domingo, 11 de março de 2012

Pela janela



Estou passando uns dias em Recife e percebi o que mais me encanta na cidade grande são as janelas.
Gosto da minha casa com janelas amarelas, mas dela não vejo nada, nem ninguém. Na cidade grande é diferente, vejo vidas em quadradinhos, como uma história em quadrinhos ao vivo.
Pode ser resquícios dos tempos de Copacabana na casa da minha tia Helena, onde olhar pela janela era estar perto dela. Ela me contava as novidades das vidas que ela via, me mantinha atualizada dos acontecimentos que eu perdia por morar em São Paulo, ríamos juntas da velha pelada, e lá ficávamos, pois o vento vinha gostoso, o barulho da rua era reconfortante.
Daqui, vejo um casal vendo TV, agarradinhos no sofá, tão gostoso, fico imaginando o que eles estarão assistindo. Em outra janela vejo uma senhora em uma cadeira de balanço, na varanda dela tem muitos pássaros na gaiola, deve ter um barulhinho bom de lá, mesmo sendo contra prender pássaros fiquei imaginando que delícia deve estar ali, com a brisa do mar e o barulhinho bom. Vejo também um moço se trocando, deve estar indo para uma balada numa hora dessas, colocando calça jeans neste calor e pela quantidade de camisas que trocou, deve ter mocinha na parada.
Percebo que a TV está ligada em 80% das janelas, elas são a nova maneira de satisfazer o voyeurismo.
Na janela, me lembrei de um amigo que era meu vizinho dos tempos de adolescente, tínhamos nossos horários, nos cumprimentávamos, acenávamos, até berrávamos um para o outro: "Oooooooiiiiii" e as vezes ficávamos pelo telefone horas nos vendo pela janela e conversando, era o skype dos anos 80. Pela janela conhecia a casa dele, o quarto dele e ele ao meu, às vezes mostrávamos algo específico da casa. Certa vez ele até me ajudou a escolher a roupa para sair. Era divertido.
Gosto de ver vidas acontecendo, porém ficamos cada vez mais presos à janelas digitais dos computadores e seus encantos, nas TVs e seus 200 canais e quando olhamos para fora, vejo vida real, acontecendo. Pela janela me sinto vivendo. Me sinto normal.

2 comentários:

IsABela araÚjo siLVA disse...

me lembrou aquele filme brasileiro "o homem que copiava", vc viu? vai curtir... Saudades de passar por aqui! Faz taaaanto tempo!

IsABela araÚjo siLVA disse...

me lembrou aquele filme brasileiro "o homem que copiava", vc viu? vai curtir... Saudades de passar por aqui! Faz taaaanto tempo!