quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Post do fim do mundo (com 1 dia de antecedência, senão ninguém iria ler)

O mundo vai acabar segundo os calendários Maias, Astecas, Incas e afins, dia 21/12/2012, justamente no meu aniversário de 38 anos.
Se todos morreremos no mesmo dia, como vai ser a distribuição de senhas? Vamos nos sentir na fila do FGTS na Caixa Econômica Federal? Vai ser fila por ordem alfabética? Pode ser que eu fique ao lado da Renata Ceribelli? Seria mais engraçado ficar ao lado da Renata Sorah, assim podia pedir para ela imitar Heleninha Roitman além vida, daríamos boas risadas, mas quem sabe me reste um Renato Machado narrando os acontecimentos finamente?
É, o mundo acabando ou não, completo 38 amanhã. Estes quase 40 me rondando, me oprimindo e berrando em caixa alta: "ACORDA MOCINHA!!! DAQUi A POUCO VOCÊ TERÁ 40 ANOS!!!" Me fez ver que o passei dos trinta ficou pra trás. Me fez ver que passei pelos 30, tenho passado e eles estão indo embora. Não foram anos fáceis. Com seus altos e baixos, hoje vejo na balança muitas perdas, muitos choros, muitos dias sem alegrias. Não vivi tudo como gostaria, não sonhei o que deveria ser sonhado de verdade. A promessa que fica é que caso o mundo não acabe amanhã, caso eu tenha que conviver com meus 38 anos, prometo fazer dele um ano leve, um ano de sonhos para realizar, um ano de vida feliz, um ano de amores, sabores, abraços, beijos e docilidade. Prometo fazer dele o melhor dos trinta e vivê-los como merecem ser vividos. Se amanhã o mundo não acabar, terei 38 e será muito legal. Espero poder contar com vocês para este novo ano de alegrias.
Até a outra vida, caso o mundo acabe, até a fila do céu ou do inferno (vai saber?), ou até o próximo post. Feliz 38 para mim!!!

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Porque eu amo...


Amo porque ele gosta de 007, sabe todas as curiosidades e assiste comigo cantando a música "Tarantaran taran..."
Amo porque ele acha que seus olhos são verdes, mas são no máximo um mel.
Amo porque ele acolhe a minha paixão pelos animais e os ama da mesma forma que eu.
Amo pois ele sabe tudo sobre tudo e eu adoro ouvir suas histórias.
Amo porque ele faz café da manhã na cama para mim e fica intalado com a bandeja na porta quebrando toda a louça e fazendo voar leite pela casa inteira.
Amo, pois ele joga frescobol bem, mas não espalha que vai ficar se achando e na verdade eu ainda jogo melhor que ele.
Amo pois acordo com ele me olhando dormir.
Amo, pois ele aperta meu nariz enquanto durmo para ver se eu sinto falta de ar, vai entender?
Amo pois ele sabe ser amigo dos amigos dele e sempre os ajuda.
Amo porque ele topa meu "domingo trash" e passamos a semana inteira pensando na tranqueira que vamos comer no domingo.
Amo porque ele sempre ganha no jogo de poker.
Amo porque ele me ensinou a jogar poker.
Amo porque ele parou de beber mesmo tendo sido excluido pelos "amigos" de bar.
Amo porque ele fala igual ao menino Maluquinho: "Amor, tem água na caixa d'água?" e eu traduzo de imediato: "Amor, tem leite na geladeira?"
Amo porque ele cozinha o melhor Carandirú (prato que mistura tudo que tem na geladeira) do mundo.
Amo porque ele me ensinou a gostar de Ozzy Osbourne.
Amo porque ele deixa o controle remoro da TV comigo.
Amo porque ele faz supermercado para mim.
Amo por estes detalhes e por um montão mais de outros motivos... Feliz 36 anos!

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Quase 1 ano...


Ensaiei tantas vezes o que dizer se algum dia acharem o assassino do meu amigo Eric. Mas quase 1 ano se passou e nem o laudo do IML está concluido, greve, troca de delegado, descaso, vazio, tristeza, indignação rondam ainda nossas vidas. Mentalmente, acredito, quero acreditar, tenho que acreditar, ouso acreditar que um dia poderei ficar frente a frente com este monstro e dizer:
"Sabe? Você não matou uma pessoa qualquer que estava em seu caminho por abrir um restaurante melhor, você não matou alguém que com seu carisma e criatividade estava fazendo e trabalhando em algo que lhe desse prazer, que lhe dissesse o caminho a seguir após 30 e poucos anos de rumo incerto, conquistas deixadas, sonhos incompletos. Você matou alguém que estava feliz e me fazia feliz. Você tirou de mim e do meu marido, uns 40 anos que ainda nos restariam de sua amizade, sua alegria, seu jeito singular de ser.
Eric, se chamava de "nosso querido Bob" por causa daquele filme que o cara é tão carente, mas tão carente, que viaja para as férias de seu terapeuta e por gostar tanto de sua companhia e faz da vida dele um inferno. Ele ria quando passava este filme na TV e dizia - Olha, parece tanto comigo, aqui com vocês - e ele dizia isso com seu jeito humilde e atrapalhado, provalemnete pensando na próxima peripécia que ele faria para nos agradar, mas que com certeza saíria torta, seja pescando peixinhos gostosos para a gente e deixando o anzol ao alcance dos meus cachorros, seja perdendo a havaiana amarela novinha que comprei para ele e que não durou 1 dia inteiro, seja indo ao ensaio de Maracatu da cidade e ter que fazer todos os tambores se silenciarem pois ele perdeu a meia para um vira-lata que resolveu se refugiar no meio da roda, ou seja contemplando o mar e levando mijo nas costas, com ele a vida era assim: intensa e muito mais feliz.
Cada sorriso deste último ano teve um cantinho de tristeza, cada olho vermelho que vi em meu marido disfarçado de gripe ou sono, cada apertinho que dá de cada conquista nossa, de cada coisa que lembramos dele e não tínhamos mais ele para compartilhar. As piadas que ele me ajudava a fazer sobre os outros amigos do meu marido, as músicas de Otto que se calaram, os sabores, as sonecas agarrado com PTK (que ele chamava de "Minha namorada"), as brincadeiras com os cachorros que ele chamava de "irmãos", a bagunça de seu quarto, o cinto segurando a calça como o lobo mau do Pica-pau... Tudo isso e tanto mais deixou um vazio.
Todo dia no silêncio me lembro dele e como não sei rezar, só peço que Deus nos conforte, nos faça ser maior, nos faça ser justos, nos faça voltar a acreditar em algo que se perdeu, algo ingênuo que não volta mais, algo que de tão grande e precioso, não há justiça que pague, não há choro que estravaze, não há gesto que devolva.
Hoje eu só agradeço, pois é o que me resta. Agradecer por tê-lo conhecido."

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Cabelo, cabeleira, cabeluda, descabelada...

