quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

É Natal e eu tenho 39

E este foi meu último Natal passando dos trinta. 
Acho que estou bem. Não me sinto sofrendo muito em fazer 40. Não sei. Tenho um ano para entrar em pânico ou não. Não sei.
Sei que foi um ano ótimo e estou feliz. Sei que amo o que eu faço. Amo cada dia mais os meus filhos Fuka, PTK e Zézinho ou o trio felino de Preto, Sócia e João. Sei que amo muito meu marido e a sua companhia é deliciosa. Sei que amo meus gatos e as escapadas noturnas de Elza, Galego, Pudim e Lampião. Sei que amo o jeito berrento do Garrincha, a delicadeza da Little, a safadeza do Gato e a falta de noção do Minduim. Sei que amo meus clientinhos. Amo minha família, amo a mnha irmã, minha mãe. Amo minha afilhada e minha amiga que me deu uma afilhada. Sei que está tudo bem. Muito bem.
Por isso hoje, em dia de celebração, desejo que todos sintam isso. Esta paz em dizer: Está tudo certo. Tudo como deveria ser na minha vida. Mesmo com uma casa caótica, com um bicho morto no telhado fedendo, com a grama ficando seca, com o mofo no jardim, com o ventilador quebrado, sofá rasgado. Está tudo bem. Mesmo com uma ex sócia meio sei lá, mesmo tendo uma raíz branca que cresce rápido demias, uma praia que eu ando curtindo bem pouco, duas gatas de rua para castrar e esta mania de postergar, está tudo bem.
Feliz Natal a todos. E se 2014 igual for igual, já vai ser legal.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Era um simples cafézinho


Elas tinham uns 70 anos cada uma, caminhavam pela rua enquanto eu estava sentada sozinha tomando um café no meio da tarde. Estavam tão alegres, uma era mais ágil, a outra andava já dando os braços para se apoiar. Começaram a gargalhar, uma risada gostosa de fazer chorar, daquelas que aposto que nem se lembram mais porque riam ou de quem riam. Devia ser uma lembrança da infância ou uma amiga em comum que tropeçou. Adoraria saber o motivo. Tiveram que se apoiar e uma pedia para a outra parar de falar, senão passaria mal. E eu ali, sentada, sozinha tomando meu café, que a cada segundo parecia mais sem graça diante da alegria daquelas duas.
A alegria delas fez eu me sentir sozinha e com saudades de uma gargalhada gostosa com uma amiga, saudades de uma mesa cheia de fofocas com sobremesas, saudades de família, de mãe e de irmã para se unir na hora de tirar sarro. Bateu uma saudades de querer esperar pelo final de semana.
Deviam ser primas ou irmãs, deviam frequentar o mesmo clube de tranca, ninguém gargalha com tanta vontade assim. Com inveja e meu café esfriando, tentei contabilizar quantas pessoas hoje eu tenho na minha vida que me façam rir daquela maneira?

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Aquele estranho

Ele estava ali, de costas, com suspensório e camisa quadriculada, fui olhando mais atenta com o meu coração aprertando, calça jeans larga virada na barra e uma papete (- ops, papete não, sandália masculina - ele diria). Tive medo de ver de frente, mas o cabelo era farto e grisalho, nariz grande e sobrancelhas desgrenhadas, bagunçadas e grandes. Olhei de novo e vi um cigarro na mão e uma barriga, ah! Uma barriga bem grande. E em segundos me vi ali, na rua chorando.
Seria estranho eu pedir para este estranho me abraçar? Seria muito estranho eu cheirá-lo e suspirar ao lado dele para matar a saudade? Seria muito se eu lhe pedisse para sorrir daquele jeito moleque de menino fazendo arte?
Continuei andando e chorando por uma saudade acumulada. E nesse choro já inevitável de ser escondido pelo meio da rua, andei e imaginei quanto tempo que não ouço sua voz. Não me lembro muito dela. Mas queria tanto conversar com você, te contar minha vida. Ouvir você me dizendo que eu era a mais bonita, mais esperta, mais inteligente, com os cachorros de rua mais lindos, que tem o melhor petshop do mundo, que era tão perfeita, tão maravilhosa, que fazia a minha vida ser perfeita e maravilhosa de verdade. Fazia eu ter forças para acreditar em mim.
Sabe pai? Quando tudo está um caos e eu acho que nada vai dar certo, ainda lembro do quanto você me fazia acreditar que eu era tão especial que nada podia dar errado. E é verdade. Nada tem dado errado, mas queria muito ouvir isso de você. E hoje só me restou querer abraçar aquele estranho fedendo a cigarro, mas que era tão parecido com você fisicamente que me deu muitas saudades e vontade de agradecer pelo seu carinho de toda vida que me faz muita falta hoje.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Bom humor


