quinta-feira, 28 de abril de 2011

Era uma vez...



Ah! Será que toda mulher sonha em ser princesa? Se sonha, o momento para sonhar é agora. Imagina você, plebéia porém de família rica, uma emergente dos dias de hoje e de repente se apaixona e se casa com o futuro Rei da Inglaterra.
Imagina agora que sua vida vai mudar radicalmente em nome deste amor. Seus passos serão "para sempre" vigiados, não vai mais sair com as amigas para falar mal do marido, nem beber além da conta, fofoquinha então? Nem pensar. Não vai mais ao shopping olhar vitrine nem pegar um cineminha de bobeira. Não vai mais poder errar no corte de cabelo, nem na cor, aliás não vai mais escolher seu novo corte de cabelo sem uma legião de assessores. Não vai mais falar mal da família do marido, nem passar os Natais com a sua família. Não vai mais repetir roupa, que disperdício usar um vestido lindo uma vez só na vida, o vestido te caiu tão bem...
Não vai mais pegar seu carro e dar uma voltinha para espairecer, nem vai abraçar e beijar seu marido em público, muito menos andar ao seu lado, dois passos atrás é o recomendável. Não vai mais chorar na frente dos outros. Não vai mais mascar aquele chicletinho e de repente fazer uma bola. Não viajará de férias sem que tenha um paparazzi examinando sua forma física. Engordar só será permitido para gerar um herdeiro, de preferência homem, cuja educação você pouco fará parte.
Sua vida será regida por este amor, tudo girará em torno das suas vontades que melhor se encaixam na vontade de seu povo. E você?
Viverá no luxo, dormirá em lençois engomados, não vai precisar nem pegar um copo d'água. Lembrar o dia de pagar uma conta? Nunca mais este mundo irá te pertencer. Seu nome entrará para os livros de história e a partir de agora você se tornará uma instituição e não mais uma pessoa com o direito de ir e vir, berrar e chorar, rir e gargalhar.
Sempre quis ser uma princesa como toda menina e hoje agradeço aos livros de conto de fadas que terminam suas histórias no dia do casamento com um singelo "felizes para sempre". Isso nos conforta, ameniza os percalços que a princesa irá passar daqui por diante, pois ser feliz para sempre com tantos nãos, etiquetas, cerimoniais, rituais e restrições não deve ser fácil, tenho certeza que eu tropeçaria já na igreja seja na barra do vestido ou no véu de 20 metros ou ainda dando um beijo e um abraço com o rímel escorrendo na Rainha.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Tabata, a jabuti

São Franscisco achou que no universo de cães e gatos a vida ia muito bem obrigada, eu já tinha minha cota de pecados para pagar e para cuidar. Já tinha meus filhos para alimentar e amar, mas existem milhares de universos do mundo animal, né São Francisco?
- É - eu respondo batendo pézinho.
Quando ouvi:
- Ela está morando dentro de um balde.
- Ela vai ser doada e se eu não conseguir vou colocá-la na rua.
- Ela vai acabar atrofiando as patinhas por viver dentro de um balde.
Preciso dizer que meu "frio" coração se derreteu e que agora tenho uma jabuti para chamar de minha.
Apresento para vocês.... tchan, tchan, tchan...

Tabata, a jabuti. Ela é muito gostosa, passa a manhã toda caminhando, caminhando, mesmo assim não emagrece. Só come frutas e verduras e mesmo assim é bem pesadinha. Coloco ela na banheirinha para se molhar pois é muito calor e ela quase nada, mas é muito pesada, afunda. Sou solidária a ela. Deve ser difícil viver no mundo de cães lindos, gatos maravilhosos e ser assim, cascuda, meio antipática, meio anti social, ela sofre de bullying em casa, tento inibir esta atividade, mas tadinha, ela é um ser novo e estranho que não tenho e nem sei como interagir, mas que estou aprendendo amar.
O único problema é que ela vai viver mais uns 80 ou 100 anos e agora vou ter que fazer um testamento ou ter um filho de verdade para herdá-la, mas fazer o quê? A vida é assim mesmo, aquele santinho que sempre apronta comigo me deu mais esta missão. Peraí que vou apertar um pouqinho daqui, esmagar dali e fazer com que a minha gordinha cascuda caiba no meu coração.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Show do Milhão