Vamos combinar? Eu não aguento mais cabelos lisos. Tá na cara que a pessoa é sarará e fica lá presa, amarrada, envelopada no lisinho fake.
Sempre que vou no salão alguém me oferece uma progressiva, inteligente, mega blaster escova com chocolate, canela, mel, limão, ácido, íons, prótons, eletrons. Eu sorrio, agradeço e digo: "Sou crespa". Meu amigo querido Ju, me chama de crespa e achei lindo ser crespa, acho que vem de um quadro das terças insanas que a mulher era lisa, lisa, tão fake lisa que ele criou "a crespa", não lembro ao certo.
Ainda mais aqui pelo Nordeste onde somos o verdadeiro Brasil de missigenação mistura o negro, com o índio, com mestiços, cafusos, sararás crioulos e mesmo assim saímos lisas? Em que mundo?
Quando era criança, lembro das lisas, elas eram minhas amigas. As fivelinhas que escorriam, os rabos de cavalos perfeitos sem precisar de fivelinhas adicionais, as tranças lindas sem ficarem despontadas e eu sofria calada e conformada - Sou crespa.
Depois veio a adolescência sofrida para os crespos, onde a moda era um topete lindo, liso e no alto, e eu dava uma surra de escova, gel bozano e criava a minha versão inspirada em Picasso do topete e era feliz. A vida deixava sermos felizes com as nossas qualidades e defeitos. Só se operava na época orelha de abano, e olhe lá!
Aí o mundo endoidou, escova japonesa, 8 horas de salão, 3 meses de salário e a mágica acontecia, saía eu linda com meu visual lisa, querendo ser quem eu não era e jamais seria, não tive a infância fácil das lisas após as aulas de educação física, não tive a adolescência tranquila do tepete feliz, nunca pude dançar a noite inteira e me olhar no espelho no final dela, não, nunca pude. Se suava encrespava mais, se encrespasse mais eu virava puro cabelo, dificultando a paquera de papinho ao pé do ouvido: - Oi, você vem sempre aqui? virava - OOOOOOIIIII!, eu afastava meu cabelo da orelha para poder ouvir o resto da frase do corajoso que resolveu desbravar meus cabelos para papear. Não, a escova milagrosa não poderia apagar anos e anos de sofrimento e dor.
O destino me tirou da cidade grande, os crespos não tinham vez por lá e me trouxe para o mundo do mar e do sol, pensei ter achado o meu lugar, o lugar do mar nos cabelos, dos cachos formados pelo vento, dos cremes Neutrox sem preconceitos, o mundo seria belo se não fosse isso que em algum lugar se instalou, a dominância dos falsos lisos apontando seus dedos para os crespos e esquecendo suas origens, suas dores e seus sofrimentos de uma infância de fivelas e uma adolescência com danças moderadas.
Este post é para você, cabeleireiros, ex crespos, falsos lisos... E se mais algum cabeleireiro me "sugerir" uma progressiva, vou mandar ele fazer progressiva nos pelos do &^%$. E se eu ver mais alguma criança de 5 anos fazendo escova cheia de formol na cabeça eu vou denunciar a mãe da criança que vai fazer ela perder o melhor da vida que é: aprender a ser diferente

Cadê o meu sofá?


Sabe a expressão "Mais perdido que cachorro em dia de mudança"?
- Ué? - diz PTK, olhando pela sala.
- Cadê? - diz PTK olhando na cozinha.
- Xiiii! - diz PTK olhando o banheiro.
- Será? - diz PTK entrando no quarto pela milésima vez.
- Ei, gente, esqueceram de trazer o meu sofá? Ei! Acordem! Cadê o meu sofá?

Cena narrada pelo meu marido e por mim, já na cama, exaustos da mudança, ouvindo os passos da nossa querida PTK, vira-lata da família do Scooby Doo, na primeira noite na casa nova, onde não foi avisada que o sofá antigo (cama extra oficial dela) iria para o lixo.

sábado, 3 de novembro de 2012

Matemática com amor

Várias vezes tentei entender o relacionamento dos meus pais. Parecia ser um casal que não combinava em nada. Minha mãe, leonina, exuberante no alto do seu "metro e meio", mandona, bem mais pé no chão que ele e debochada. Meu pai, um sonhador. Até que num flash do passado, entendi tudo.
Relembrei aos poucos de inúmeras cenas em que eles se uniam. Talvez eles nunca tenham reparado nisso, mas a matemática unia os dois, a paixão por números, por desafiar cálculos e problemas de lógica. Uma Professora de matemática casada com um Engenheiro de minas.
Minha mãe dava aulas particulares e às vezes se perdia ou esquecia alguma matéria e recorria a ele, que retribuia pedindo ajuda em algum cálculo que ele precisasse fazer para suas implosões. Forravam a mesa de vidro com a toalha branca. Meu pai com sua lapiseira bege 0,7 e o bloco impecável de quadriculados bem fininhos e azuis; e minha mãe com um lápis cotoco e uma borracha na ponta meio carcomida e uma folha avulsa toda bagunçada, logo ela, tão organizada sempre, mas quando o assunto era desafio era improvisado mesmo.
Não existia internet para se consultar as fórmulas, era de livro em livro, apostilas velhas e durava o tempo que teria que durar, podia durar horas, dias, mas o problema seria solucionado. Que lembrança gostosa. Acho que gosto de matemática por isso. Acho que estes momentos me mostravam que matemática era amor, paixão, não somente números vazios.
E acho que cada relacionamento tem que ter isso, este fio que une e que sustenta toda a chatice da rotina da vida a dois. Basta descobri-lo. Seja ele encontrado na matemática ou não.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Foi um sonho...

Hoje acordei e tinha 17 anos no meu quarto cor de rosa, com papel de parede de flores e barulhinho de jogo de tênis ao fundo. Me espreguicei e percebi que algo estranho estava acontecendo. Eram 6 da manhã e eu tinha que ir para a faculdade. Meu cabelo estava imenso e a variedade das minhas roupas se resumiam a uma calça clochá para vestir ou uma mega apertada da MOfficer, sem falar nas camisetas com ombreira, coloquei a da MOfficer que significaria ficar sem respirar pela manhã toda, mas "Ok". Peguei carona na "Cristina", era o nome do carro do meu amigo Beto, um opala verde vômito horrível, (desculpa Beto, mas era...) fomos pelas ruas do Morumbi, não existia o túnel, estranho, pensei, devo ter sonhado com este túnel milagroso do Maluf.
Entrando na faculdade senti todos os cheirinhos de tinta da Belas Artes, o cheiro do risoles de queijo do boteco da esquina, o peso das pastas e tintas que eu carregava, estava tudo ali de novo. Tive aula de colorir com a professora Ivone, caramba, pra que fazer tantas bolinhas de tinta se existe meu mac? Mas meu mac não existia de verdade naquela época, ficamos fazendo bolinhas de tinta do branco até o preto passando por 20 tons de cinza (antes, muito antes do livro de sucesso da atualidade com 50 tons) e adolescente ri a toa, tivemos um ataque de risos sem fim, rimos tanto que fomos expulsos da aula. Na calçada, com uma amiga solidária a gargalhada eu disse: Tudo bem, é só um sonho, já fomos expulsos desta aula e nada aconteceu, passamos de ano, nos livramos destas bolinhas para sempre, na nossa época vai existir Ilustrator, Photoshop e é nisso que faremos estas corezinhas. Tentei acalmá-la. Continuamos rindo. Foi só um sonho. Isso nunca aconteceu. Ou será que aconteceu?
Acabou a aula e encontrei a Patinha para passear com o Sunset, meu santo beagle que aguentava minha paixão pelo Rico e minhas longas caminhadas, fomos para o caminho de sempre, sentamos na lombada de sempre e ela me perguntou sobre o futuro, afinal, era um sonho, ou não?
- Como vai ser? Seremos realizadas? Felizes, ricas, magras, loiras? Estaremos casadas, com filhos? Nossos pais estarão bem? Nossa casa é grande? Temos algum cachorro? Gato? Papagaio?
Fiquei sem saber o que responder. Não sei se eu sou uma pessoa realizada. Devia ser, tenho um marido maravilhoso para mim, tenho uma família linda, engracada, amiga, tenho amigos muito queridos e amados, tenho os 3 cachorros mais perfeitos e felizes que conheço, tenho 7 gatos espertos, engraçados, berrentos. Tenho um jardim para ser construido em breve com meu pé de manga espada e meu limoeiro.
Não respondi, pois a resposta não era certeira, e aquele encontro comigo do passado, foi mágico, pois o cheirinho de tinta se emaranhou em mim de novo, a vontade de comer risoles, a vontade de levantar daquela lombada e abraçar meu pai que ainda era vivo, e eu podia, apertei Sunset, apertei a Patinha, que graças a Deus continua a mesma amiga querida e voltei para casa como num sonho, era um sonho, flutuando, num piscar de olhos e lá estava ele sentado na mesa dele, trabalhando em casa.
- Oi pai.
- Oi amoreco, como foi seu dia?
- Perfeito, pai. Perfeito.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Nostalgia ou Coisa de Gente Velha


