segunda-feira, 19 de março de 2012

Ata-me


Este foi o primeiro filme que vi do Almadóvar e foi aos 15 anos. Adolescente indo ao cinema pela primeira vez com um novo namoradinho.
Não é um post sobre filmes, muito menos sobre Almadóvar e sim sobre o namoradinho em questão e o quanto morri de vergonha vendo o filme.
Certa vez em uma prova de matemática o professor faltou e um outro foi escalado para olhar os alunos. Era um moreninho simpático e novo para os padrões da escola. Devia ter seus 26 anos, no máximo. Ficou meio que me olhando, me ajudou com algumas questões da prova. Na verdade até me deu as respostas. Simpático, pensei. Meses depois ele passou a me dar aula de física. Eu estava no 2º colegial, talvez.
No final do ano, para variar, estava toda encrencada com as minhas notas, principalmente nas matérias de exatas. (exatas? ainda se fala isso?). E tive a grande ideia de chamá-lo para me dar aulas particulares depois da escola.
Ficávamos na sala da casa dos meus pais, na grande mesa de jantar estudando. Aprendi muitas coisas... Tantas que passei de ano.
Certo dia ele chegou logo após minha aula de violão, para mais uma dura tarefa de me fazer entender física. Viu meu violão. E resolveu me tocar uma música. Ainda hoje lembro a letra: "Era só uma menina e eu pagando pelos erros, que eu nem sei se cometi, ohohoh". Era início dos anos 90, ainda era moda ouvir Paralamas.
Que mestre. Isto era música para me tocar? Queria dizer tudo. Eu era só uma menina. Se ele iria pagar pelos erros ou chegar a cometê-los, queria descobrir.
Na hora constrangedora do pagamento e do adeus na porta de casa, ele me beijou e me chamou para ir ao cinema.
Nada melhor para uma menina de 15 anos que um professor de física, novinho, charmoso, carioca, que tocava violão. Eu estava no céu. Como ele era espertinho, marcou em um cinema longe do Morumbi, afinal, seria fácil encontrar algum aluno pelo shopping da região, então fomos ao Eldorado.
Acrescente até aqui, professor, mais velho e namoro proibido às escondidas. Era o céus com certeza.
Ele quem escolheu o filme, eu teria na época optado por algo entre Uma Linda Mulher e Darty Dancing. Nunca havia ouvido falar de Almadóvar, mas aos 15, o cinema era só um pretexto para ficar no escurinho, de mãos dadas e dando uns beijinhos. Será que as meninas de hoje são tão ingênuas quanto eu era?
Bem, em determinadas cenas do filme fiquei chocada, encabulada, sem graça. Ainda mais quando não se está preparada para ver algo tão adulto.
Depois do dia do cinema, as aulas continuaram eu o via na escola e não falava nada além do "oi" desengonçado, e quando terminava a aula ele passava no meu prédio para conversar comigo. Era um namoradinho legal. Educado. Não foi nada além disso, afinal ele corria o risco de perder o emprego e eu a cabeça. Ah! Se meus pais soubessem era bem provável que iriam na escola denunciar. Não, eles não iriam, mas iriam me dar a maior bronca. Com certeza.
As férias chegaram, trocamos telefones cariocas, ele também passava as férias no Rio. E um dia ele me ligou e fomos tomar sorvete no Leblon. Depois deste dia, nunca mais o vi. Foi transferido para outra unidade do colégio. E eu? Lembrei dele só hoje vendo Ata-me na TV.

2 comentários:

D. disse...

Tão bom lembrar dos momentos 'simples" que passamos mas que fizeram diferença! Me fez lembrar de tantas coisas da adolescencia essa sua historia, rs... Bj

Cláudia disse...

Gente... que vergonha, ir ao cinema aos 15 com um namorado mais velho e ver Ata-me!!!! Eu ia me enfiar debaixo da cadeira...
beijos, adoro suas histórias de adolê