Sabe quando a gente sonha com uma coisa por muito tempo e parece que se esta coisa acontecer vai até ficar sem graça, de tanto que você sonhou?
Eu tinha um sonho, sonho simples, fácil de se realizar: ser surfista.
Ah! Como invejava aquelas loirinhas saradas com aquelas roupinhas justas pegando onda. Invejava mesmo. Nada desta história de inveja branca, era inveja clássica. Elas eram rodeadas por surfistas lindos, morenos da cor do pecado que enfrentavam aquelas ondas imensas apenas com uma prancha. Um "Q" de herói, sabe?
Pois em plena quinta-feira, desta minha vida muito agitada que levo na cidade pequena, acordei cedo, fui me encontrar com marido e amigo de marido e fomos surfar.
Contratamos uma mocinha que tinha um corpo completamente perfeito, loira, óbvio, e lá fomos nós, enfrentar as "gigantes" ondas de Porto. Tá, nem tão gigantes assim.
Primeiro a aula começa na areia, fica em posição deitada, dobra a perna, faz força no braço e se joga em movimentos completamente impossíveis até que os dois pés que estavam lá atrás subam até a prancha. Simples, né? Com a surfista professora fazendo parecia ser muito simples, fácil demais.
Porém, na realidade durante 45 minutos eu bebi mais água salgada que o Bob Esponja, tive mais areia no meu biquini que criança que fica fazendo castelinho de areia na beira do mar, meu cabelo, ah! meu cabelo, após 4 lavagens acho que sairá a areia. Mas quando eu estava quase desistindo e me conformando que aquele ideal de vida "Menina do Rio" não era para mim, eis que aparece a onda perfeita (tá bom, era mais uma marolinha que uma onda propriamente dita), consegui fazer tudo aquilo que estava no script, força no braço, empina a bunda se segura pelo dedão do pé direito, passa a perna esquerda, joga o corpo, alinha os pés e 4 segundos depois estava eu caida no chão com a alegria de ter ficado 4 segundos inteirinhos em pé em cima da prancha. Depois foi só remar, ir de novo, mais 4 segundos, e de novo, e de novo, quando peguei a prática, jurei que iria tatuar um dragão no braço, estava radiante, areia não mais me incomodava, os roxos na perna, na bunda, no joelho, na nuca, no cotovelo, tudo parecia coisa do passado, eu consegui em 1 hora de surf ficar uns 30 segundos no total em cima da prancha. Ah! que 30 segundos mágicos, até que...
... a prancha do meu marido bateu na cabeça dele abrindo um rombo e o final desta manhã perfeita de surf terminou com a viatura dos salva vidas nos levando para o posto médico. Cabeça raspada e 2 pontos depois, é hora do Dorflex senão é bem capaz de eu não andar por exatos 35 dias ou mais.
* Título sugerido pela Claudia através do Facebook.
Há 8 anos