O canal Viva serve para duas coisas: eu me sentir velha e nostálgica. Não sei se vocês têm visto aqueles programas antigos da época que, sem existir TV a cabo era a nossa única opção de entretenimento noturno.
Tem o programa Globo de Ouro, que para falar bem a verdade eu não lembro de vê-lo na época que passava na TV, mas hoje em dia vendo as músicas que faziam sucesso nos anos 80 já é motivo suficiente para eu me sentir assim, nostálgica e velha (eu acrescentaria rabugenta, mas talvez seja cedo demais para expressar isso).
Ontem eu vi o Agepê, nunca tinha ouvido ele de verdade, nunca tive um "disco" dele, nunca fui sambista, e muito menos havia reparado que bonitão ele era (olha a idade chegando e eu achando Agepê "um pão"). Mas é verdade ele era um pão. Ele era mulato, moreno, sarará, com bigode digno, vestido de branco e com seu vozeirão. A música era de qualidade diante do que se vê hoje de "Tche, tchereretchetchetche". Deve ser uma crise passageira porque somos bombardeados por estes artistas sem conteúdo e o que antes era desprezado musicalmente por mim, hoje tudo piorou de uma maneira tão assuatdora que Agepê se tornou meu ícone de rebeldia ao novo. Acrescento na lista a Zizi Possi com seu micro vestido e dentes desalinhados, era verdadeira. Lulu Santos com seu brinco de uma orelha só era jovem, Joana com seu cabelo natural, Guilherme Arantes e seus teclados (é, ele tocava dois de uma vez só). Na verdade, verdadeira, acho que ando meio cansada de dentes brancos demais, alinhados demais, perfeitos demais. Ando entediada com cabelos lisos demais, loiros demais. Ando de saco cheio de pessoas siliconadas demais, bundudas demais ou botoxadas demais. E por isso este post é para o Agepê*, a quem nunca imaginei olhar e dizer, poxa, até que era bom.

*calma gente, não vou virar sambista, muito menos sair cantando "Deixa eu te amar, faz de conta que sou o primeiro" para meu nêgo, ok?

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O fim do mundo está perto

Dizem que o mundo acaba este ano. Puxa, bem no dia do meu aniversário esta catástrofe está programada. Quem disse isso? Acho que os Maias, ou os Incas, ou quem sabe Nostradamus, mas se passear pelas ruas de Recife, em alguns momentos você pode acreditar que o fim do mundo já chegou e faz tempo.
Existe uma lei municipal no Recife, ela diz que cada edifício com mais de 1.000 m2 de área tem que ter uma escultura de um artista plástico pernambucano. É a lei 7427 de 19/01/1961. Esta lei é seguida a risca, o que é bom, pois gera emprego aos artistas plásticos daqui, mas por outro lado é péssimo, pois já se imaginou morando em um prédio onde na fachada tem isso:


Imagine todos os dias conviver com está "obra de arte", saindo para o trabalho, levando seu cachorros para passear, em noite de Halloween ou chegando bêbada a noite. Não acho que há coração que resista. É ou não é o fim do mundo obrigarem os moradores a conviver com isso?

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Jornada nas Estrelas

Não não sei nada sobre Spok e sua gang estrelar, só tento há dias lembrar o nome de quem dava o saque "jornada nas estrelas" no vôlei. Aquele saque que batia quase no teto do ginásio e voltava certinho para a quadra do adversário. Bernard ou Renan? Não lembro e me recuso a acessar o "oráculo" google. Era um saque emocionante, assim como ver olimpíadas era. Minha mãe nos acordava quando era de madrugada. Lembro do jogo que Brasil de Oscar venceu os americanos no basquete, ele chorava, a gente chorava e gritava junto. Já na Copa de minha infânca lembro do Zico perder um penault. Era a final? É assim que se escreve penault? Não, não vou no google, minha memória há de me ajudar. Eu adoro palavras cruzadas, faço sempre, dizem que é bom para a memória. Mas também não me lembro qual a letra da palma da mão, nem lembro se era esta a pergunta que nas palavras cruzadas me intriga.
Ah! A memória devia ser algo de pura preservação, mas vão saindo coisas que eu achava importante e entram novas, sem tanta importância talvez.
O nome do restaurante que meu pai adorava ir quando morávamos em Higienópolis? Não lembro era "via" alguma coisa, via monte? via o quê? Vou ter que ligar para minha irmã, me recuso a pesquisar no google. Será que o futuro é este, nossa memória ser substituida pelo google? Bernard ou Renan? Via o que? Letra da palma da mão?
Lembro desta época de oitenta e pouco que minha mãe dizia que não podíamos falar com aqueles moços que andavam de terno e moravam numa casa da Rua Maranhão, eles falavam uma língua estranha e eram só homens. Na frente da casa deles tinha uma bandeira vermelha meio com cara de medieval, escrito em dourado, eles iam naquele restaurante que não lembro o nome e não falávam entre si, eu tinha medo. Minha mãe falava que eles faziam "lavagem cerebral" nas crianças que eles pegavam, quantos pesadelos eu tive imaginando como se lava um cérebro. Eles eram estranhos, mas eu gostava de passar na frente da casa deles, eu e minhas amigas achávamos que era mal assombrada. E agora nem lembro o que tinha na bandeira, pode ser um leão? Ou o leão era na Cultura Inglesa que ficava ali pertinho? Ah! Se eu perguntásse para o oráculo saberia...
Nesta mesma época lembro do pai de uma amiga que era bravo, morria de medo de ir brincar na casa dela, certa vez derrubei o varão da cortina de lá brincando de algo que não devia, óbviamente, nossa, fiquei com tanto medo que acho que chorei... Será que existem pais bravos assim hoje em dia? Eu tinha pena dela.
Acho que o nome era Via Castele, comíamos pizza, ou lasagna? Ah! Lembro o restaurante agora e não lembro da comida... Será que podemos ir até lá? Vou ver com minha irmã...
Vai ter Olimpiádas em breve, mas não lembro porque eu gostava de ver, acho que era por estarmos todos juntos, na sala de TV do apartamento grande de taco no chão que entrava farpa no meu pé.
Deste apartamento, lembro que minha mãe mandava a gente dobrar as meias e fazíamos aquelas bolas de meia, sabe? Aí, eu ficava na janela e a Dea deitada no sofá jogando as meias pela janela e eu tinha que ser mais rápida e fechar a janela antes das meias caírem, perdíamos muitas meias pelo 10º andar, e andávamos descalças no chão de taco. Acho que não levávamos bronca por esta brincadeira estúpida. Não lembro.
Mas quem dava aquele saque "jornada nas estrelas" isso ainda vou querer me lembrar, não sei porque, mas ia ser legal lembrar, ele tinha bigode? Era loiro? Ter boa memória nunca foi meu forte. Nunca.