Uma palavra define a minha mãe, ou melhor, duas: bom humor.
Minha mãe é muito bem humorada, aliás sempre que peço algo a Deus, é que eu herde este bom humor.
Ela cria as gírias próprias e se diverte com elas, ela encara as mudanças da vida de forma criativa. Recentemente, para economizar e aumentar a renda, se mudou de seu apartamento, grande, espaçoso em um bairro nobre e foi morar em um menor ao qual chama de: chatô. Seu chatô fica no bloco 4, mas isso é apenas mais um motivo para rir.
Se a vida fica difícil, ela se arruma toda no dourado e sai de casa para levantar o astral, ou vai ao Santa Maria fazer compras chiques para um lanchinho relembrando os aureos tempos. Isso é bom humor.
Ela já ficou só de calcinha em plena escada rolante do Shopping, já caiu na rua e se agarrou nos cabelos de uma mulher a sua frente, já deu rasteira em trombadinha, já riu de histórias trágicas na cara do protagonista, cria apelidos fantásticos para as pessoas.
Ela fez aniverário, mas este não é um post de aniversário. É só para eu me lembrar que quando tudo, tudo mesmo estiver perdido, ainda me resta o bom humor e minha mãe para me divertir, claro.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Onze



Já perdemos empregos, um de cada vez, os dois juntos, um depois o outro; viramos ciganos, a vida sempre nos afastando um do outro e íamos atrás de nossos sonhos e de nós mesmos; perdemos amigo, pai, filhos; passamos muitos apertos financeiros, infinitos; mudanças de casa em casa; abrimos mão de sonhos... Mas aqui estamos, 11 anos depois...
E eu só consigo pensar e lembrar de porque me apaixonei por você, aquele menino doce, cheiroso, com voz macia, jeito tímido comigo e despachado com os demais, lembro do seu olhar de tartaruga me chamando de minha pequena, do se jeito orgulhoso me mostrando nossas alianças, a chegada do Fuka, seu olhar de menino em dia de Natal recebendo um cachorrinho, este menino que eu queria cuidar para sempre. Nossos jogos de gamão, buraco, nossos nic pics, nosso mundo se fechando mais em nós mesmo, nossos olhares cúmplices, nossas gargalhadas antes de dormir, nosso frescobol gostoso, nossas idas a Recife cantando "Filha da puta" em voz alta, nossas frases completadas por nós mesmos, nosso fliperama, nossos papos durante o jornal (que você odeia), sua amizade, seu pé se aquecendo no meu, nossos filmes de terror, nossos dedos se encostando, minha cabeça escondida no seu peito, sua dignidade, o jeito como você trata seus amigos, seus sonhos, sua força, sua coragem de ser especial e de saber lidar com isso sendo você mesmo e isso me faz admirá-lo muito.
E é este amor que só cresce que eu sinto por você, eu quero para sempre comigo. Casal como a gente, companhia gostosa como a sua, sei que jamais encontrarei. Te amo. Meu amigo, meu amor, meu anjo, minha vida. Feliz 11 anos de casamento.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Registrando

Hoje acordei com muita vontade de escrever, mas não sabia mais por onde começar. Cachorros, casa, marido, Porto? Escrever era a minha lição de casa, minha paixão. E hoje escrever me faz falta, assim como sinto falta de tocar violão. Dó sustenido nem sei mais onde fica.
Fiquei pensando nos sonhos que deixei pelo caminho, fiquei me sentindo culpada e culpa era tudo o que eu não precisava sentir. Mais culpa. E tentei eliminá-la da minha vida. Não vou mais me culpar por não fazer o que gosto nas minhas horas livres, tocar violão, escrever, ler, costurar... Pois hoje eu faço da minha vida e do meu trabalho, a minha diversão, hoje eu faço algo que muda vidas e que eu acredito nisso.
Tenho meu próprio Petshop e nunca fui tão feliz. Atender clientes de primeira viagem, roupinha, caminha, ração boa, banho, ensinar como cuidar de um cãozinho ou de um gatinho, achar um animalzinho que procura um lar e este lar achar seu animalzinho, os clientes que se tornam queridos, o cachorrinho que se torna especial, o gatinho que eu conto os dias para rever... Tudo isso tem me feito muito feliz.
Passar dos trinta com este blog tão largadinho tem sido triste, pois sou muito feliz por aqui, mas viver uma alegria plena como a que eu vivo hoje, me faz muito bem. Vou tentar parar de ser política e escrever de verdade por aqui. Tenho muitas histórias acumuladas. Hoje só queria registrar que me sinto muito feliz.

