quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Um pouquinho de nostalgia

Desempacotando caixas passou um filminho da minha vida, são tantas lembranças em formas de objetos, muitas vezes sem valor nenhum, com histórias que são só minhas.
Um livro do "piu piu e frajola" que eu ganhei do meu mendigo quando eu tinha 3 anos, ele era meu mendigo pois todos os dias depois do almoço tínhamos que ir até a esquina da Barata Ribeiro em Copacabana onde ele ficava, levava comida e batia papo com ele, minha mãe me levava e eu dona de mim no auge dos meus 3 anos, ficava lá com o meu mendigo, ele comia e depois levávamos o prato de volta, todos os dias este era o caminho depois do almoço, antes dele mudar de "morada" ele me deu este livro, que guardei até hoje; uma caneta escrito Renata que meu tio Antônio me deu, aquele tio que eu jurava que era o Chacrinha; um avental com uma vaquinha pintado pela minha tia Helena; uma canga que comprei na última viagem com meu pai, a super 8 que ele me deu para eu ser cineasta; um quadro com uma foto tirada quando meu afilhado fez 18 anos em que os 5 primos estão juntos e felizes, coloquei perto do meu cantinho de trabalho; meu vestido de casamento; meu palhaço que estava na mesa de bolo do aniversário de 1 ano do filho de uma amiga, e de tanto elogiá-lo ela me deu, o que causou grande discórdia entre as amigas dela; um livro de costura que a Cláudia me deu como incentivo para meus futuros empreendimentos; uma Barbie Yasmim que ganhei da Kiki quando engravidou.
São muitos fantasmas, saudades, momentos que não voltam mais, mas que gosto de saber que estão perto de mim, gosto de vê-los como amuletos da sorte recheados de certezas e que preciso deles para me sentir em casa. Agora que tudo está no seu devido lugar, cachorros no quintal, caixas na reciclagem, estante da sala arrumada, sobra energia e força para recomeçar com o pé direito. Amanhã, que venha o sol para eu usar meu protetor solar novo.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

A chegada

Chegando em Porto só queria a minha cama, meu sono, meu sol e toalhas limpas, porém, nem tudo são flores nesta vida, entrei em casa e vi 81 caixas, é, minha mudança constava de 81 caixas, e todas elas estavam na sala, arranjei um cantinho no quarto para dormir. Dormir? Eu sonhava com isso, mas não, as emoções de 4 dias de viagens não acabam assim. Seria lindo chegar e tudo estar pronto te esperando, mala desfeita, cama pronta, papel higiênico no banheiro.
E como dureza nunca vem sozinha, Zézinho brigou com o Gagato (é, gente eu tinha um gato) e ele fugiu (o gato, não o Zézinho), PKT brigou com Fuka, Tróia (é, gente eu tenho uma rotweiller também, chamada Tróia) brigou com PTK, e em certa hora da noite todos brigaram com a gata prenha (é, gente tem ainda a gata prenha que vem comer em casa). Separadas as brigas, "mertiolate" para todos os curativos, veio a fase da cerca que não segurava Zézinho, Gagato que não voltou para comer em casa, pererecas pulando em mim, pernilongos não me deixando dormir.
Com as olheiras na altura do nariz, desmaiei na cama, ai que soninho (bocejo com espreguiçada), vento forte, varanda do quarto balançando cortinas. Sol nascendo, 7 da manhã de pé (nem na época de escola acordava tão cedo), hora do moço que vem limpar o jardim. É, eu tenho um jardim, cachorrada acordou de bom humor, sem brigas aparentes, desempacotando caixas. Sol? Praia? Aonde?
Ainda não vi o mar, o que pensando bem me faz crer que ainda não cheguei em Porto, estou numa espécie de purgatório antes de ir para o paraíso, vou desembrulhar a caixa nº 54 e já volto com a vida no lugar, depois de achar o Gagato.