sábado, 16 de junho de 2012

O nada

Hoje eu não quero falar sobre nada, não quero falar de algo ruim ou bom, pois ambos não me cabem hoje, o nada preencheu um espaço significativo. O nada de observar a lagartixa que mora atrás do quadro e sai na calada da noite para se alimentar dos mosquitos, o nada que é a vida dela diante de tudo mais. Observo apenas e lembro de um livro que li, onde a lagartixa narrava a história. Será que ela obsverva tudo e depois vai contar esta história aqui? O que será que ela diria? Escreveria sobre o nada também que minha vida anda? Escreveria sobre a quantidade de mosquitos que nos rondam com os SBP's em nossas mãos?
Será que o nada poderia virar uma história? Que nada para mim hoje é a vida dela, da tal lagartixa que só engorda e mora atrás do quadro que nunca tirei da parede, veio com a casa e não me diz nada. Natureza morta, mortíssima, acho que tem maça e flor no quadro. Para mim? Um nada.
Será que o nada sou eu? Ou o nada é o que nos tornamos quando não fazemos nada? Será que o nada se instala sem percebemos para tomar o lugar do tudo. Será que as palavras que ouço já nada me dizem, nada me chocam?
De madrugada tento achar o nada que me encaixo e lá vem ela a lagartixa se alimentar, ela vai rápido para o outro canto da sala, sai da sua zona de conforto e enfrenta a sala, sai do quadro nada, para comer um mosquito do outro lado de tudo que o nada dela significa. Não mato o mosquito antes, deixo ela se alimentar, nutri o seu nada, alimenta meu nada.
De repente me vejo com inveja da lagartixa, ela foi corajosa, enfrentou o mundo dela, foi até o outro lado do mundo para se alimentar, sobreviver para quê? Que inveja o nada me deu.
Será que um dia vou me sentir cheia de novo? Cheia de vida, de sonhos, de vaidades? Será que dentro do mundo que vivo eu posso me aventurar? Tenho forças para atravessar a minha sala e me alimentar? Eu sou agora a lagartixa e ela é o meu nada, mais nada dos nadas, onde o nada vira tudo para sobreviver, e viver. Ah! Me dá até vontade de chorar imaginar por onde começar meu mundo de novo? Será que ela pode me ensinar algo? Será que ela me diz onde está meu mosquito que me alimente e que não se alimente de mim? A vida atrás do quadro nada. A vida na parede vermelha feia, onde o quadro nada fica, não tem sentido existir, não tem porque continuar ali, mas não vou tirar ele de lá, nunca. Não tenho forças de virar tudo no mundo nada de alguém.
Sei que depois que ela engordar e ficar meio molenga, menos ágil vai virar comida dos meus gatos, que não vão comê-la, vão apenas matá-la para brincar, sei que eu vou ter que um dia pegar a pá de tirá-la de algum canto, sem o rabo e jogá-la fora, no nada.
E isto tudo faz sentido?

quarta-feira, 16 de maio de 2012

A mira laser da Nasa

- Esta mira laser chega até a lua!
- Jura?
- É, é da Nasa, eu posso apontar lá fora e você vai ver um ponto vermelho na lua.
- Faz para eu ver. Duvido.
Ele olha lá fora e diz meio cabisbaixo.
- Hoje não tem lua mas amanhã eu te mostro.
E passou o tempo e nunca mais teve lua para o tal ponto vermelho aparecer lá no céu.

Hoje faz 4 anos que perdi meu pai, faz 4 anos que não tenho conversas assim, fantasiosas e cheias de apetrechos super valorizados, faz 4 anos que uma pontinha de mim fica sempre suspirando, com olhos meio mareados quando vejo algum pai com sua filha, sorrio quando vejo um homem grisalho de suspensório, fico com vontade de ir lá e abraça-lo, mas não faria muito sentido, não aliviaria a falta que ele faz, me seguro. Hoje, há 4 anos, foi o dia mais triste da minha vida, foi o dia que me faltou ar, me faltou chão, me faltou meu mundo. Mas mesmo assim hoje, eu queria voltar estes 4 anos para tocá-lo pela última vez, mesmo com ele inconsciente, mesmo sabendo que tudo o que viria depois seria sofrido demais, eu queria um último beijo de boa noite. Mas hoje só vou poder ver se a lua está com algum pontinho vermelho no céu, se ela aparecer.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Depois de 1 mês

Ah! Foi tão rápido! Eu vim para São Paulo toda chorosa com saudades e medos, mas me viro tão bem aqui que posso falar? Senti falta só do meu nêgo e do meu Zézinho. Ah, do calor também, do meu shorts jeans gostoso de vestir. Senti falta do pilates e do mar. Amei ver o Ju por dias e dias, rir com ele e aprender tudo o que ele me ensina, amei ver Kelzinha e suas histórias da filhota, amei ver a Clau e a Ana, o Luquinha e a Paulete. Amei cada segundinho da companhia de vocês. Fiquei triste por não ver a Vivi. E as pessoas novas e incríveis que conheci? Ah! Foi ótimo trabalhar com elas. A minha afilhada que apesar de eu ver tão pouco, somos unha e carne, mega amigas e queridas. Duas princesas basicamente. Eu e ela. Adorei ficar com minha mãe e suas peruadas, fazer máscara de botox em pleno shopping é algo que só com ela eu passo este vexame. Passear com o Caramelo e vê-lo tão grudadinho, fazer a festa de aniversário de 14 anos dele, foi tão bom. Vi meus amigos da Belas Artes que não via a tempos, conheci a filhinha de um, revi os filhos de outra, foi maravilhoso. E a amiga que vi todo dia pela Vila Olímpia depois de 17 anos sem ver? Foi muito bom. Maravilhoso também ter tido a companhia de minha "cumadre" me levando ao trabalho todos os dias e papearmos como a tempos não fazíamos. Ver minha irmã e convencê-la a fazer o tal botox no shopping com o rol das peruas da família, ver o meu cunhado querido, minha prima, minha madrinha, meu afilhado, foi perfeito. São Paulo me mostra sempre coisas novas, me mostra sempre que posso me virar bem aqui de novo. É até pecado eu reclamar da minha vida na praia, mas amo este agito, este trânsito, este caos. Fazer o quê? Volto para Porto feliz, porém sempre parte de mim fica aqui na cidade grande. Nunca fico completa aqui nem lá. Pois sempre me falta algo ou alguém, onde quer que eu esteja. Aos amigos que consegui ver, obrigada. Aos que não deu tempo, até breve. PS. O novo blogger não me deixa fazer parágrafos, é normal?

quarta-feira, 2 de maio de 2012

A pessoa sem ponto final

Parece muito, mas não é. Dizem que nós mulheres falamos 20 mil palavras por dia. Juro que tem dias que eu acho que falo mais, se não falo escrevo, se não escrevo resmungo, penso, converso com minha cabeça quase como uma esquizofrênica frenética para gastá-las. 20 mil palavras gasto rapidinho na mesa de bar com amigas. 20 mil palavras rendem dias com o marido que ouve as primeiras 200 e já me manda calar a boca para ouvir o Jornal da Band, depois você mega feliz com o fim do noticiário começa a falar suas 19.800 palavrinhas que restaram e vem o Jornal Nacional e o "Cala a boca pelo amor de Deus!" ecoa. Recorro aos meus filhos peludos, sorte deles que tenho 10 para conversar, brincar, cantar musiquinhas, falar bobaginhas e gastar palavras. Gasto mesmo. Tem dias que estou mais calada e as pessoas até estranham e acham que é mal humor, mas não, pode ser que tenha falado demais da conta no dia anterior ou esteja poupando para o dia seguinte. Pois ponto final mesmo, deixa de existir quando estou empolgada e feliz. Tenho uma gatinha que é assim, sem ponto final. A Little. Até a segunda infância achava que ela era muda, nunca tinha escutado um miado da pobrezinha, porém de repente deu uma de Emília, tomou uma pílula e tagarelou, tagarelou a falar... Imagino como deve ser duro para os homens conviverem com a gente neste tagarelar sem fim... Vejo minha mãe, minha madrinha, minha afilhada, todas sem ponto final, todas no bla, bla, bla, que animam a vida, pois o mundo em silêncio, seria muito sem graça, não acham?

