segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Conservatória

La, la, li, la, rá... Aniversário da minha mãe. Fomos para Conservatória. Cidadezinha no interior do Rio de Janeiro, que vive da seresta. Pitoresca. Idade média dos habitantes: 80. Apenas 1 farmácia. Os velhinhos cantam. Muito. O tempo todo. O que me fez concluir que: Quem canta seus males espanta.
La, la, li, la, rá... Chegamos em Conservatória a tempo de ver a seresta de sexta-feira. Que alegria. Quantas cabeças brancas felizes, la, la, li, la, rá... Músicas de 1920, algumas de 1880, as mais modernas eram de 1950. La, la, li, la, rá...
Fomos para lá, pois soubemos que nos anos 80, uma das casas da cidade foi batizada com o nome do meu avô, homenageando uma música dele que era tocada nas serestas. Música até então nunca ouvida por nós da nova geração. Geração pós boêmia. Única música dele que sobreviveu ao tempo. La, la, li, la, rá...
Acho que para viver em Conservatória você passa por um processo de audição e apresenta algum dote artístico. O dono da pousada, cantava. A esposa dele, declamava poesias. O garçom, tocava violão. Me imaginei no filme Cocoon encenado na Broadway.
Chegou sábado e com ele o aniversário da minha mãe, e logo no café da manhã, mais la, la, li, la, rá... Fomos conhecer a cidade. E achamos a tal casa batizada de "Volta" de Mario Lopes de Castro. Muitas fotos depois... A noite chegou e com ela o momento auge da viagem. O museu da Seresta, sim lá tem um museu, os seresteiros cantando "Volta" para a minha mãe. Todos se viraram só para ela. A seresta sai pela cidade. Debaixo de chuva. De novo "Volta" é cantada com todos os olhares para a minha mãe, que já não sabia aonde se esconder.
No café da manhã do dia seguinte, mais la, la, li, la, rá, e "Volta" cantada em outra versão. Fomos para a periferia, pois descobrimos que uma das casas longe do centro urbano também tinha escolhido a música de meu avô para batizar sua residência, desta vez, quem escoheu a música foram 3 irmãos de 8 a 12 anos. E lá, eles cantaram para a gente a música, novamente. Lindas crianças que conseguiram cantar uma música que a própria família do autor desconhecia. Durante 48 horas minha mãe foi celebridade, pagando muitos micos, mas numa linda homenagem ao pai dela que morreu em 1945 e ela mal o conheceu. O dia dos pais passou, com um vazio imenso, para mim, pois sempre falta alguma coisa, mas por outro lado fiquei feliz em ver que existem coisas, pessoas, sentimentos e canções que são eternas. La, la, li, la, rá...

PS. No caminho de volta desligamos o rádio, não colocamos CD. O silêncio se torna importante depois de tanta cantoria. La, la, li, la, rá...

16 comentários:

Gabriel disse...

Conservatória!!!????!!!??
Você estava há 50km da casa do meu pai onde passei o dia dos pais!!!!
Sentiu a "Vibe" do Sul do Estado do Rio??? Ar puro, seresta, gente simpática e la, la, li,la, rá...

Garotas de Vinte e Poucos disse...

Re, chique demais ganhar uma seresta, no dia do aniversário, na cidade da seresta!!
Lindo!!!
Beijo
*Lala*

-- post novo!!!

ANNA disse...

Que bacana essa experiência, mas depois de 2 dias deve dar vontade de apertar o "pause" nos velhinhos um pouco, né?

Parabéns para a sua mama!

Beijos

Fernanda disse...

Mas Rê...

Assim...adorei o post, a historia, a sua mãe de celebridade, mas...

E a música?!

Eu quero conhecer, quero ouvir, quero ver a letra...rs

Sou uma chata musical...rs, cantava na noite e ainda às vezes arrisco umas catorias no casamento de amigos...rs

E fiquei na maiioooor curiosidade pra saber da música...rs

beijos

UrbAnna disse...