PS. O nome é Gagato pois eu acho que ele é gago, acho não, tenho certeza. Absoluta.

sábado, 26 de setembro de 2009

Porque eu mereço

No segundo dia de viagem, dormimos em Jequié no único hotel da cidade que aceitou a galera, os cães não os sogros. O quarto era daqueles que você chora, roupa de cama desencontrada, banheiro imundo, a toalha de banho era tão dura e encardida que preferi me secar no sereno, mas na hora de ir embora eu vejo o tapetinho da entrada "Porque você merece!" Com exclamação e tudo, aí eu pensei, não, eu não mereço, isto é o anti slogan. Pensem "Porque você merece!" o quê? Mereço o carro de som na porta? Mereço os berros do culto da igreja que fica dentro do hotel? Mereço aquela toalha dura? Mereço os pernilongos? Mereço o café da manhã com risoles frito? Mereço o ralo do banheiro estar entupido e eu ter que desligar o chuveiro antes de nadar pelo quarto?
Mas como nem tudo no mundo pode ser assim tão sofrido, chegamos hoje em Aracaju. Que surpresa de cidade. A gente pensa em um Nordeste sujo, com axé, forró, sujeiras na rua, poluição visual e sonora, praias lotadas, trânsito infernal, tapioca pra todo lado, pois pensava assim por não conhecer Aracaju. Uma capital que é linda, limpa, prédios lindos, sem sujeira na rua. Aqui sim devia ter o slogan "Porque você merece!" Exclamação! 3!!!
Amanhã chego em casa, preciso me acostumar com a ideia de falar minha casa, pois minha casa tem grama, minha casa tem varandas, minha casa tem árvores, minha casa tem banco no jardim, minha casa é de tijolo, minha casa fica pertinho da praia, minha casa é em Porto de Galinhas, ou como diriam lá em Jequié, porque eu mereço!!!

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

3 horas ou 2672 km?

Podemos pegar um avião e em 3 horas estar longe da nossa cultura, nossa terra, dos nossos amigos, ou... ir de carro.
De carro vamos vendo a passagem da paisagem, a mudança da cultura, sentindo o aperto do peito minguar, dá tempo para as lágrimas secarem e a respiração aliviar. A distância devia ser contada em quilometros, metros, amigos esquecidos, nunca em horas.
Posso viajar de avião e em poucas horas estar em lugares tão distantes e nunca perceber o quão distante estamos do ponto de partida.
Para virar nordestina tem que fazer tudo direitinho: pega um carro grande, PTK, Zézinho, sogra, sogro e eu. Biscoito povilho. Obra na estrada. Ração. Água quente. Estrada, estrada, estrada. Primeiros 800 km de viagem, chegamos em Ipatinga e aos poucos vou deixando lá atrás a saudade e ficando mais ansiosa para a nova vida que me espera. Onde será que vamos estar amanhã?

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Dia cinza


O dia está cinza, nesta São Paulo, assim é mais fácil me despedir, pois adoro esta cidade com sol. Nos dias cinzas lembro que existe calor, existe sol, existe mar num lugar distante. Deixar esta São Paulo num dia cinza é fácil, fácil, fácil demais, o difícil é deixar as pessoas que moram dentro do dia cinza. Difícil é voltar a me sentir em casa numa cidade que não é cinza, não tem prédio, não tem o ar pesado daqui. Difícil vai ser acreditar que aquela vila distante vai me acolher e em breve chamarei de "lar".
É doído deixar algo que acostumamos, mesmo que caótica, a nos identificar. Reclamando do trânsito, sei que sentirei falta de pensar na vida enquanto fico parada na Berrini, sentirei falta do caos, da cidade que eu sempre disse que só existe, se entende e amamos, pois ela pulsa.
Pulsa num compasso de misturas e ideologias. Uma cidade que administra as diferenças, os desecontros, os desconfortos. Cidade que une, se choca e assim renasce, pulsando, batucando, se reinventando.
Adoro a São Paulo que pensa e sofre, e que da sua maneira torta de ser, acolhe. Sentirei falta de chamá-la de lar.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Noite Feliz

Bolinho de bacalhau, pastel de bacalhau, um português divino rondando, o chef da cozinha lindo de morrer, difícil escolha para 3 mulheres animadas, êta mulherada animada, cada história que ouvi ontem... este blog não vai ficar sem assunto por bons meses. Vivi com seu jeito doce e adorável, Claudia com suas histórias impecáveis e divertidas, eu lá, sem saber para onde rir. Garçom passa, varre, cadeiras pra cima, portas se fecham e nós lá, sem querermos ir embora.
Obrigada meninas por uma noite tão agradável, em fevereiro marcamos outro encontro com minha nova amiga real e minha amiga e ex vizinha de sempre.

Alan, amei meu presente, vai ficar lindo na casa nova.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Manhê, o caminhão da Granero chegou...