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Sobre Havaianas, saltos altos, trens e bicicletas (uma nordestina na cidade grande)

Aqui em São Paulo tenho andado de trem. Trem espanhol que anda pela marginal, duas estações me separam do meu trabalho. Vejo logo cedo moças de terninho e sandálias Havaianas para enfrentarem a caminhada e as longas esperas. Visual inusitado para a cidade grande, achei que chinelos só fossem usados na praia. Mas é melhor assumir que o salto machuca do que andar pelas ruas da Vila Olímpia feito patas com os pés ardendo e espremidos dentro dos saltos que perdem toda a graça. Dá vontade de parar a pessoa e dizer: "Posso dar um conselho? Use rasterinha."
Quem não sabe andar de salto não devia andar, sofrer, ou tentar dar uma de fina. É mais digno. Vejo muitas "patas" andando pela rua na hora do almoço e fico pensando será que elas não ensaiaram em casa antes?
Antes do primeiro salto todas deviam ensaiar um pouco em frente ao espelho, perguntar para a amiga, vizinha, mãe e mulher amiga se está tudo bem, se está bonitinha, andando com naturalidade. Vejo que 80% das moçoilas deviam enrar para a Socil (ainda existe Socil para ensinar as moças a andar, comer, sentar, descer escadas de saia...)?
A parte mais legal do trem é ver o bicicletário que fica na estação. Poxa que bacana ver que as pessoas em São Paulo estão andando de bicicleta, mas fico pensando no valor do seguro de vida destas pessoas que enfrentam o trânsito insano da cidade sem proteção alguma além de capacetes e cotoveleiras. Também fico pensando na suvaqueira que deve ser na sala desta pessoa que chega no trabalho já com um certo ar de banho vencido. Legal, porém nas longas distâncias da cidade, será que vale a pena?
Enquanto isso a carioca aqui, radicada em São Paulo com ares de Nordestina vai andando pela cidade. Nada me estressa, tudo me diverte. A cidade grande encanta, desencanta, o trem cheio me faz rir, as histórias que ouço me levam para outro mundo, paralelo do meu mundo real. As pessoas me perguntam: "Como é a sua vida lá?". Eu respondo: tranquila.
Sigo tranquila em São Paulo, torcendo para este mês passar devagar e eu poder absorver tudo que vejo. Vou flanando. Seguindo. Deixando no cantinho do meu coração a saudades de casa, porém respirando ares que me fazem bem, me fazem ver que existe vida, existe gente, existe tudo isso que um dia eu fiz parte.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

1 mês

Estou indo passar 1 mês em São Paulo, trabalhar no meu antigo trabalho. Três anos me separam do que era a minha vida antes. Antes eu não sabia o que era ser livre, não sabia o que era ter a casa cheia de gatos aprontando, nem sabia que importância o mar teria na minha vida, muito menos o que era estar sempre perto do meu amor.
Não sabia nada. Não sabia que existiam coisas que são mais importantes, coisas que nenhum dinheiro do mundo compra. Não sabia que ficar longe de casa fosse ser tão sofrido, longe dos meus animais, longe do meu Nêgo, longe do nosso dia a dia cheio de emoções... Ontem pulamos o muro para resgatar nossa Little que sumiu no mundo em busca de aventura, jogamos frescobol, ficamos cheios de areia de ficar no mar só curtindo a marolinha, almoçamos crepes, cuidamos da pata da Little, saimos com os cachorros para ver o mar com a maré alta, a lua, e é isto que fazemos sempre, nosso dia a dia é sempre assim, calmo, com horas e horas para a nossa grande família.
Mas ir para o passado em São Paulo vai ser bom, vai limpar aquela angustia que eu sentia quando estava nos últimos dias lá, foram dias horríveis, repletos de falsos sorrisos, choros contidos, medos, traumas. Rever pessoas queridas vai ser bom, rever velhos olhares vai ser péssimo, espero que nestes anos meu coração tenha se livrado dos pesos, creio estar mais leve, mais feliz, mais disposta a encarar de novo o mundo que não me pertence mais.
Sábado fiquei sentada no calçadão com minhas amigas queridas, vendo o movimento da rua, rindo dos preparativos da missa que quase incendiou a cidade, e esta pacata vidinha daqui aos poucos vai me encantando quando me permito não me cobrar tanto, quando permito não exigir muito de mim, e isto é um exercício diário. Não me sentir culpada por estar na praia às 4 da tarde alimentando meus vira-latas da rua, ou tomando um cafézinho repleto de risadas e conversas jogadas fora, ou ainda um vinho com um violãozinho na praça em plena segunda feira. A vida pode nos surpreender. A vida deve nos surpreender. Estou indo para meu antigo posto em São Paulo, por 1 mês. 1 mês com pessoas que amo muito por perto, 1 mês revendo amigos, 1 mês no meu antigo quarto florido. 1 mês, só 1 mês. Beijo 7 gatos, aperto 3 cachorros e meu Nêgo? Vontade de colocar ele na mala, mas ele não vai caber. Me espere mar que estou voltando em breve, esperem meus amores que mamãe já volta, espera meu Nêgo, que sua posinha já vem...

segunda-feira, 26 de março de 2012

Nem toda feiticeira é corcunda, mas todas nós somos Scarlett O'hara



Quantas vezes já declarei meu amor por Scarlett? Milhares. Mas é um amor simples de explicar.
Quem nunca resolveu que amava alguém apenas quando foi abandonada?
Quem nunca soube ser doce e forte ao mesmo tempo nas diversas etapas da vida?
Quem nunca precisou repor as energias em casa com a família por perto?
Quem nunca amou por anos um bobolhão só porque este bobolhão não estava disponível?
Quem nunca teve que ser forte e ir em frente depois de um tombo sem olhar para trás?
Scarlett é uma visão de mulher dos anos 30, apesar do filme se passar em 1800 e pouco, mas é tão atual que assusta. Me assusta ver "E o vento levou..." e a cada vez me apaixonar mais por ela.
Sua visão otimista do mundo mesmo diante da fome e da guerra é a mesma visão que temos que ter hoje para enfrentar os desfaios, óbvio que não vou sair por aí fazendo vestidos de cortina e me casar com o pretendente da minha irmã para salvar minha fazenda, mas vou sim me montar no salto e como diria meu marido "passar um batom e estar pronta para dominar o mundo", pois somos assim, vaidosas e cheias de auto confiança compradas na liquidação do lápis vermelho. Nada como um vestido novo, mesmo que de cortina ou de uma liquidação de loja boa para melhorar nosso astral. Ainda somos assim.
Ainda levamos o maior fora do amado e no dia seguinte enxugamos as lágrimas damos um pulinho na casa da mãe para repor as energias e adicionamos o dito cujo no Facebook, ou no meu tempo no msn ou no icq, para achar uma maneira de reconquistá-lo. Nada como um dia depois do outro.
Já fui por anos apaixonada pelo meu Ashley. Todas fomos.
Já precisei salvar minha conta bancária da bancarrota usando aquele vestido da liquidação de loja bacana e indo ver o gerente simpático.
Já, já sim, lavourei, ops, varri a casa por horas e na hora H minhas mãos estavam cheias de calos e é uma pena que não usemos mais luvas e coloquei a culpa na musculação.
Já sim fui naquela entrevista de emprego com a cara amassada e as unhas roídas de desespero, mas um bom perfume levanta o astral e uma boa risada disfarça as imperfeições que carregamos.
Todas somos Scarlett, mesmo sem perceber e em diversas situações. E quanto a feiticeira do título, também um pouco... Bem pouco...