Parabéns pra mamy!
Que aniversário bacana ela deve ter passado.
Tb fiquei bem curiosa a respeito da música, vc não gravou nenhuma vez enquanto cantavam a música pra sua mãe?
Beijo grande em vc.
(urb)Anna

Cláudia disse...

Re, que aniversário mais bacana e diferente! Eu adoro essa coisa de resgatar raizes, nostalgia é comigo mesmo.
Isso, posta a música pra gente conhecer.
beijo

Em te mpo: cidade cheia de velhinhos? Meu target? Devia ter ido passar o meu aniversário por lá também.

Unknown disse...

Nossa, que chique, heim?! Seu vô é uma celebridade!!!! E sua mãe agora também. Deve ser emocionante ver de perto alguém que faz parte da história daquele autor... posta a música para a gente!!!! :P
Bj

Amarilis disse...

Adorei o post! Acho que daria um bom filme... Beijão

Renatinha disse...

Amigos,
A letra da música é incompreensível... Tem uma palavra que fizemos até um bolão para quem adivinhava o significado. O que é perfídia? Quem fala isso?
A seresteira que canta, gravou uma fita K7 ( isso, K7) com o maior carinho, mas quem tem toca fitas nos dias de hoje? Só lá em Conservatória.
Obrigada pelos parabéns... Minha mãe está muito feliz.
E Claudia, vou te falar os velhinhos eram enxutos, não eram caqueticos não, a boêmia não envelhece a alma...
beijos
Re

Cláudia disse...

Re, perfídia é uma palavra que se encaixa perfeitamente em músicas de amor, na qual um é traído ou enrolado, enfim, quase todas.
Quer dizer traição, falta de honestidade e por aí vai.
Até Alceu Valença tem uma música chamada Perfídia. Sem contar os boleros latinos, de cada 10, meia dúzia tem perfidia no meio.
Ou seja, seu avô era um visionário da perfídia.
beijo

Renatinha disse...

Claudia é cultura!
Perfídias... safadinho meu avô....
olha o verso:
"E, depois, eu chorei tanto
a intensa dor,
com saudades das perfídias
desse amor só a ilusão..."

Obrigada Claudia.
beijos
Re

Dedinhos Nervosos disse...

Nossa, Rê. Bem que vc disse que seria especial. Uma cidade com esse nome, que vive de seresta, no niver da sua mãe e essa música... fiquei emocionada aqui.
:o)
Bjos.

Anônimo disse...

Que lusho hein..........
Demais isso.........
ta certo que eu me irrito com tantos la la li ra la, mas acho interessante isso
na minha familia nunca nos homenagearam com nada, q eu me lembre; sempre me senti mega vira-lata por isso, haha
e dia dos pais guria? desde pequeno pra mim era uma data qualquer q na verdade eu sempre dava um jeito de estar longe de todos. Nunca soube explicar direito o pq, mas essa data nao me tocava, nem me fazia sentir bem; eu so queria ignorar; hj superei e nao me apetece mais

Mulher Solteira disse...

"Quem tem toca-fitas hoje em dia?"

Oras... a mesma pessoa que tem TV aberta, internet discada e lembra das letras das músicas do Yahoo!

La, la, li, la, rá...

Anônimo disse...

Re, muito rígido e irônico dizer "velhinhos". Tais velhinhos tem potência e pontencialidades: para lá vamos todos nós, habituemos com a idéia. Em Conservatória, existe um trabalho sério, os seresteiros cantam por amor a arte sem qualquer remuneração e nos congratulam com um show muito bonito,gratuito, inesquecível, raro no Brasil.

Renatinha disse...

Lorena,
Desculpa, mas em nennhum momento denegri a imagem dos "velhinhos" achei lindo tudo o que vi por lá e encantador o lugar e a cultura que eles mantêm viva.
Agradeci por manterem viva parte da minha história.
Não tenho medo da velhice, acho só, que quem se incomoda tanto pelo termo "velhinhos" deve achar que estou diminuindo alguém. E em nenhum momento fiz isso... Serei uma velhinha um dia com muito ogulho...
abs,
Renata