sábado, 16 de junho de 2012

O nada

Hoje eu não quero falar sobre nada, não quero falar de algo ruim ou bom, pois ambos não me cabem hoje, o nada preencheu um espaço significativo. O nada de observar a lagartixa que mora atrás do quadro e sai na calada da noite para se alimentar dos mosquitos, o nada que é a vida dela diante de tudo mais. Observo apenas e lembro de um livro que li, onde a lagartixa narrava a história. Será que ela obsverva tudo e depois vai contar esta história aqui? O que será que ela diria? Escreveria sobre o nada também que minha vida anda? Escreveria sobre a quantidade de mosquitos que nos rondam com os SBP's em nossas mãos?
Será que o nada poderia virar uma história? Que nada para mim hoje é a vida dela, da tal lagartixa que só engorda e mora atrás do quadro que nunca tirei da parede, veio com a casa e não me diz nada. Natureza morta, mortíssima, acho que tem maça e flor no quadro. Para mim? Um nada.
Será que o nada sou eu? Ou o nada é o que nos tornamos quando não fazemos nada? Será que o nada se instala sem percebemos para tomar o lugar do tudo. Será que as palavras que ouço já nada me dizem, nada me chocam?
De madrugada tento achar o nada que me encaixo e lá vem ela a lagartixa se alimentar, ela vai rápido para o outro canto da sala, sai da sua zona de conforto e enfrenta a sala, sai do quadro nada, para comer um mosquito do outro lado de tudo que o nada dela significa. Não mato o mosquito antes, deixo ela se alimentar, nutri o seu nada, alimenta meu nada.
De repente me vejo com inveja da lagartixa, ela foi corajosa, enfrentou o mundo dela, foi até o outro lado do mundo para se alimentar, sobreviver para quê? Que inveja o nada me deu.
Será que um dia vou me sentir cheia de novo? Cheia de vida, de sonhos, de vaidades? Será que dentro do mundo que vivo eu posso me aventurar? Tenho forças para atravessar a minha sala e me alimentar? Eu sou agora a lagartixa e ela é o meu nada, mais nada dos nadas, onde o nada vira tudo para sobreviver, e viver. Ah! Me dá até vontade de chorar imaginar por onde começar meu mundo de novo? Será que ela pode me ensinar algo? Será que ela me diz onde está meu mosquito que me alimente e que não se alimente de mim? A vida atrás do quadro nada. A vida na parede vermelha feia, onde o quadro nada fica, não tem sentido existir, não tem porque continuar ali, mas não vou tirar ele de lá, nunca. Não tenho forças de virar tudo no mundo nada de alguém.
Sei que depois que ela engordar e ficar meio molenga, menos ágil vai virar comida dos meus gatos, que não vão comê-la, vão apenas matá-la para brincar, sei que eu vou ter que um dia pegar a pá de tirá-la de algum canto, sem o rabo e jogá-la fora, no nada.
E isto tudo faz sentido?

2 comentários:

Anônimo disse...

amiga, hoje eu pegaria o seu post e o faria meu, sem tirar nem por...
beijos
Claudia

Renatinha disse...

Ah! Clau, tem dias que só o nada explica tudo, ne? beijos e saudades de vc
Re