segunda-feira, 19 de março de 2012

Ata-me


Este foi o primeiro filme que vi do Almadóvar e foi aos 15 anos. Adolescente indo ao cinema pela primeira vez com um novo namoradinho.
Não é um post sobre filmes, muito menos sobre Almadóvar e sim sobre o namoradinho em questão e o quanto morri de vergonha vendo o filme.
Certa vez em uma prova de matemática o professor faltou e um outro foi escalado para olhar os alunos. Era um moreninho simpático e novo para os padrões da escola. Devia ter seus 26 anos, no máximo. Ficou meio que me olhando, me ajudou com algumas questões da prova. Na verdade até me deu as respostas. Simpático, pensei. Meses depois ele passou a me dar aula de física. Eu estava no 2º colegial, talvez.
No final do ano, para variar, estava toda encrencada com as minhas notas, principalmente nas matérias de exatas. (exatas? ainda se fala isso?). E tive a grande ideia de chamá-lo para me dar aulas particulares depois da escola.
Ficávamos na sala da casa dos meus pais, na grande mesa de jantar estudando. Aprendi muitas coisas... Tantas que passei de ano.
Certo dia ele chegou logo após minha aula de violão, para mais uma dura tarefa de me fazer entender física. Viu meu violão. E resolveu me tocar uma música. Ainda hoje lembro a letra: "Era só uma menina e eu pagando pelos erros, que eu nem sei se cometi, ohohoh". Era início dos anos 90, ainda era moda ouvir Paralamas.
Que mestre. Isto era música para me tocar? Queria dizer tudo. Eu era só uma menina. Se ele iria pagar pelos erros ou chegar a cometê-los, queria descobrir.
Na hora constrangedora do pagamento e do adeus na porta de casa, ele me beijou e me chamou para ir ao cinema.
Nada melhor para uma menina de 15 anos que um professor de física, novinho, charmoso, carioca, que tocava violão. Eu estava no céu. Como ele era espertinho, marcou em um cinema longe do Morumbi, afinal, seria fácil encontrar algum aluno pelo shopping da região, então fomos ao Eldorado.
Acrescente até aqui, professor, mais velho e namoro proibido às escondidas. Era o céus com certeza.
Ele quem escolheu o filme, eu teria na época optado por algo entre Uma Linda Mulher e Darty Dancing. Nunca havia ouvido falar de Almadóvar, mas aos 15, o cinema era só um pretexto para ficar no escurinho, de mãos dadas e dando uns beijinhos. Será que as meninas de hoje são tão ingênuas quanto eu era?
Bem, em determinadas cenas do filme fiquei chocada, encabulada, sem graça. Ainda mais quando não se está preparada para ver algo tão adulto.
Depois do dia do cinema, as aulas continuaram eu o via na escola e não falava nada além do "oi" desengonçado, e quando terminava a aula ele passava no meu prédio para conversar comigo. Era um namoradinho legal. Educado. Não foi nada além disso, afinal ele corria o risco de perder o emprego e eu a cabeça. Ah! Se meus pais soubessem era bem provável que iriam na escola denunciar. Não, eles não iriam, mas iriam me dar a maior bronca. Com certeza.
As férias chegaram, trocamos telefones cariocas, ele também passava as férias no Rio. E um dia ele me ligou e fomos tomar sorvete no Leblon. Depois deste dia, nunca mais o vi. Foi transferido para outra unidade do colégio. E eu? Lembrei dele só hoje vendo Ata-me na TV.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Corridas. Militares. Quinta dançante.

O que uma coisa tem a ver com outra? Vou tentar explicar.
Sempre gostei de correr, tentei diversas vezes, mas nunca tive disciplina, está é a milésima vez que tento começar a rotina, afinal estou em Recife para meu gato Ozzy se recuperar melhor, se fortalecer com a mamãe por perto e o calçadão daqui é incrível, com muitas sombras, vista perfeita e um ipod cheio de coisas boas é impossível não se animar e começar uma corridinha aqui e outra ali entre um remédio e outro felino para espantar o ócio.
Hoje fui na direção de Piedade, passei por diversos prédios de militares, cada prédio lindo e os "porteiros" são uniformizados com aquela camuflagem que não faz tanto sentido dentro de uma guarita beira mar, mas uniforme é uniforme e isto encanta 100% das mulheres. Confesso que gostei. Gosto de ver os militares. E corrida, calçadão e militar me remetem ao Rio e minha infância, nasci na ditadura. Me lembrei do meu tio Antônio, ele não era militar, mas me levava ao calçadão, ele fazia marcha atlética, acho muito fofa esta modalidade, mas nunca ousei tentar, parece meio difícil e ridícula ao mesmo tempo.
Hoje fui no final do dia aproveitar o pôr do sol e lá estavam eles, os militares correndo pela areia com suas cantigas: 1, 2, 3 vou correr e vocês, 4, 5 ,6 bla bla bla bla bla, ou algo parecido, sei que resolvi parar a tal corrida e apreciar a ligação direta que aquela cena me remetia à infância. Sentei e pedi uma água. Começou a tocar Wilson Simonal, mais ditadura e infância que isto impossível, mas eis que passou um senhor fazendo a tal marcha atlética e senti até o cheirinho que aquilo me remetia, um ar nostálgico, um colorido diferente, uma saudade enorme de parar e lembrar com carinho tanta coisa e gente boa que a vida me deu.
A vida me deu por pouco tempo, na infância, este tio Antônio que fazia a marcha atlética, ele era incrível comigo. Me mimava horrores. Me ensinou muito apesar de ter morrido quando eu tinha apenas 5 anos. Morreu vendo o Papa João Paulo II, no Maracanã. Foi triste.
E o que tudo isto tem a ver com a quinta dançante? Nada. Absolutamente nada. Mas passei correndo pelo clube da Aeronáutica de Recife e soube que vai ter a Quinta dançante hoje às 17hs. No cartaz dizia que era "Para dançar como antigamente". E me deixou meio confusa. Quem sai para dançar na quinta dançante que se dança como antigamente às 17hs? Quem? Só os militares. Só eles mesmo. Ê vida boa, hein?

domingo, 11 de março de 2012

Pela janela



Estou passando uns dias em Recife e percebi o que mais me encanta na cidade grande são as janelas.
Gosto da minha casa com janelas amarelas, mas dela não vejo nada, nem ninguém. Na cidade grande é diferente, vejo vidas em quadradinhos, como uma história em quadrinhos ao vivo.
Pode ser resquícios dos tempos de Copacabana na casa da minha tia Helena, onde olhar pela janela era estar perto dela. Ela me contava as novidades das vidas que ela via, me mantinha atualizada dos acontecimentos que eu perdia por morar em São Paulo, ríamos juntas da velha pelada, e lá ficávamos, pois o vento vinha gostoso, o barulho da rua era reconfortante.
Daqui, vejo um casal vendo TV, agarradinhos no sofá, tão gostoso, fico imaginando o que eles estarão assistindo. Em outra janela vejo uma senhora em uma cadeira de balanço, na varanda dela tem muitos pássaros na gaiola, deve ter um barulhinho bom de lá, mesmo sendo contra prender pássaros fiquei imaginando que delícia deve estar ali, com a brisa do mar e o barulhinho bom. Vejo também um moço se trocando, deve estar indo para uma balada numa hora dessas, colocando calça jeans neste calor e pela quantidade de camisas que trocou, deve ter mocinha na parada.
Percebo que a TV está ligada em 80% das janelas, elas são a nova maneira de satisfazer o voyeurismo.
Na janela, me lembrei de um amigo que era meu vizinho dos tempos de adolescente, tínhamos nossos horários, nos cumprimentávamos, acenávamos, até berrávamos um para o outro: "Oooooooiiiiii" e as vezes ficávamos pelo telefone horas nos vendo pela janela e conversando, era o skype dos anos 80. Pela janela conhecia a casa dele, o quarto dele e ele ao meu, às vezes mostrávamos algo específico da casa. Certa vez ele até me ajudou a escolher a roupa para sair. Era divertido.
Gosto de ver vidas acontecendo, porém ficamos cada vez mais presos à janelas digitais dos computadores e seus encantos, nas TVs e seus 200 canais e quando olhamos para fora, vejo vida real, acontecendo. Pela janela me sinto vivendo. Me sinto normal.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Projeto: Sai uruca!



