
Cada dia que passa eu odeio mais o meu trabalho.
Odeio as pessoas, o lugar, odeio o jeito de todos, odeio o rei na barriga das pessoas que se acham mais estrelas que os próprios artistas, odeio o trânsito, odeio o dono do estacionamento, odeio os restaurantes de sempre, ah! Odeio tudo que se refere a show.
Prometi para mim mesma que não veria mais nada que fazemos aqui. Que não iria a nenhum show, preciso saturar de vez, e como já disse trabalhar aqui é assim: você cansa, mas aí vai num show e é como se recebesse uma porção da sua droga, e volta na segunda animadinha. Para mim já chega, estou em abstinência. Abstinência mesmo. Não vou ver nada mais, nenhum show, nem uma peça, nada, nada, nada. Só vou na concorrência agora. E tenho dica boa!!!
Vejam a “Noviça Rebelde” no Teatro Alpha. Foi o espetáculo mais doce que eu vi nos últimos tempos. Tão gostoso que você sai de lá querendo entrar num convento, achar um capitão Von Trappe cheio de filhos lindos, fica com vontade de entrar numa aula de canto e cantar Dó, Ré, Mi, infinitamente até ficar muda, ou alguém te socar.
Corram, vão, vejam. E me chamem que eu vejo de novo e de novo e de novo.
Cantem comigo:
Gota de chuva, bigode de gato
Laço de fita, cordão de sapato
Flor na janela e botão no capim
Coisa que eu amo e são tudo pra mim
Doce na mesa e sol na cozinha
Bico de pato, chapéu de palhinha
Banda passando e soando o clarim
Coisa que eu amo e são tudo pra mim
Lona de circo, tapete de grama
Bola de neve e botão de pijama
Doces invernos chegando no fim
Coisas que eu amo e são tudo pra mim
Se a tristeza
Se a saudade
De repente vêm
Eu lembro das coisas que eu amo e então
De novo eu me sinto bem!