domingo, 9 de junho de 2013

Domingo

Não é que eu esteja sem assunto e por isso sumi do blog.
Não é por eu não estar sentido nada que não tenho escrito.
Acho que estou em um momento de indignação com muitas coisas. Baixou uma indignação com o mundo que tem me deixado meio com preguiça de gente. Preguiça até de escrever o que eu penso dos assuntos do dia a dia. O que vale a minha opinião sobre o que tenho visto pela TV, as diversas perversidades dos homens? Incendeiam dentista por ter pouco dinheiro, estupram turistas ou passageira em ônibus, menores matam, boate mata centenas de jovens e nada está acontecendo, aeroportos sofrem arrastões, mães chutam cachorros como ensinamento aos filhos, filha enforca mãe por 15 mil reais, políticos não são punidos, índios atrasando o progresso em pleno século XXI e é o Neymar que não sai da mídia.
Parece que eu estou meio fora do mundo a minha volta, por não estar achando estranho tantas coisas erradas acontecendo com a sociedade e nada mudando ou dando indícios que irá mudar.
Copa das Confederações? Pra que? Imagina os turistas vindo pra cá e a estrutura das estradas, aeroportos, saneamentos, transportes, segurança, nada mudou, só ouço mais e mais violência. Ainda bate aquela sensação de Eric morreu e muitos outros Erics estão morrendo, trabalhando, batalhando honestamente e a impunidade só se consolida em mim. Enquanto a mídia e nós como sociedade continuarmos nos calando, votando errado, aceitando as coisas erradas, compactuando com o descaso. Nada vai mudar, jamais saberei quem foi que matou nosso amigo querido, meu marido jamais verá a justiça ser cumprida pela morte de seu irmão de vida e outras famílias continuam passando por isso, tenho tido a sensação que existem mais pessoas más do que boas no mundo. Tenho ouvido mais estórias tristes que felizes. E isso é ruim. É ruim lembrar de um domingo que não volta mais.