Vou te contar, viu? Colocaram um pé de porco enterrado no meu quintal, só pode ser. Neste último ano só coisa ruim tem me acontecido, minha vontade é sair gritando, berrando, feito louca varrida descontrolada para ver se algo muda.
Em exato um ano fechei minha loja e me enfiei em sociedades que de nada me valeram. Uma loja que só abria nos dias que eu trabalhava, a outra era uma doida varrida que empacotou minhas coisas e desfez a sociedade pois achou que eu achava algo que eu nem sabia o que era (papo de gente doida, abstrai), depois fui para a melhor e mais bem localizada loja de Porto com minhas bolsinhas e a loja vive fechada pois as funcionárias acham que venda é por telepatia. Fiz uma linha de bolsas mais baratinhas para vender na feirinha na barraca de uma "amiga", nunca vi a cor do dinheiro de nenhuma e todas foram vendidas. Bem não pára por aí...
Perdi meu amigo Eric, e até hoje nem temos laudo de IML, advogado, culpado, causa, consequência, indício ou qualquer coisa que valha para acalmar meu coração.
Perdi minha Biscoitinha querida numa bagunça que ela aprontou, indo dar um rolê pelo mundo bem no dia que eu não estava em casa, resultado: encontrou Zézinho pelo caminho dela, e na guerra ele venceu. Está achando que desgraça pouca é bobagem?
Tenho um gato, o Ozzy Osbourne, com uma doença chamada PIF (peritonite infecciosa felina), ele é um gato que sofreu muito, coitado, quando fui levá-lo para castrar a caixinha de transporte arrebentou e no susto ele fugiu, mas não deixei de procurá-lo. Por 8 meses ele viveu na rua até que um belo dia uma protetora de animais de rua achou ele para mim. Foi uma alegria tê-lo de volta. Para comemorar fui bem legal com São Francisco e adotei mais um gatinho, o Lampião. Ah! É. Eu sou uma pessoa legal, não sou? Chegando em casa levei Ozzy no veterinário que me disse: "Ele está ótimo, só com umas perebinhas, nem vou cobrar a consulta, pode ir para casa com ele". Eu fui. Coloquei ele com meus gatos sadios e gordos. Nestes últimos 3 meses ele não ganhou peso, estava meio tristonho, levei de novo na veterinária, só que desta vez em Recife para fazer exames. "Só um probleminha renal, antibiótico". Um mês de antibiótico e nada. Refaço os exames. "Só uma anemia, 15 dias de antibiótico". Nada. Agora descubro que ele tem esta doença aí, PIF, que é uma linda doença que contamina todos os gatos através de uma bactéria que se passa facilmente de um para outro e outro. Em resumo: terei de fazer exames nos meus 7 gatos que restam em casa, pois Ozzy já está internado sem data para voltar e sem muitas chances de sobreviver, e se estes exames derem positivo... não quero nem completar a frase, pois segundo minha veterinária ela é 100% fatal e contagiosa. Tá com peninha de mim? Calma!
Fui indicada para uma vaga em Recife para ser diretora de arte. Opa, tudo o que eu queria.
- Alô, oi, sou amiga dela, é, para a vaga de direção de arte, é, mandei o curriculo, mandei portfolio, sim. E aí?
- Quantos anos você tem?
- 37 respondo jovialmente.
Preciso completar o que aconteceu? Preciso? Mesmo?
Enfim. Acho que só me resta colocar a dentadura no copo, vestir meu penhoar, minhas pantufas e sair por aí falando sozinha, babando e lembrando como eram bons os tempos que eu era jovem, tinha uma máquina de costura que fazia coisas lindas, era feliz e cheia de gatos.
Sai de mim uruca! Vai procurar um novo alguém para azucrinar, vai?

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

"Mas é Carnaval, não me diga mais quem é você"


Sempre que chega fevereiro eu falo "Adoro carnaval", gosto mesmo, de verdade.
Quando mais nova gostava do Carnaval para dançar nos clubes de Araruama com minha amiga Lanica, nos divertíamos tanto e beijávamos tão pouco, pois acho que ficar toda suada, grudenta e com cabelo seboso, não devia ser muito sexy. Mas íamos para dançar mesmo, sabíamos todos os Sambas Enredo das Escolas de Samba, torcíamos e nos deliciávamos com o Carnaval de verdade.
Para mim foram os melhores da minha vida. Éram 4 dias sem mais nada para fazer a não ser dançar, rir, dormir até tarde, tomar sol e acordar para se arrumar para mais um dia de folia.
Sempre éramos nós 4, Lanica, eu, Rê e Dani, mas sempre chegavam agregadas na casa que nos faziam morrer de ciúmes, eram umas meninas dos shorts curtos e dos cabelos lisos e uma nerd que explicava a teoria da cadência do samba no meio do baile. Fugíamos delas. Deixávamos elas no quarto de baixo e ficávamos no andar de cima nos deliciando com a nossa folia e as nossa cumplicidade de tantos Carnavais.
As histórias começavam em um ano, passavam para outro e outro... são histórias que nunca tiveram fim. Nos víamos só no verão, eu morava em São Paulo e durante o ano trocávamos cartas (ai, que delícia receber e escrever uma carta...).
Não bebíamos nada a não ser água. Não fumávamos, não cheirávamos lança perfume, não passávamos protetor solar, mas passávamos água oxigenada nos cabelos. Não sabíamos se seria o último carnaval juntas, mas dançávamos como se fosse. Tínhamos nossas supertições de sandálias da sorte, shorts da moda, blusas segura cecê.
Trocávamos roupas, mudávamos a marquinha do biquini, pois a soneca de dia era na praia e o bate papo no mar de Iguaba, aquele mar sem onda e salgado até dizer chega, que só de entrar doura tudo até o couro cabeludo que sofria, este sofria, pois para ser loira naquela época era muita determinação.
Época boa. Muito boa. Se eu pudesse voltar para algum momento da minha vida seria para um destes Carnavais, com queijo escondido na gaveta, pentes com cheiro de rosas eram moda, sardas que me acompanham até hoje, calcinhas no ventilador de teto e a amizade? Esta nunca mais vai morrer, pois o que vivemos foi muito mais que muitas amigas que se veem todos os dias. Vivemos o nosso Carnaval de samba desengonçado e risada garantida. Para este ano já fiz minha fantasia e fico aqui, contando os dias para sair com ela por aí. Longe de Araruama, mas sempre com as minhas amigas de folia no coração.

Título o Chico Buarque me emprestou...

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Fragmentos

- Então você acha que pode entregar em casa? Preciso no domingo às...
- Ele me disse para não ligar mais pois estava atrapalhando a vida dele, ele me amava muito, mas…
- Coloca 2 colheres de sopa de creme de leite e mistura até ficar no ponto, depois...
- Não mãe, não dá, ela nem era tudo isso...
- Vamos sim, me liga para marcar o horário, vou estar usando...
- Ah! Não acredito. Não, me conta mais, peraí que vou entrar no elevador, já te ligo...
- Mas depois da separação ele virou o cão, fez cada coisa com ela, outro dia...

