Ontem assisti finalmente Marley & Eu. Após longo preparo psicológico aluguei este filme, acompanhado de chocolate e cachorros.
Sei que os cachorros envelhecem mais rápido, vivem menos, muito menos que gostaríamos, mas ver este filme me fez ficar relembrando os momentos que coexistimos na mesma bagunça, no mesmo amor, no abraço, na alegria...
Ter cachorro, é nunca ter a casa arrumada, é nunca ter um sofá branco ou uma parede sem roidinho no canto. É comprar uma poltrona nova e antes que você chegue em casa para admirá-la, encontrar o braço roído. É ter pêlo no travesseiro e dentro da xícara de café. É comer rápido algo gostoso e cheiroso, antes que a baba da PTK caia no chão até então limpo. Ter cachorro é chegar do trabalho e encontrar sua caixa de remédios inteira devorada (10 Tylenols, 1 vidro de Novalgina, pastilhas para garganta, uma cartela de pílula, Dramim, Buscopan e 1 caixa de Roacutan) chorar compulsivamente, ligar para Dr. Fabio, ficar 2 dias ao lado do peludo suicida que vai acordar, abanar o rabo e simplesmente nem lembrar que tentou se matar.
Ter cachorro é passar vergonha: outro dia PTK ou Zézinho soltou um pum no elevador que óbviamente entrou um vizinho, mas era um pum tão fedido, tão fedido, mas tão fedido que tive que me desculpar. Claro que até hoje o vizinho acha que fui eu ou meu marido que soltou o “cheirosinho” e incriminamos o coitado que não saberia se defender.
É sentir vontade de cavar um buraco e se enterrar quando um dia de praia com o Fuka ele avista uma bolinha com um menino, o menino estava com a clavícula quebrada em plena praia coberto de “Magipack” para não molhar o gesso, sua única alegria era suar e brincar com a bolinha que Fuka fez questão de pegar, estourar, rasgar e sair correndo.
É acordar em pleno domingo de frio mais cedo para curtir mais tempo na praça. É ter que ir na locadora se desculpar e pagar 150 reais pela 5ª temporada de Friends que você alugou, não viu, e a PTK achou legal comer. É chegar o catálogo da loja que você mais gosta e quando você sai do banho, vê as 200 páginas de moda e diversão devoradas pela sala e ainda ter que limpar tudo.
É esquecer a porta aberta e ouvir um berro seguido de um choro vindo da casa da vizinha, pois Caramelo entrou e comeu a carne que ela estava preparando para receber amigos no jantar.
É ter que usar seu pijama mais gostoso com furo na bunda, pois PTK odeia etiquetas em roupas.
Mas sabem de uma coisa? Ver Marley envelhecer e morrer, me acordou para o fato que um dia eles vão embora e um dia a cama vai ficar vazia, o travesseiro com menos pêlo, meus pijamas terão etiquetas e as coisas simples vão perder o sentido, pois a melhor parte de ter cachorro é viver a vida complicada, é descer para passear carregando, 2 coleiras, chave do portão, saquinhos plásticos, paninho para a baba, pote d’água, dinheiro para a água de coco da PTK ou para o cachorro quente que o Zé roubará de alguma criança e achar que tudo isso é normal, pois é normal ter cachorros, mas não é normal deixar que a vida rápida deles seja menos emocionante por causa da nossa vida de correria.