sábado, 3 de novembro de 2012

Matemática com amor

Várias vezes tentei entender o relacionamento dos meus pais. Parecia ser um casal que não combinava em nada. Minha mãe, leonina, exuberante no alto do seu "metro e meio", mandona, bem mais pé no chão que ele e debochada. Meu pai, um sonhador. Até que num flash do passado, entendi tudo.
Relembrei aos poucos de inúmeras cenas em que eles se uniam. Talvez eles nunca tenham reparado nisso, mas a matemática unia os dois, a paixão por números, por desafiar cálculos e problemas de lógica. Uma Professora de matemática casada com um Engenheiro de minas.
Minha mãe dava aulas particulares e às vezes se perdia ou esquecia alguma matéria e recorria a ele, que retribuia pedindo ajuda em algum cálculo que ele precisasse fazer para suas implosões. Forravam a mesa de vidro com a toalha branca. Meu pai com sua lapiseira bege 0,7 e o bloco impecável de quadriculados bem fininhos e azuis; e minha mãe com um lápis cotoco e uma borracha na ponta meio carcomida e uma folha avulsa toda bagunçada, logo ela, tão organizada sempre, mas quando o assunto era desafio era improvisado mesmo.
Não existia internet para se consultar as fórmulas, era de livro em livro, apostilas velhas e durava o tempo que teria que durar, podia durar horas, dias, mas o problema seria solucionado. Que lembrança gostosa. Acho que gosto de matemática por isso. Acho que estes momentos me mostravam que matemática era amor, paixão, não somente números vazios.
E acho que cada relacionamento tem que ter isso, este fio que une e que sustenta toda a chatice da rotina da vida a dois. Basta descobri-lo. Seja ele encontrado na matemática ou não.

Um comentário:

Grá disse...

Q lindo esse texto !
Eu tb adoro matemática (já q sou Eng. Civil, e agora trabalho com Sistemas... rs).
Mto bom ter essas lembranças de nossos queridos que já foram, né ?
Perdi minha mãe fazem quase 2 anos... e me lembro com carinho dela nas mesmas comidas e "temperos" que uso hoje em dia, claro, todos aprendidos com ela !!
bjs
Grasi