam por ter tido um pai como ele. Que sei que onde estiver, ainda deve me achar a melhor do mundo em algo…