É, o caminhão chegou, os homens embrulharam minhas coisas, eu chorei, confesso, este foi meu cantinho de muitas alegrias, algumas tristezas, um monte de dúvidas, poucas certezas. Foi meu cantinho de solidão. Minha toca com uma rede no meio da sala. Minha janela até o chão. Minhas paredes laranja. Meu aquecedor ao pé da cama. Meus cachorros pulando. Meu chão de pelos. Meu ofurô improvisado.
Minha certeza de que consegui viver sozinha, aprendi a gostar da minha companhia, sei me virar. Minha casa que abrigou meu choro no cantinho do chão na fase mais difícil da minha vida. Minha casa que não tinha fogão. Um olho grego na porta. Uma proteção japonesa na entrada. Um astral. Um sol. O barulho da chuva. Um silêncio...
A casa vazia faz eco. Parece sem vida. Aparece em um passado distante demais.
Casa nova, vida nova. Aqui vou eu.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Quem quer comer bolinho de bacalhau?

Como todos sabem este blog passará a ser escrito lá de Porto das "Priminhas" como diz a Claudia, e para comemorar esta nova fase do Passei dos Trinta e atendendo os longos pedidos da Vivi (rs), vamos fazer um encontro. Dia 17. Lá no Seo Gomes - Rua Gomes de Carvalho, 1214, Vila Olímpia. Umas 19hs? Quem vai é só berrar sim, mas lembrando que só vale para quem passou dos trinta, ou está quase lá.
Vou adorar conhecê-las.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Orgulho


Do meu padrinho de casamento, meu estagiário, meu chefe, meu amigo, e agora é este cara que faz estas jóias incríveis. Preciso dizer que quero uma de cada?
Entrem no site e confiram.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

25th Avenue

Dia feliz começa cedo, com trânsito e barulho.
Dia feliz começa com fila no estacionamento, mal humor de funcionários.
Dia feliz começa no shopping perto da 25, lá, até IPhone é vendido por 250 reais. Onde de repente ouvimos berros: Fecha, fecha, fecha e num piscar de olhos fecham todas as portas e eu e minha mãe correndo do "rapa". Vai que nos confundiam com os Coreanos?
Dia feliz é parar numa loja de coisinhas de cabelo e achar uma peruca incrível, e comprar duas.
Dia feliz é não saber mais viver sem a peruca.
Dia feliz é comer Mc'donalds, passar álccol gel na mão a cada 2 minutos, correr dos espirros e pensar que devia ter levado uma máscara.
Dia feliz é levar bronca de estranhos pois não conheço as leis da 25 onde não se pode parar em cada barraca que atrapalha o fluxo de gente.
Dia feliz é às 3 da tarde parecer que levou uma surra.
Dia feliz é comprar um termômetro digital por 5 reais.
Dia feliz é chegar em casa e ver que comprou um pen drive que não funciona.
Dia feliz é ir na 25 com minha mãe, rir o tempo todo e ainda chegar em casa e ver que tem uma peruca linda para usar.
Alguém me convida para sair? Quero usar minha peruca.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Desafinando

Meu som do carro quebrou, agora ando com meu mp3 lotado de bossa nova. Porque ele tem tanta bossa nova? Eu sempre me pergunto isso.
Mas ao som de Desafinado fui entrando no meu bairro com o solzinho do final do dia, as plantas felizes, os cachorros passeando, os ônibus escolares voltando e me deu uma nostalgia "a la" Manoel Carlos quando vi que um novo prédio começou a ser construido hoje. Percebi que não verei ele crescendo, nem acompanharei o trânsito que vem com ele. Me senti uma Helena com meu dilema, meu drama pessoal, meu Leblon.
Fui ao mercado pela última vez e me deu vontade de chorar quando o caixa perguntou dos meus cachorros. Meu Leblon está desafinando preciso fotografá-lo na minha Roleflex para guardar esta imagem, pois quando eu voltar não será nada igual, perderei muitas coisas, muitas histórias, muitos dramas.
Talvez eu sofra este meu dilema de Helena, por ter a mania de falar com todo mundo que eu cruzo, acho que este é um hábito de quem mora sozinha, ou de quem é curiosa. Então, deixar o meu bairro desafinando é como deixar um monte de histórias, um monte de pessoas queridas para recomeçar. Terei que criar meu novo Leblon, meu novo dilema de Helena e meu novo desafino, porque no peito dos desafinados, no fundo do peito bate calado, é que no peito dos desafinados também bate um coração.