quinta-feira, 21 de março de 2013

No busão

Nunca fui da turma do busão, fui criada cheia de mimos e cuidados, então andar de ônibus para mim era algo fora do meu dia a dia. Porém, esta semana fui fazer um curso em Recife e como agora moro numa vila e não tenho carro, quando vou para a cidade grande tenho que sobreviver ao famoso busão e segue aqui um guia prático de minhas análises da semana:
• ao entra no ônibus, dê bom dia, boa tarde ou boa noite, mesmo sabendo que não será correspondido e antes da catraca, repita a ação, mesmo sabendo que também não será correspondido, sorria;
• se tiver dinheiro trocado, dê, não economize suas moedas, pode ser a sua salvação contra o mal humor do cobrador;
• procure sentar perto de pessoas que pareçam ter bom papo, isto faz o tempo andar mais rápido;
• se não conseguir, procure um lugar longe do sol, lado esquerdo do ônibus antes do meio dia e direito depois (pelo menos na minha rota, pesquise a sua antes);
• se não tiver como sentar, nem pegue o ônibus, espere o próximo, pois nas curvas, nos buracos e inclusive nas freiadas sua coluna vai agrdecer;
• piranha. Tenha sempre uma, se o ônibus estiver cheio por você não ter obedecido a regra anterior seu cabelo pode ficar preso entre as pessoas e isso não é legal;
• procure novos caminhos e novas rotas, é sempre uma surpresa quando o caminho é novo;
• se pela janelinha ver algo interessante na rua, não desça. Lembre-se do lugar e vá outro dia sem compromisso, pois o próximo ônibus vai demorar 40 minutos pelo menos e você, que de longe achou que era uma blusinha incrível, de perto vai ver que ela tinha tecido que dá cecê;
• não caia na tentação de pegar um táxi. Pense na economia de 1 semana de táxi e gaste comprando um novo shortinho lindo na Farm;
• pessoas com celular, evite. A não ser que o papo pareça ser cheio de reviravoltas;
• desça do ônibus duas paradas antes da sua, isso vai fazer com que você chegue com uma carinha melhor no seu destino e ainda emagrece;
• faça amizades no ponto do ônibus. Lá você acaba tendo altas dicas de rotas, apesar de não usar nenhuma sugerida por medo de se perder, mas você fica sabendo que é possível ir além;
• se o motorista resolver não parar onde você gostaria, não adianta berrar, gritar nem ficar dizendo: "Desce, desce". Ele vai te ignorar até ele ter vontade de parar e pronto. Você perdeu sua parada, a sua bela voz e seu ar balsé vai para as cucuias;
• fone de ouvido. Não leve, não use, não, não e não. É tão antipático e é tão gostoso ouvir o barulho, você vai agradecer quando o silêncio voltar;
• livro é bem vindo se não quiser papear, mas não leia se o seu ônibus for aquele que tem uma sanfona no meio, eles pulam muito mais e você pode acabar enjoando ou ficando vesga;
• crianças por perto. Fuja. Por motivos óbvios;
• senhoras de idade. Fuja. Por motivos mais óbvios ainda;
• se você ver que no ônibus tem "aquela" turma de camisetas iguais saindo de uma escola. Fuja. Fuja. Fuja mesmo. E esta é a regra mais importante, pois eles fazem do ônibus uma extensão da hora do recreio. Voa papel, voa. Voa tapa na cabeça, voa. Voa empurrões, voa. E se algo te atingir ouvirá em alto e bom som: "Desculpa aí, tia!"
Aprendi ou não aprendi muito esta semana no curso?

quarta-feira, 13 de março de 2013

Promessas de 2013

Este ano prometi apenas uma coisinha "não ranzizar com a vida". Acordei dia 1º de janeiro e disse para mim: "A partir de hoje nada vai me alterar, me tirar do foco, me deixar brava, nem vou ranzizar com as coisas pequenas". Estou há alguns dias cumprindo isso, duros e longos dias...
Na padaria:
- Moço, este pão é de agora? Tá fresquinho? Tá gostoso? Crocante?
- Tá sim. Quantos vai querer?
- 6.
Chego em casa e o pão é aquele pão que só quem mora em Porto de Galinhas sabe, é horrível, murcho, sem gosto. Respiro, como e não reclamo. Ufa, foi um teste leve, me mantenho na promessa, ilesa.
No telefone recebendo ligação do banco para me vender um plano de previdência:
- Não, eu não quero. Obrigada. Aliás eu já disse isso da primeira vez que vocês me ligaram em 2012 ainda, mas tudo bem, viu? Quero não, obrigada.
- Mas já explicaram o que é este serviço?
- Já sim. É um plano de previdência.
- Não. É um plano de juntar dinheiro que ainda recebe bônus todo mês e em 30 anos você tem uma aposentadoria segura, bla, bla, bla...
- Não, obrigada.
10 minutos depois...
- Não, Sr. Banco, não quero.
- Mas não é um plano de previdência, é um plano de juntar dinheiro que ainda recebe bônus todo mês e em 30 anos você tem uma aposentadoria segura, bla, bla, bla...
- Meu Senhor. Hoje é dia 3 de janeiro e prometi não ranzizar faz 2 dias. O senhor vai fazer eu descumprir minha promessa e brigar com o senhor. Já disse que não, mas muito obrigada.
2 horas depois...
- Não. Eu não quero, seja lá o nome que vocês dão para este serviço. Não, obrigada.
38 dias depois...
- Fala sério? Que parte do me tirem do mailling, parem de me ligar, não encham meu saco, vocês não entenderam? Moça. Eu jurei não me estressar este ano, mas não abusa, por favor.
Hoje em dia... Já decorei o número do banco e não atendo mais as ligações. Ufa parte 2, mais uma vez ilesa, juro que reclamei muito menos do que deveria.
Mas hoje algo me tirou do sério e vocês, amigas, leitoras, queridas confidentes vão entender.
Eu assino um site de horóscopo que me atualiza quase que diariamente com as mudanças do meu mapa astral, ok, como alguém se estressa com o horóscopo? Mas acontece que ele chegou assim: Alerta Vermelho, cuidados redobrados, tome muito cuidado com Marte na casa 7 e a lua na casa 8, não saia de casa, não fale com amigos, não feche negócios, cuide da saúde especialmente nos dias...
Fim do texto! Como assim fim do texto? Que dias? Como vou saber que dia eu tenho que me manter em casa, linda e intacta. Quem pode me salvar? Como vou ficar sabendo o final do texto? Que cara de pau deste site, depois eu ranzinzo e vão dizer que eu não tive força de vontade em manter a minha promessa.
Mando um email para o site: Senhor site, bla, bla, bla, socorro, me digam quais dias devo ficar em alerta máximo.
Resposta do site após 1 semana: Sentimos muito, porém nossas previsões astrológicas são pessoais e intranferíveis, não temos como refazer seu horóscopo daquele dia, peço que continue contando conosco e desculpe nossa falha.
Eu podia ter morrido, brigado com os amigos, falido, ter sido atropelada, pego uma doença grave e jamais vou saber os dias que eu estava correndo este perigo. É ou não é motivo para descumprir a promessa e ranzizar? Ufa parte 3. Estou a zero dias sem ranzizar. Agora vai 1, 2, 3 e valendo...