Fico tão curiosa com os fragmentos de vida que ouço no elevador, andando na rua, na praia, na fila da padaria, fico imaginando como cada história termina, como cada amor foi superado, cada fragmento poderia dar um filme. Adoro conversa alheia.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Olhares

Sabe aquela sensação de últimos olhares? Todos nós já tivemos… Uns que se tornam realmente os últimos e outros que por sorte nos surpreendem no decorrer da vida.
Lembro do ultimo olhar do meu pai. Ele estava na UTI, começou a tossir, saí de lá e olhei para trás. Nossos olhares se cruzaram, olhar que queria dizer melhora logo, volto depois, olhar que nunca saberia que seria o ultimo. Lembro bem dele. Com as sobrancelhas grossas, sentado, tentando respirar e o olhar de sempre, confortante e amigo, mas tinha certo medo nele.
Lembro de olhares que pareciam ser os últimos, mas não foram. Olhares de amigos de escola que de repente a vida nos empurra para vermos de novo na faculdade, após a faculdade você ainda olha e acha que desta vez será o último, mas a vida nos surpreende de novo e nos coloca frente a frente com este amigo querido de tantos anos em mais uma missão e eis que este amigo se torna seu cunhado, começa a namorar sua irmã e o olhar fica mais leve com a sensação que nunca será o último, pois são pessoas que jamais sairão de nossas vidas por mais que os caminhos mudem, os olhares se transformam assim como os sentimentos e estes são meus olhares preferidos no mundo, olhares que se reinventam.
Quando mudamos de emprego, olhamos para aquele chefe querido e lá vem a sensação de fim de uma etapa e último olhar, mas um dia no supermercado olhamos de novo e ao lado, lá está aquele olhar amigo sorrindo.
Tem o olhar cúmplice. Que não precisa dizer nada, mas diz tanto. Olhar da intimidade. Que só uma irmã ou um marido ou a melhor de todas as amigas nos dá.
Tenho um amigo fotógrafo que quando ando com ele reaprendo a olhar. Olhar as pessoas, as luzes, as sensações, é um exercício que a vida moderna muitas vezes nos priva. Olhar a vida flanando pelos espaços, locais, cheiros e acima de tudo reparar no que o olhar do outro quer dizer, entender cada olhar se ri ou chora, se pede ajuda ou divide uma história.
Cada olhar que se vai, para depois voltar será diferente, com mais peso umas vezes, mas leve em outras, mas sempre será um olhar a dizer algo. Se será despedida ou reencontro? Adeus ou até mais? Só o tempo irá dizer. Por isso me pego olhando. Mudando os olhares. Buscando os olhares. Para não mais perdê-los.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Maratona mensal


Morar longe de tudo requer participar de várias maratonas. A que mais me canso é a maratona do supermercado.
Fazer compras com marido começa assim: “Vou pegar as areias dos gatos e o leite e vou para a fila.”
Como se a base de nossa alimentação fosse areia de gato e leite, simples assim. Para que comprar arroz, feijão, macarrão? Já temos areia de gato e leite.
As filas no mercado de Recife são vergonhosas, assustadoras e indecentes, por isso esta ânsia por ficar na fila que pode chegar a durar mais tempo que fazendo compras, como é o nosso caso, pois com o carrinho cheio de areia e leite lá vai ele para a fila e agora começa a minha maratona digna de medalha de ouro.
Eu vou de corredor em corredor enchendo as mãos de ovos, detergente, volta e coloca no carrinho já na fila, açucar, café, sabão em pó, volta para a fila, faltam duas pessoas na frente dá tempo de pegar papel higiênico e shampoo, fila, arroz, batata, fila, nescau, carnes, peixe, fila, molho de tomate, absorvente, fila, feijão, azeite, sal, fila, óleo, farinha de trigo, fila: “Está chegando a nossa vez! Corre”, bolacha, queijo, vinagre, guardanapo, sabonete, respire, respire Renata, vai dar tempo, coador de café, leite condensado creme de leite, o que cair fica, não me resta muito tempo, sardinha, caldo knorr, corre, respire, vai dar tempo, amaciante, água sanitaria de 5litros pesa muito pego 2 de 1litro, corre vai dar tempo. Não deu, nunca dá, a conta se fecha e eu na minha maratona fiquei ainda com uns 20 intens da lista faltando.
Tempo de supermercado para fazer compra de mês? 20 minutos.
Calorias gastas? 5600 no mínimo.
Cansaço? Imagina? O que é andar 20 vezes pelo mercado todo?
Estrada de volta para casa? 2 horas.
Carregar as compras para casa? Umas 30 idas e vindas, com ajuda do marido para carregar a areia e o leite.
O pior? Mês que vem tem mais.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Jogatina


Adoro jogar buraco, aquele que pegamos o bloquinho, colocamos aquela toalha verde na mesa, porta copos, amendoim, alguma bebidinha que evolui até o licor, talco para separar as cartas grudadas da maresia, janelas abertas para ventilar, som de TV ao fundo e brigas.
Quem nunca brigou no jogo de buraco em família? Xingou? Mandou dar as cartas de novo? Contou pontos a mais? Fez canastra de copas com ouros e embaralhou tudo?
Jogar buraco é a arte da confiança. Pois você só pode ser parceiro de quem você confia, de quem você pode mostrar o seu pior lado, aquele lado obscuro e sabe que mesmo assim, vai te amar acima de tudo, pois não é fácil quando as 11 cartas estão em jogo, lá, prontas para serem baixadas no “campo” verde oliva…
As brigas normalmente começam entre duplas:
- Deste jeito você pega o morto e eu seguro as cartas.
- Não pode falar. É jogo falado? É?
- Não, só quer dizer para ela pegar o morto. E pronto.
- Ah! Tá! Vou cair nessa. Até parece que não te conheço, fica aí cantando o jogo. Se vai roubar fala logo que nem começo a jogar.
- Vale trinca?
- Vale.
- De tudo?
- Vale.
- Assim eu que não vou jogar. Fica chato.
- Fica chato é você cantando o jogo.
- Vamos fazer pipoca?
- Vamos.
E a paz voltava à mesa. Com cheirinho e gordura de pipoca.
E hoje, jogando nestes sites de relacionamento, me pego pensando como conseguem chamar estes sites “de relacionamento”? É tão surreal.
Primeiro tem aquele chat que as pessoas se limitam a digitar: bd, bt e bn. Se você faz alguma cagadinha do tipo não comprar uma carta que devia ou algo parecido, é provável que o chat seja usado para te xingar com palavras abreviadas que eu não entendo e por isso nem sei o tamanho do xingamento, pois vtnc ou svpfdp para mim são apenas letras. Existe ainda o galã do buraco que é aquele que diz “olá”, “de onde vocês são”, “boa sorte gatinhas” e por aí vai a cafonice.
Tem também o “chilique de tia” que é o carinha que abandona o jogo: “estou bravinho, poft, desliguei na sua cara, pronto, acabou, saí do jogo e deixei vocês, hahaha, fui embora e vocês não vão jogar, não vão jogar, la, la, la”, neste caso, basta esperar 30 segundos que outro jogador aparece, simples assim.
E ainda precisamos conviver com as piadinhas no chat do tipo: “fui no enterro errado, posso trocar o defunto?” ou “quem embaralhou estas cartas?” ou “eu dei as cartas certinho, saio de 100 pontos” se tornam brincadeiras muitos solitárias me transformando na doida da mesa. Ops, não era para confessar que sou eu quem faço isso.
Enfim, sinto saudades dos parceiros de buraco, aqueles parceiros bons que topam a jogatina até tarde, contando casos, brigando, rindo, chorando, roubando… e isso me faz pensar como as relações andam assim hoje em dia, a nossa vida anda um grande jogo de buraco de um site de relacionamentos. Ao invés de visitarmos nosso amigos a gente curte sua fotinho com o primeiro sorriso do seu filho ou o video da primeira sopinha de sua filha sem vivenciarmos com eles a experência em si. Me pego sentindo falta da tecla “curti” em diversos casos e situações, pois é mais conveniente existir o “curti”, é mais simples, assim como já senti falta do “command +z” na vida (mas aí seria assunto para 10 anos de terapia se eu acreditasse em terapia).