quinta-feira, 23 de novembro de 2006

Ramón: cigano surdo-mudo

Verão Rio de Janeiro, 3 meses de praia, férias na faculdade.
Primeiro dia de sol, posto 4, Copacabana, vejo um moreninho, sarado, charmoso, sorridente, jogava bem frescobol, futebol, voleibol, e outros ols pela praia. Sunga boa, sem bermuda, e começou meu verão. Olhar o moreninho do posto 4.
Todos os dias chegava e lá estava ele, sorrindo, feliz, sempre sozinho, às vezes com um amigo, mas não se falavam muito. E eu? Lá charmosa olhando e me fazendo olhar pelo moreninho.
2 meses depois, perto do Carnaval, percebendo o fim do verão e o fim do meu melhor divertimento, olhar o moreninho, tinha de tomar uma atitude, ele devia ser tímido, teve 2 meses para falar comigo e nada.
Então tive a brilhante idéia de “esquecer” minha havaianas na praia e ir embora, sim, quem conhece o posto 4 sabe que não foi a melhor idéia, pois a areia é longa até a calçada, e eu iria andar 3 quarteirões descalça. E se ele não fosse atrás de mim?
Bem, mas ele foi atrás de mim com minhas havaianas. A areia já estava quente e ele me cutucou e entregou, nenhuma palavra. Pensei, Meu Deus. Que moço tímido. Quando vem um amigo atrás dele e me diz ele é surdo-mudo. Eu sorri de medo, e agora? Como vou me comunicar com o meu moreninho?
O amigo dele foi o intérprete neste primeiro momento, dei meu telefone, mas como ele iria ligar? Como iríamos nos falar?
O amigo dele foi um amor, me disse que ele se chamava Ramón e era cigano, morava num apartamento na mesma rua que a minha e era surdo-mudo de nascença e prometido para uma menina. Hãn?
Pois é, era muita informação, dei meu número e fui embora.
Na mesma tarde toca o telefone. Era a mãe dele D. Esmeralda. Sim… Esmeralda.
- Oi Renata? Aqui é Esmeralda mãe do Ramón, ele pediu para eu te ligar e ver se você quer ir ao cinema.
- Lololológico, gaguejei.
Às 6 da tarde desci e esperei por ele, imaginei que tocar o interfone, falar com o porteiro, pedir para eu descer ia ser muito sofrido para ele. fomos andando até o cinema mudos, quer dizer eu muda, e ele normal.
Fomos ver Beethoven. Legendado, para ele poder acompanhar.
Saimos do cinema e já estava até entendendo ele, pois na verdade, ele falava um pouco, assim meio fãnho e devagar. Nos entendemos.
Andamos de mãos dadas e ficamos namorando por uns 15 dias até que chegou o dia de eu voltar para São Paulo.
O nosso ritual era praia, praia, mãe dele me ligando e água-de-côco a noite. Nunca conversamos sobre a prometida, pois era um assunto difícil de se falar tendo tantas restrições de comunicação.
Posso dizer que foi um namoro tranqüilo, não brigávamos, queria xingar ele, era só virar de costas, ele não iria ler meu lábio… Foi bom.
Voltei para São Paulo e recebi uma carta dele terminando comigo e uma foto dele, que guardo até hoje para não esquecer dele, ou melhor, para não esquecer o quando se pode perder o juízo e a sanidade mental quando se trata de um moreninho.

9 comentários:

Cláudia disse...

Olha
a sogra ligando pra convidar pra ir ao cinema com o filho é algo assim pra contar no asilo de piso climatizado.
Brigar com ele devia ser igual brigar com os demais homens do mundo: a gente ali se descabelando e falando um monte eles mudos, fingindo que não entendem nada.
Pelo menos este era sincero!

Anônimo disse...

Caramba Re, esse texto ta fantastico. Adorei.
Realmente foi um namoro relampago perfeito ne, ele nem pode reclamar de nada rsrsrsrsrss (tadinho)

Anônimo disse...

"O amor é uma linguagem universal!" Brega mas verdadeiro, principalmente neste caso. ;)

Renatinha disse...

Claudia,
É a minha sogra me convidava para ir ao cinema e... ela já havia escolhido a esposa do seu filho desde o nascimento dele... as pessoas são loucas.

Pinho, que bom que vc gostou, afinal, vc é meu editor. E a melhor parte é que eu podia falar para ele: - Não quero ouvir um pio hein? hahahahh

Ana, a linguagem universal neste caso, precisava de um cursinho... mas nem deu tempo.... bjs

MH disse...

meu deus, cada uma que a gente apronta nessa vida... mas essa história é bem única mesmo! hahaha

Anônimo disse...

me pede depois para contar a historia do ceguinho para vc Re .... rsrsrs vc é fantastica...

Gastón disse...

Rê, eu nao tinha lido esse texto seu ainda!! Como assim vcs foram ver Beethoven? Hahahahahaha

Anônimo disse...

Obrigado por Blog intiresny

Flavia Coradini disse...

Ah, tbem queria ter namorado um cigano surdo-mudo no Rio. Deu invejinha dessa história, de tão fofa que ela é. Beijos