segunda-feira, 11 de março de 2013

Brincadeira de criança

Nesta atual busca pelo que fazer no que eu chamos de 2º tempo da minha vida, tentei me lembrar do que eu gostava de brincar quando era criança, forcei minha memória quase "amnésica" e me lembrei do meu "escritórinho" da casa da tia Helena, lá era o cantinho oficial das brincadeiras, na verdade é um corredor secundário que liga o escritório de verdade, na época coberto de livros de Direito e de Medicina, para os quartos passando por trás dos banheiros. Ele é cheio de janelas com vista para os fundos de outros prédios com um grande pátio no meio.
Ele era todo bonitinho e meio esquecido do resto sempre movimentado da casa, o que me deixava sozinha por horas e horas. Achando lá no fundico da minha memória o lugar das brincadeiras, veio com ele o cheiro de massinha colorida misturada com cheiro de livros velhos, sabonete, frascos de perfumes vazios e todos os demais cheiros que viravam brincadeiras.
A minha preferida era de professora, arrumava todos as bonecas e ensinava algo para elas, provavelmente contava uma história de Monteiro Lobato, pois neste "escritórinho" ficavam os livros infantis. Li neste cantinho mágico todas os livros da série "Inspetora" e seu grupo de "detetives adolescentes" o nome do grupo era algo com uma coruja de papelão, não lembro ao certo. Eram livros incríveis que me fazia agradecer estar neste cantinho esquecido da casa.
Brincava também de secretária de consultório, onde eu tinha um fichário azul com várias fichas, cada uma de uma pessoa "famosa" Joaquim Nabuco, Santos Dumond, Princesa Isabel... que para mim eram clientes imaginários, com horas agendadas.
Gostava também de ser dona da doceria mais criativa de Copacabana. Meus doces de massinha faziam sucesso, eram muito bem produzidos, com variedades de formas e cores de acordo com os sabores. Cliente imaginário chegava na minha doceria e eu já ia informando os sabores "Tem este de nata com chocolate, este de morango com chantily, este de creme com granulado... Quer provar? Quer levar? Quantas gramas?"
Adorava brincar também de mocinha do banheiro, aquelas de rodoviária, que quando alguém entra distribui o papel higiênico normalmente insuficiente para um mísero xixizinho, pois bem, ninguém fazia suas necessidades sem a minha autorização na casa. Era uma brincadeira que me deixava muito tempo ociosa, por isso nos momentos de ócio, oferecia água para as pessoas assim elas teriam vontade de fazer a próxima visita ao meu banheiro mais cedo.
Mas hoje, passados uns, cof, cof, hum, hum, 30 anos destas brincadeiras, me vejo olhando para outras janelas, não tão mágicas e nem tão cheias de vida. Me vejo olhando por janelas imaginárias que me fazem questionar o mundo que mudou sem me perguntar se eu queria que ele mudasse, me questiono se todas estas histórias foram reais ou mais uma parte da farta imaginação de uma criança que lia muitas histórias e as vivia como podia.