Desempacotando caixas passou um filminho da minha vida, são tantas lembranças em formas de objetos, muitas vezes sem valor nenhum, com histórias que são só minhas.
Um livro do "piu piu e frajola" que eu ganhei do meu mendigo quando eu tinha 3 anos, ele era meu mendigo pois todos os dias depois do almoço tínhamos que ir até a esquina da Barata Ribeiro em Copacabana onde ele ficava, levava comida e batia papo com ele, minha mãe me levava e eu dona de mim no auge dos meus 3 anos, ficava lá com o meu mendigo, ele comia e depois levávamos o prato de volta, todos os dias este era o caminho depois do almoço, antes dele mudar de "morada" ele me deu este livro, que guardei até hoje; uma caneta escrito Renata que meu tio Antônio me deu, aquele tio que eu jurava que era o Chacrinha; um avental com uma vaquinha pintado pela minha tia Helena; uma canga que comprei na última viagem com meu pai, a super 8 que ele me deu para eu ser cineasta; um quadro com uma foto tirada quando meu afilhado fez 18 anos em que os 5 primos estão juntos e felizes, coloquei perto do meu cantinho de trabalho; meu vestido de casamento; meu palhaço que estava na mesa de bolo do aniversário de 1 ano do filho de uma amiga, e de tanto elogiá-lo ela me deu, o que causou grande discórdia entre as amigas dela; um livro de costura que a Cláudia me deu como incentivo para meus futuros empreendimentos; uma Barbie Yasmim que ganhei da Kiki quando engravidou.
São muitos fantasmas, saudades, momentos que não voltam mais, mas que gosto de saber que estão perto de mim, gosto de vê-los como amuletos da sorte recheados de certezas e que preciso deles para me sentir em casa. Agora que tudo está no seu devido lugar, cachorros no quintal, caixas na reciclagem, estante da sala arrumada, sobra energia e força para recomeçar com o pé direito. Amanhã, que venha o sol para eu usar meu protetor solar novo.
Há 8 anos