A nossa geração inventou ou ouviu alguém falar e resolveu seguir a seguinte teoria: "Para ser uma pessoa bem sucedida tem que ter 1 milhão até os 30 anos".
Opa, peraí, mesmo se eu não gastasse nenhum centavo dos meus salários desde os 17 anos, que foi quando eu comecei a trabalhar, mesmo assim eu não teria 1 milhão, aliás não teria nem metade disso, ou melhor nem um terço. E mesmo que eu ainda estivesse usando as calças cintura alta, ou clochá, que usava aos 17 anos sem gastar 1 centavo em nenhuma lojinha sequer, mesmo que eu não comprasse ração importada para meus filhos, mesmo que eu morasse ainda com os meus pais sem pagar uma conta e não saisse de casa nem para tomar 1 caipirinha, mesmo assim eu não teria 1 milhão e sem contar que seria um ET cafona sem amigos e provavelmente sem emprego, pois onde já se viu uma designer chegar em uma entrevista usando a tal calça clochá?
Bem aí também eu não poderia cortar cabelo, fazer depilação, pois para chegar aos 30 anos com 1 milhão eu teria que ser uma mulher macaca e cabeluda. Ainda por cima tenho cabelo branco desde sempre, seria a própria Maria Bethânia, sendo que ela ganhou 1 milhão só para fazer um blog e eu faço ele de graça, é praticamente um trabalho voluntário.
E mesmo que eu abdicasse do carro pois como iria gastar comprando um e colocar gasolina então? Nem pensar. E se eu nunca fosse a um cineminha sequer, nem um teatrinho, nem a um show para não gastar e guardar tudo para conseguir o famoso 1 milhão, mesmo assim eu não teria este 1 milhão aos 30, nem aos 36, se continuar assim, nem aos 40 e eu teria me transformado na mulher macaca, sem amigos, burra, solteira, virgem e ainda teria que andar com a tal da calça clochá. E ai de mim que engordasse estes 10 kg que devo ter engordado desde os 17 anos, teria que fazer uma imenda na calça clochá para eu poder caber, pois todo o meu rico dinheirinho seria encaminhado para o sonho do 1 milhão.
Sem contar que se eu não tivesse amigos, não saisse de casa e não tivesse namorado minha única diversão seria comer e chorar em filme triste que passa na Globo, pois nem TV a cabo eu poderia ter.
E mesmo assim fazendo as contas eu teria aproximadamente 300 mil que iria ser muito pouco útil para mim já que o sonho do 1 milhão se completaria somente perto dos meus 90 anos.
Em resumo: parabéns para meus amigos que me contam que alcançaram o tal sonho pois eu, não cheguei nem nos milzinho na conta, mas este nunca foi meu sonho, nunca foi a minha meta e acho que não sou menos feliz por isso, pois eu gastei alguns salários em caipirinhas com os amigos, dezenas em salão de beleza, centenas em roupas e milhares em diversão.

terça-feira, 5 de abril de 2011

No meu tempo

A gente podia comer um ovo sem culpa, depois veio um papo que ovo só uma vez por semana e olhe lá! Agora descobriram que ele é bonzinho, não é aquele vilão do colesterol, colesterol? O que era isso? Nem existia.
Fumávamos cigarrinho de chocolate sem nossos pais irem para cadeia por estar nos induzindo ao vício.
A Floresta Amazônica era chamada de pulmão do mundo, hoje dizem que ela acelera o efeito estufa.
Comprava "solarcaine" antes mesmo de ir à praia, pois sabíamos que depois do sol, íamos ficar ardendo passadas às 8 horas na praia e ninguém olhava para meus pais e diziam que ele estava causando um câncer de pele em suas filhas.
Passava o camelô vendendo Raito del sol, uia que delícia, era sinal que naquele dia ia ficar nêga e usar muito mais solarcaine que o normal.
No meu tempo podia-se comer tudo, muito queijo, muito café, muita empadinha de queijo.
Os carros, eram coloridos, azuis calcinha, verde abacate, amarelo ovo... hoje a vida virou monocromática demais.
O certo e o errado eram menos pesados.O politicamente correto era menos valorizado, pois o acesso a tudo era mais restrito.
Não víamos garotas de programa ganhando reality show, aliás o mais reality que tínhamos na TV era o Chacrinha jogando seu abacaxi ou seu bacalhau no meio de uma platéia. Imagina hoje em dia, neste mundo careta que vivemos o Faustão jogando um bacalhau fedido nas pessoas? Ah! O mundo está muito certinho.
Que lugar é este que transformamos? Para onde aquelas pessoas caminharam?
Hoje levam seus filhos para o show do "restart" pois são os únicos garotos que usam roupas coloridas e por isso são modernos, deixam suas filhas verem Bruna Surfistinha pois ela sofria "bullying" na escola e ao invés de enfrentar a vida virou puta e mostra isso com glamour em um filme tão pobre de cultura que na lição final diz em outras palavras "Sou puta e sou feliz, vale a pena, arranjei um amor, ganho dinheiro e isso basta e é isso que importa".
No meu tempo a educação prevalecia, o dinheiro era consequência.
Era certo ser boêmio, era erradíssimo ser careta demais. No meu tempo a vida era mais leve, menos cheia de padrões, menos sofrível e menos cheia de pré requisitos inflacionados. Mas sabe? Acho que éramos mais felizes com estes padrões hoje ditos deturpados. Aprendeu-se muito e evoluimos muito nos últimos anos, impondo regras, mas acho que esquecemos o mais simples, esquecemos da única missão que nos foi imposta: a de sermos apenas humanos.